Não está fácil para Johnny Depp: o ator acaba de ser afastado do elenco do filme "Monstros Fantásticos 3", cuja estreia está planeada para 2022. A notícia foi divulgada pelo próprio, através do Instagram a 6 de novembro, e confirmada pela Warner Bros.

Tudo isto aconteceu cinco dias depois de a estrela de "Delírio em Las Vegas" ter perdido em tribunal um processo que interpôs contra o "The Sun", tabloide inglês que lhe atribuiu a alcunha de "wife-beater" (agressor de esposas), na sequência do escândalo de violência doméstica envolvendo a ex-mulher e atriz Amber Heard.

As agressões entre o casal vieram a público em 2016, ano em que Amber dá inicio ao processo de divórcio, com relatos de situações de agressão que terá vivido ao longo do casamento. Acusou Depp de atirá-la para cima de uma mesa de pingue-pongue, arrastando-a pelo chão, com vidros, acusou-o de atirar-lhe um telefone contra a cara — falando ainda sobre alterações de humor pela ingestão de álcool e drogas, afirmando que, à data, ainda tem marcas no corpo.

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O ator não se limita a negar. Depp acusou-a de ter defecado na sua cama, de ter vários casos extraconjugais (incluindo James Franco e Elon Musk) e de várias vezes o ter agredido fisicamente — conversas de telefone gravadas e divulgadas do "Daily Mail" dão conta da atriz a assumir este pormenor.

Tem sido uma batalha longa, com um processo de divórcio e dois posteriores de difamação. Para saber, cronologicamente, todos os pormenores do caso entre Amber Heard e Johnny Depp — desde os tempos em que se conheceram, ao seu despedimento do filme "Monstros Fantásticos 3" — espreite esta cronologia

2009. Depp e Head conhecem-se 

johnny depp
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Os atores conheceram-se na rodagem do filme "O Diário a Rum", baseado no livro de Hunter S. Thompson com o mesmo nome. Aqui Johnny Depp interpreta o jornalista Paul Kemp, personagem que se apaixona por Chenault, protagonizada por Heard, por quem se sente atraído desde o primeiro momento, apesar de ela ser casada. À "Vogue", em 2011, a atriz disse: "Trabalhar com o Johnny foi tortura. Foi melhor do que alguma vez imaginei, o que realmente quer dizer alguma coisa."

2012. Começam a namorar

De acordo com o que Heard disse ao tribunal, o caso entre os dois atores terá começado "entre o final de 2011 ou o início de 2012". Os dois atores sairam de outras relações nesse ano. Depp anunciou a separação de Vanessa Paradis, com quem manteve uma relação de 14 anos, que deu origem a dois filhos: Lily Rose e John Cristopher.

Já Heard, separou-se da fotógrafa Tasy van Ree, com quem manteve uma relação entre 2008 e 2012, que, reportou o "USA Today", também teve acusações de violência doméstica: Heard terá sido presa em 2009, acusada de agredir a então namorada no aeroporto Seattle-Tacamo International, em Washington. Todas as acusações foram retiradas, com a fotógrafa a defender Heard: disse que foi "erradamente" acusada pelos dois polícias, que interpretaram mal e extrapolaram o incidente.

2014. O noivado

Suspeitas de que Depp e Heard ficaram noivos surgiram em 2014, depois de a revista "People" ter reparado num anel ornamentado que a atriz usava — e que foi descrito pelo "USA Today" como "a pedra que afundou o Titanic".  Ao "Daily Mail", o ator confirmou o noivado.

2015. O casamento

E deram o nó, vários anos depois de terem iniciado o namoro. A cerimónia foi privada e decorreu na sua casa em Los Angeles. No mesmo ano, na sequência de uma viagem à Austrália, o casal quebrou as leis de biosegurança deste país, ao não declararem os cães de raça Yorkshire terrier que trouxeram para o país. Mais tarde, publicaram um vídeo a pedir desculpa.

Maio de 2016. O pedido de divórcio

amber heard
amber heard

Um ano depois, rebenta o escândalo. Amber Heard pede o divórcio, conseguindo também uma ordem de restrição de aproximação contra o ator, alegando que Depp havia abusado dela fisicamente ao longo da relação, normalmente sob o efeito de álcool e drogas. Relatou ainda um incidente alegadamente recente: que o ator havia atirado um telefone contra ela, deixando-a sua cara marcada.

