Consultor de moda, comentador de televisão e um comunicador nato. Pedro Crispim, de 42 anos, trata a roupa e os acessórios por tu, mas também já conquistou o seu espaço na televisão nacional. Em entrevista à MAGG, o stylist começa por falar sobre os últimos acontecimentos do "Big Brother", programa da TVI no qual é comentador, e aproveita ainda para recordar algumas memórias da adolescência, período vivido entre o excesso de peso e o preconceito.
Sobre os comentários homofóbicos proferidos pelos concorrentes do "Big Brother - Duplo Impacto", Pedro Crispim afirma que quando "as pessoas falam dos outros, estão a falar mais sobre si do que sobre os visados". "Em vez de apedrejarmos as pessoas, devemos aproveitar para debater os assuntos", disse, referindo que não julga os participantes do programa. "Atualmente, um reality show é muito mais complexo do que uma experiência descartável", frisou, acrescentando que no "BB2020" as causas foram colocadas em cima da mesa, mas na atual edição os concorrentes preferem falar sobre os comentadores.
Temos de acabar com esta herança preconceituosa
Ana Garcia Martins, também conhecida como A Pipoca Mais Doce, e sua colega no painel de comentadores levou para a gala o tema do preconceito, não deixando passar os insultos ditos pelos jogadores do reality show. Crispim refere que "a Ana foi uma senhora. Mais do que defender-me, a Pipoca acabou por defender um País", frisou. O comentador conta ainda que "quando o interesse é o debate, é sempre para o bem de todos e esse debate já vai além do Pedro Crispim". Para além disso, garante que os insultos não lhe causaram qualquer mossa, mas que "neste tipo de situações, importam as pessoas que estão em casa e podem ficar mais frágeis ainda. Temos de acabar com esta herança preconceituosa".
Ainda durante a gala em que a influenciadora se insurgiu contra os comentários a respeito do colega, o "Big Brother" pediu a Joana Diniz, uma das concorrentes que insultou Pedro Crispim, que fizesse um pedido de desculpas, mas acabou por levantar ainda mais questões. "A educação é a maior das bússolas. Ou se tem ou não se tem. Foi uma desculpa bacoca. E ainda diz que tem um caso na família, como se se tratasse de um caso de COVID-19", confidenciou o stylist à MAGG. "Ser gay é tão relevante como ter 1,86 metros de altura", afirmou, explicando que são características que nos compõem enquanto ser humano.
A opinião de Cláudio Ramos e o futuro no "Big Brother"
Cláudio Ramos, um dos apresentadores do "Big Brother" e ex-companheiro de Crispim, revelou, em direto na gala, que enquanto homossexual não se sentiu ofendido pelos comentários dos concorrentes. "Compreendi o Cláudio não se sentir ofendido, eu também não me senti ofendido. Só nos ofendem se lhes dermos esse poder, não conheço aqueles concorrentes de lado nenhum", atirou.
"Toda a minha vida cresci a ouvir coisas piores, isto foi bastante mais leve a comparar com coisas que ouvi", contou o consultor de moda à MAGG. "Preocupo-me com aqueles que estão a ver o programa e que muitos concorrentes são os seus ídolos. Muitos vão para a escola e acham que aquilo é o correto", acrescentou.
Sobre o futuro enquanto comentador, Crispim é peremptório: "Não são os concorrentes que me vão fazer desistir do projeto. Até então, nunca ninguém nos disse aquilo que deveríamos ou não dizer". O stylist confessa-se feliz por encarnar este papel no "Extra" do reality show da TVI, revelando ainda que Ana Garcia Martins lhe "dá uma contracena" que o "alimenta muito". Considera que existe um "equilíbrio" entre os comentadores.
"Cheguei a pesar 106 quilos aos 16 anos"
Num regresso ao passado, Crispim volta à adolescência, período marcado por "algumas mossas" e muito preconceito. "É uma altura em que procuramos validação exterior e, se não existe, colocamo-nos em causa. Soube que era gay através dos meus colegas. Não me sentia diferente, os outros é que me faziam sentir diferente e desconfortável", revelou à MAGG, aproveitando para brincar que tinha duas letras "G" na sua vida: "Era gay e era gordo".
"Cheguei a pesar 106 quilos até aos 16 anos", afirmou, altura em que decidiu fazer uma dieta e, aos 17, acaba até por concorrer a um concurso de manequins. "Muitos veem a indústria da moda como destrutiva, mas a mim salvou-me, foi um balão de oxigénio", frisou. Conta ainda que graças à moda percebeu que o seu padrão de beleza não estava errado e acabou por ganhar mais segurança e auto-estima.
Mas nem sempre foi fácil manter-se ativo na área da moda e da televisão, o que fez com que tivesse de procurar outras opções. Depois de ser vitrinista numa grande marca de têxtil, e de ser apresentador no "Esquadrão G" (SIC), Pedro Crispim foi lojista numa sapataria. "Tinha expectativas infundadas e achava que a televisão me ia receber de braços abertos", confessou à MAGG, acrescentando que aconteceu o oposto. "Não me resumo ao trabalho que faço e tinha contas para pagar, nunca fui de ficar encostado a nada nem a ninguém", disse ainda.
Agora, o comentador do "Big Brother" garante que trabalhar como lojista foi essencial para a carreira que construiu. "Temos de estar onde nos querem e não temos de nos impor. Sabia que era uma fase, não fiquei zangado mas custou-me", afirmou, destacando que passados alguns anos assinou coleções de calçado e esse conhecimento só o completou enquanto profissional. "Voltarei a trabalhar aqui ou ali, de forma digna, se o tiver de fazer", confidenciou à MAGG.
No que diz respeito ao "Esquadrão G", lembra que este foi um programa que se estreou na antena da estação de Paço de Arcos com o objetivo de mudar mentalidades. "Surgiu numa altura em que as pessoas estranharam muito o ADN do programa", e abordou "tópicos sobre os quais as pessoas não estavam informadas", recordou, explicando que se o formato regressasse em 2021 seria mais bem recebido pelo público.
Atualmente, para além de comentador, Pedro Crispim é consultor de moda e criador do Atelier Styling Project, projeto que lançou em 2010 e no qual reúne serviços de informação na área da moda e imagem. No final da conversa, reiterou que a moda é o seu "ponto de partida e ponto de chegada".