Judite Sousa esteve à conversa com o apresentador Daniel Oliveira para o programa "Alta Definição", emitido este sábado, 11 de fevereiro. Apesar de o intuito ser o de divulgar o seu mais recente livro, foi a morte do filho da jornalista que tomou conta de toda esta entrevista.

A pivô perdeu o único filho, André de Sousa Bessa, a 29 de junho de 2014, quando, dois dias antes, tal como Judite recorda, "caiu numa piscina e bateu com a cabeça numa pedra de granito". Nessa sexta-feira, André estava numa festa com amigos e, após o incidente, entrou em morte cerebral.

Da morte do filho à passagem pela CNN Portugal. Livro de Judite Sousa já tem data de lançamento (e promete dar que falar)
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As primeiras 60 páginas de "Pedaços de Vida", obra publicada a 23 de janeiro, são sobre André. "Eu tinha de voltar a falar do meu filho. Com este livro, encerro o capítulo da morte do meu filho", avisa, assegurando que não voltará a publicar imagens de André nas redes sociais ou a publicar mensagens sobre ele. "Com intenção de colocar um ponto final nessa parte da minha vida", disse.

"Foi o livro mais difícil que eu escrevi até hoje, que me saiu das entranhas, que me sai da alma. Tinha de o escrever um dia", declarou. "Tinha de partilhar com os portugueses coisas que eu vivi e senti", justificou, referindo-se não só a esta perda, mas também a polémicas que abordou como a cobertura da guerra na Ucrânia e da tragédia de Pedrógão Grande.

"Um testemunho avassalador" sobre o que é perder um filho

Foi assim que o classificou Daniel Oliveira nas redes sociais. O apresentador teve, por várias vezes, a iniciativa de alcançar a entrevistada para lhe dar a mão, em partes mais tensas do desabafo, que, regra geral, aconteceu de voz trémula e de lágrimas nos olhos.

Judite Sousa lembrou o momento em que chegou ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, às cinco da manhã, no qual foi confrontada por um médico, que lhe deu a notícia da morte do filho. Aos 62 anos, disse já ter estado "muito perto da morte" e, quando questionada acerca de se chegou a ponderar o suicídio, respondeu "claro que sim".

"Como é que estou viva?", perguntou, muitas vezes. "A âncora foi o trabalho. De certo modo, o trabalho também me salvou", reconhece. Diz também estar viva com a consciência de que conseguiu dar ao filho "tudo aquilo" que nunca teve. Agora, diz estar "resignada" e "revoltada".

O sofrimento, esse, não melhora — pelo contrário. "Eu sofro mais hoje do que sofri há oito anos. Não é uma dor atenuável. Eu estou cada vez pior", admite. "Porque é que eu fiquei amputada e os outros também não ficam amputados? É como se eu deseje que os outros passem pelo mesmo sofrimento que eu estou a vivenciar", exemplificou.

Judite Sousa
Judite Sousa com o filho, André de Sousa Bessa. créditos: Twitter

"Quando morre um único filho sem aviso", passa a viver com a culpa a todo o momento. "Morreu porquê? Em que é que eu falhei? Se eu não me tivesse divorciado, se calhar o André estava vivo. A culpa é minha. Ele morreu por minha culpa", pensou, muitas vezes, ao longo do processo de luto.

A depressão faz com que não consiga ter quaisquer momentos felizes e, nesta fase da vida, não se sente uma mulher amada e nem sequer gostada. "Eu perdi tudo", afirma, com um olhar vazio. Conta que, quando precisou do apoio de pessoas amigas, nem sempre o obteve.

"Tu estás mal educada, és agressiva, falas connosco como se tivéssemos culpa, tratas as pessoas mal" é o que tem ouvido, segundo a jornalista. "Estou naquela fase em que vejo os amigos do meu filho com os seus filhos. Eu nunca irei ser avó", reconhece, tentando explicar este comportamento sob o qual não consegue ter qualquer controlo.

Judite Sousa acredita que se autodestruiu após a morte de André. "Eu não teria coragem de enfrentar o meu filho. O meu filho ficaria chocado", crê, referindo-se a uma eventualidade de a poder ver nestes últimos anos. "Este livro é a verdade objetiva do que realmente aconteceu", descreve, abordando também a comunicação social.

Judite Sousa
créditos: Instagram

A pivô diz que se insurgiu "contra os colegas de profissão, que, ao longo destes oito anos, não trataram muito bem a imagem" do filho. "Eu fui muito mal tratada, porque foi construída uma imagem diferente da imagem real do meu filho. Ele era um executivo, um jurista financeiro", assegura.

"Duas semanas após o meu filho ter morrido, uma revista fez capa com a morte do André dizendo 'A vida boémia do filho da Judite'. Quando aquela revista saiu para as bancas, o meu filho não estava cá para se poder defender", relembra, deixando uma nota: "Eu li tudo".

Apesar de conseguir "entender a força e a necessidade da informação" e de perceber "como as audiências são importantes para o negócio", não compreende a forma como a morte de André foi explorada pelos media ("pessoas que me provocaram feridas psicológicas graves").

Judite Sousa nasceu no Porto e, entre novembro de 2021 a julho de 2022, trabalhou na CNN Portugal. Desde então, afastou-se do jornalismo. "Eu deixei a CNN Portugal porque estava profundamente infeliz. As circunstâncias da minha saída foram horríveis", reconhece. E sobre a perspetiva de voltar a trabalhar em televisão? "Neste momento, acredito que é impossível."

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