À "People", um porta-voz da polícia explicou que, pela altura, uma chamada feita a dar conta do episódio concluiu, depois da investigação, que nenhum crime teria ocorrido. Já Depp, por via dos representantes legais, negou as acusações, acusando a mulher de estar a "tentar assegurar uma resolução financeira prematura, alegando abuso."

Agosto de 2016. Um acordo de sete milhões, fora do tribunal

O caso foi a tribunal e Heard testemunhou. Porém, chegou-se a um acordo, depois de a atriz retirar a ordem de restrição de aproximação contra o ator por alegada violência doméstica e depois de anular o pedido de pensão de alimentos de 50 mil dólares por mês. Pelo divórcio, a atriz recebeu sete milhões de dólares, que doou a instituições de solidariedade, avançou a "People".

Em conjunto, o casal chegou mesmo a emitir um comunicado público: "O nosso relacionamento foi intensamente apaixonado e por vezes vezes instável, mas sempre vinculado no amor. Nenhuma das partes fez falsas acusações para ganho financeiro", lia-se. "Nunca houve qualquer intenção de dano físico ou emocional."

2017. Divórcio finalizado 

johny depp
johny depp

Um ano depois do início do processo, Amber Heard e Johnny Depp deixam, legalmente, de estar casados. Ela ficou com os tais cães que causaram o problema com as autoridades australianas, ele ficou com todas as propriedades, incluindo uma ilha privada nas Bahamas e a sua coleção de carros clássicos e motas.

No acordo do divórcio, disse o "The Hollywood Reporter", foi incluída uma cláusula específica que impedia qualquer das partes de fazer comentário negativos sobre o relacionamento e término do mesmo. Não aconteceu.

2018. A opinião no "Washington Post"

Num artigo de opinião publicado no "Washington Post" Heard falou sobre a forma como são tratadas as mulheres nos casos de violência doméstica — e sem nunca mencionar o nome de Johnny Depp. "Tornei-me numa figura pública que representa a violência doméstica e senti toda a ira que a nossa cultura tem contra as mulheres que falam abertamente", escreveu.

2019. Depp acusa Heard de difamação e pede 50 milhões pelo artigo

"Ela não é uma vítima de violência doméstica, ela é uma perpetradora", dizia o processo que o ator interpôs contra a atriz, em que negou, novamente, os crimes de abuso contra ela — acusando-a de "elaborar um embuste para gerar publicidade positiva" .

É que, ainda que o nome dele não estivesse incluído naquele artigo de opinião, o ator estaria sempre envolvido: "O artigo dependia da premissa central de que a Sra. Heard foi vítima de violência doméstica e que o Sr. Depp perpetrou violência doméstica contra ela."

A atriz detalhou vários episódios que ocorreram durante o casamento, numa ação judicial que tinha como objetivo rejeitar este processo de difamação. Referindo-se a Depp como o "monstro", como reportou a "Variety", relatou ainda ter cicatrizes nos braços e pés de um episódio em que o então marido a terá atirado para uma mesa de pingue-pongue, tendo depois arrastado a mulher por entre vidros partidos.

O processo ainda está a decorrer nos Estados Unidos.

Janeiro de 2020. As conversas gravadas

Conversas telefónicas entre o casal, em que a atriz admitiu agredido Depp, foram divulgadas pelo "Daily Mail". "Desculpa por não ter-te... batido na cara com um estalo. Mas eu estava a bater-te, não estava a dar-te murros. Querido, não foste esmurrado", cita o jornal. "Não sei qual é que foi o movimento real da minha mão, mas estás bem, eu não te magoei, não te dei um murro, estava só a bater-te."

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Também é possível ouvir o ator: "Fui-me embora ontem à noite. Porque, honestamente, juro-te, não aguentava a ideia de mais abuso físico um no outro", terá dito. "Porque, se tivéssemos continuado, e teria ficado muito mau. E, querida, eu disse-te isto uma vez: morro de medo de sermos uma cena de crime agora."

