A 25 de novembro do ano passado, Nuno Morais Sarmento regressava à vida política. No congresso do PSD, em Almada, o antigo ministro apresentou-se visivelmente combalido. Esta quarta-feira, 10 de abril, o advogado de 63 anos revelou que esteve a combater um grave problema de saúde nos últimos três anos e que esteve à beira da morte por duas vezes.

"Pelo menos resisti". é com este frase que o antigo ministro descreve, em entrevista a Vítor Gonçalves, na RTP3, "o desafio mais difícil" da sua vida. O advogado conta que estava a recuperar de um cancro quando se iniciou uma batalha que durou três anos.

"Um primeiro ano sem diagnóstico certo, progressivamente incapacitado". Após ter perdido "um ano e meio escusadamente", Morais Sarmento foi diagnosticado com um insulinoma, um tumor no pâncreas. "Como todas as intervenções que envolvem o pâncreas, têm uma grande tendência para se complicarem e, neste caso, complicou-se."

O que é um insulinoma?

O insulinoma é um tumor raro nas células beta pancreáticas, que começam a segregar demasiada insulina. O sintoma principal é a hipoglicemia de jejum. O diagnóstico é feito em 48 a 72 horas, com a medição dos níveis de glicose e insulina, seguida de ultrassonografia endoscópica. O tratamento é cirúrgico, quando possível e, quando este procedimento não resulta, são administrados medicamentos que bloqueiam a secreção de insulina.

O insulinoma acontece em 1/250.000 indivíduos com média de idade de 50 anos.

Nuno Morais Sarmento esteve 18 meses internado. Passou por 12 cirurgias, 16 anestesias gerais e cinco meses de cuidados intensivos. "Não há muitas palavras para dizer como isto foi uma violência. Ainda hoje não me recordo de um único dia, nos últimos 3 anos, em que não tenha tido dores e sofrimento físico. Chega a um ponto em que já não se tem resistência."

O antigo ministro dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes descreve os 150 dias que passou nos cuidados intensivos como "de permanente estado limite". Nuno Morais Sarmento conta que esteve à beira da morte em duas ocasiões.

"Numa delas, o médico chamou os meus filhos para se despedirem de mim. O que é uma coisa de violência... mais para eles do que para mim", disse. Numa das ocasiões estava consciente e conta que se recorda "dos olhos" da filha, "do desespero, da zanga, da súplica". "Era um mundo de sentimentos que se via naqueles olhos. E nunca se esquece isso", relata. Casado há 36 anos com Ana Filipa de Moser Lupi, o político tem dois filhos: Francisco, de 33 anos e Madalena, de 28.

O advogado diz que "a resistência" foi sua, mas acima de tudo da mulher, Filipa. "Sem ela, de certeza absoluta não estaria aqui", conta. A família e os amigos também lhe emprestaram a "força e energia" que precisou para ultrapassar este calvário. "Foi também essa mão e esse colo que me permitiram chegar aqui".

Na entrevista, Nuno Morais Sarmento assume-se como um homem de fé, fé essa que se reforçou aquando esta experiência de quase-morte. "Tive um pé cá e um pé lá, tenho perfeita consciência desse momento. Eu não vi um túnel com luz no fundo, se calhar porque não vou para o céu e vou para outro sítio, mas o que vi foi uma realidade disforme, errada, desconstruída e que me fez resistir. Tenho perfeita consciência desse momento e isto tudo trouxe-me várias certezas positivas. E uma delas é que não acaba aqui. Não sei o que é, mas tenho a absoluta certeza de que a vida não acaba aqui", afirmou.