Woody Allen está de regresso à ficha técnica de um filme inteiramente em francês.“Coup de Chance” estreou-se na segunda-feira, d4 de setembro, no Festival de Cinema de Veneza, e retrata a ligação de dois jovens que leva à infidelidade conjugal e, no final, ao crime. Este projeto, a 50.ª longa-metragem de Allen, representa a ligação feita entre o cineasta e o país francês, depois das controvérsias que levaram os Estados Unidos a limitarem o seu financiamento.

Os alegados abusos sexuais por parte da filha adotiva, Dylan Farrow, em 1992, foram um grande motivo do corte financeiro. Em entrevista à "Variety", o realizador voltou a negar a veracidade das acusações, retratadas também na série documental da HBO "Allen v. Farrow".

"Allen v. Farrow". O documentário que recorda as acusações de abusos sexuais a Woody Allen
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"A situação foi investigada por duas pessoas, dois grandes organismos, não pessoas, mas dois grandes organismos de investigação. E ambos, após longas e detalhadas investigações, concluíram que não havia mérito nestas acusações”, referiu Woody Allen. No Festival de Cinema, o cineasta foi confrontado com um grupo de protestantes, que passavam pela estreia do filme.

No entanto, Woody Allen não se escapou de ser “cancelado” por todo o Mundo, sofrendo as consequências desta cultura, movimento que organiza um boicote virtual que pretende fazer esquecer quem se está a atacar. Quando questionado sobre se alguma vez se sentiu cancelado, Allen revela que não pensa nisso.

“Acho que se vamos ser cancelados, esta é a cultura (cinema) pela qual devemos ser cancelados. Acho isso tudo tão disparatado. Não penso nisso. Não sei o que significa ser cancelado. Sei que, ao longo dos anos, tudo tem sido igual para mim”, disse na mesma entrevista.

Woody Allen acredita ainda que qualquer movimento que traga benefícios reais para as mulheres é bom, sendo a favor do movimento Me Too — movimento esse que foi amplamente atacado pela filha adotiva, uma vez que não percebia o porquê de um movimento feminista deixar-se apoiar pelo seu pai.

No entanto, o cineasta destaca que também existem problemas no que toca ao movimento. “É uma tolice, sabe, quando não é realmente uma questão feminista ou uma questão de injustiça para com as mulheres. Quando se está a ser demasiado extremista ao tentar transformá-lo num problema quando, na verdade, a maioria das pessoas não o consideraria como uma situação ofensiva”, conta à Variety.

Devido ao corte financeiro, “Coup de Chance” poderá ser o último projeto do realizador. Aos 87 anos, não tem a certeza se quer continuar a esforçar-se para encontrar apoio. "Não sei se tenho a mesma vontade de sair e passar muito tempo a angariar dinheiro."

Nos dias 13 e 14 de setembro, o norte-americano irá estar em Lisboa, no Campo Pequeno, para atuar com a banda New Orleans Jazz Band. No dia 14, irá também passar na Cinemateca, onde estará presente no evento “Gravidade Zero”, uma sessão de conversas com o humorista Ricardo Araújo Pereira e com entrada gratuita. Às 15 hors, será exibido o filme “Manhattan”, de 1979.