Ela terá respondido: "Não te consigo prometer que não vou tornar-me física outra vez. Meu Deus, eu às vezes fico tão zangada que perco [o controle].

Julho de 2020. O julgamento contra o "The Sun" começa 

Uma nova luta: agora contra a News Group Newspapers e Dan Wootton,  editor do tabloide inglês "The Sun", por causa de um artigo de 2018, em que lhe deram a alcunha de "agressor de esposas", numa alusão ao caso com Heard.

O julgamento decorreu no Reino Unido, durou três semanas e incluiu acusações de Depp contra a ex-mulher: relatou que esta havia defecado na sua cama, que esta o havia agredido com murros, falando ainda em casos extraconjugais, com James Fraco e Elon Musk — tudo acusações que Amber Heard nega.

A atriz voltou a acusá-lo de agressões físicas, referindo o dia em que ele lhe atirou um telefone contra a cara, tendo-a deixado marcada. Foi mais longe: disse ainda que Depp a ameaçou de morte diversas vezes.

2 de novembro de 2020. Johnny Depp perde o caso

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O tribunal decidiu a favor do "The Sun", concluindo que o jornal — que deu 14 relatos de incidentes para justificar a expressão "agressor de esposas" — agiu corretamente ao reportar que o ator era violento contra a mulher.

"O 'Sun' defende e faz campanha pelas vítimas de violência doméstica há mais de 20 anos. Vítimas de violência doméstica nunca devem ser silenciadas e agradecemos ao juiz pela sua consideração cuidadosa e agradecemos a Amber Heard pela sua coragem em prestar depoimento ao tribunal", disse um porta-voz do jornal, depois da decisão do tribunal.

Já o advogado de Heard dos Estados Unidos — onde o processo de difamação de Depp contra Heard ainda está a decorrer, devido ao artigo do "Washington Post" —  disse, em comunicado: "Para aqueles presentes no julgamento do Supremo Tribunal de Londres, esta decisão e julgamento não são uma surpresa. Muito em breve, apresentaremos ptovas ainda mais volumosas no Estados Unidos", disse. "Estamos comprometidos em obter justiça para Amber Heard no Tribunal dos Estados Unidos e a defender o direito da Sra. Heard à liberdade de expressão."

Em sentido oposto, os representantes de Johny Depp também se pronunciaram: "Esta decisão é tão perversa quanto desconcertante", disse. "O mais preocupante é a confiança do juiz no depoimento de Amber Heard e o correspondente desrespeito à montanha de contraprovas de polícias, médicos, do seu próprio ex-assistente, de outras testemunhas incontestáveis ​​e uma série de provas documentais que minaram completamente as alegações, ponto por ponto."

O comunicado explica ainda que Johnny Depp irá recorrer desta decisão. "Esperamos que, ao contrário deste caso, o processo por difamação em andamento nos Estado Unidos seja justo, com ambas as partes a revelarem informação completa, em vez de um lado estar a escolher estrategicamente quais provas que podem ou não ser fiáveis. "

6 de novembro de 2020. Depp é afastado do papel de Grindwald no filme "Monstros Fantásticos 3"

No Instagram, o ator deu conta daquilo que aconteceu a cinco dias depois de ter perdido o caso no Reino Unido, contra o "The Sun": foi afastado da rodagem do terceiro filme da saga "Monstros Fantásticos", onde interpreta a personagem de Grindwald.

"Quero que saibam que a Warner Bros. me pediu para renunciar do meu papel como Grindwald em 'Monstros Fantásticos' e respeitei e concordei com o pedido", pode ler-se. Mais: "Finalmente, desejo dizer isto. O julgamento surreal do tribunal do Reino Unido não vai mudar a minha luta para dizer a verdade e confirmo que planeio recorrer da decisão. "

O ator não vai desistir, relata. "A minha decisão continua forte e pretendo provar que as acusações contra mim são falsas", acrescentou. "A minha vida e carreira não serão definidas por este momento."

Depois do comunicado de Depp, a Warner Bros. confirmou a saída do ator à "Variety", acrescentando que o ator será substituído antes de o filme estrear, no verão de 2022. "Agradecemos ao Johnny o seu trabalho nos filmes até agora".