"Na Sombra" só chega às livrarias esta terça-feira, 10 de janeiro, mas os conteúdos do livro de memórias do príncipe Harry já correram mundo. O filho mais velho do rei Carlos III tem-se desdobrado em entrevistas e, depois da ITV e da CBS, conversou com Michael Strahan, coapresentador do talk show "Good Morning America". Questionado sobre um possível regresso ao seu país natal, Harry foi taxativo.
"Acho que isso nunca será possível. Mesmo que houvesse um entendimento com a minha família, haveria sempre um terceiro elemento [nr: a imprensa] que faria tudo para que isso não fosse possível, não nos impedindo de voltar, mas tornando a situação insuportável", explica.
O irmão mais velho, que será futuro rei, é o principal alvo de "Na Sombra", e é sobre ele que recaem a maioria das acusações, além de ser descrita uma discussão que terminou com um confronto físico. Ao "Good Morning America", Harry reitera que foi traído pelo irmão.
"Eu e o William fizemos um pacto: os nossos gabinetes nunca iriam competir. As pessoas que ele contratou quebraram esse pacto. Sei que também sou responsável por isso, mas o que as pessoas não sabem é que me esforcei para resolver isto em privado, tanto com o meu irmão como com o meu pai", sublinha.
Tal como na entrevista ao "60 Minutes", Harry responsabiliza Camilla por passar informações negativas aos tabloides. No entanto, diz ter "muita compaixão" pela madrasta, "por ter sido a terceira pessoa no casamento" de Carlos e Diana.
"Ela tinha uma reputação, uma imagem para reabilitar. Quaisquer que tenham sido as conversas, os negócios ou as trocas feitas no início, ela foi levada a crer que essa era a melhor forma de fazer as coisas". O duque de Sussex afirma que não fala "há muito tempo" com a rainha consorte, mas que não a vê como a "madrasta malvada".
No final de 2019, e depois de uma série de situações descritas em "Na Sombra", Harry e a mulher, Meghan Markle, partiram com o filho, Archie, para o Canadá. Uma morada temporária de onde planeariam a saída das funções de membros séniores da família real britânica, o que seria oficializado em 2020.
Três anos depois, e a viver nos Estados Unidos, o duque de Sussex afirma que a instituição perdeu uma oportunidade de se modernizar com Meghan Markle, por esta ser birracial. "A minha mãe teria percebido a enorme oportunidade perdida com a minha mulher, por causa da questão da representação", explica. "Acho que o aconteceu comigo, o confronto com o meu preconceito inconsciente, eles beneficiariam muito com isso."
Harry não acreditava na morte de Diana. "Foi um mecanismo de defesa"
Harry terá assinado um acordo milionário de quatro livros com a editora Penguin Random House. O príncipe terá recebido, de acordo com o "Entertainment Tonight", entre 32 e 37 milhões de euros. Na mais recente entrevista, diz que percebe quem o critica por estar a lucrar com temas privados, mas afirma: "A única forma que eu tenho de corrigir essas falsidades é escrevendo algo — a verdade. Aceito que escrever um livro é alimentar a besta".
Sobre o processo de luto após a perda da mãe, em 1997, o príncipe diz que gostava de ter tido a oportunidade de "fazer algum tipo de terapia" ou de "pelo menos ter podido falar mais" sobre essa perda. "A minha família não sabia o que fazer e não posso dizer se outras famílias fariam melhor", diz.
Durante "muito tempo", o príncipe (que perdeu a mãe aos 12 anos) recusava-se a acreditar que Diana tinha morrido. Achava, sim, que esta estaria escondida. "Foi um mecanismo de defesa. Eu recusei aceitar que tinha sido aquilo que aconteceu". O duque de Sussex acredita que, se tivesse tudo ajuda profissional, a sua adolescência teria sido diferente.
"Provavelmente teria consumido menos drogas, teria bebido menos, saído menos à noite. Provavelmente teria feito essas coisas à mesma, mas não pelas razões que fiz. Fi-las para sentir algo ou para entorpecer um sentimento. A minha carreira militar salvou-me, literalmente", salienta. Harry esteve em duas ocasiões ao serviço do exército britânico no Afeganistão, em 2008 e em 2012.