A atriz portuguesa Rita Pereira partilhou esta quarta-feira, 6 de maio, nas redes sociais um vídeo no qual fez um apelo para fosse dado apoio aos cabo-verdianos, especialmente crianças, que estão a passar fome. O ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, não gostou da mensagem da atriz e decidiu responder na sua conta oficial na rede social Facebook
"Querida Senhora Rita Pereira estou muito sensibilizado com o seu vídeo e a sua preocupação com Cabo Verde. Mas quero que saiba que ninguém está a morrer de fome em Cabo Verde", começa por dizer o ministro na publicação.
"Quero que saiba que 'fome' é um tema muito sensível para os cabo-verdianos e agradecíamos que não se tocasse nele assim de forma tão superficial", continua Abraão Vicente depois de falar da história do país, que efetivamente passou por períodos de fome.
O ministro da Cultura admite que ainda há pobreza em Cabo Verde, mas que a fome já não mata crianças e velhos, como acontecia antes da independência do país. A publicação acaba com Abraão Vicente a pedir que Rita Pereira retirasse o vídeo partilhado nas redes sociais.
O mesmo, publicado horas antes da mensagem do ministro, falava então sobre o panorama do país: "Há crianças a morrer de fome, mesmo aqui ao nosso lado, num país para onde os portugueses vão de férias, ser felizes e aproveitarem aquelas praias incríveis. Eu sei que há muitas pessoas em Portugal também a passar por isto, mas também há muitos cabo-verdianos a viver aqui. Se vocês puderem ajudar podemos fazer a diferença", disse a atriz, no vídeo.
A mensagem veio na sequência de um alerta dado pelo músico de origem cabo-verdiana Nélson Freitas que relatou à atriz os efeitos da COVID-19 em Cabo Verde. O ministro Abraão Vicente também referiu o nome do cantor, sobre o qual disse que "com certeza tinha as melhores das intenções" e pedindo-lhe que fizesse chegar o esclarecimento a Rita Pereira.
Depois de 65 comentários e 133 partilhas na publicação dirigida a Rita Pereira, o ministro da Cultura cabo-verdiano volta o usar o Facebook para fazer um esclarecimento esta quinta-feira, 7 de maio.
"Meu nível de interesse por polémicas é igual a ZERO. Meu ponto é simples: sim, há pobreza em Cabo Verde, sim, há famílias que passam dificuldade", diz e acrescenta num tom severo: "Como cabo-verdiano recuso-me terminantemente a comprar e a vender uma narrativa miserabilista de nós próprios. A nossa história deveria dar-nos um maior sentido de dignidade e orgulho próprio".