Estávamos em 1993 quando o realizador Woody Allen foi acusado, por Mia Farrow, de abusar sexualmente da filha adotiva, Dylan Farrow, na altura com apenas 7 anos. O que se seguiu foi uma avalanche mediática que, ao longo de mais de 20 anos, contou com um silêncio de Hollywood, à medida que várias investigações procuravam traçar um desfecho conclusivo.

De um lado da barricada, Mia Farrow insistia nas acusações; do outro, Allen negava-as. Pelo meio, dois tribunais e várias equipas médicas diferentes concluíram, tal como o realizador refere no seu mais recente livro "A Propósito de Nada", que não tinha havido qualquer caso de abuso e que a criança em questão era constantemente manipulada pela mãe.

"Allen v. Farrow", o documentário que chega à HBO esta segunda-feira, 22 de fevereiro, parece oferecer outra perspetiva posicionando-se a favor da atriz. Até porque, uma das pessoas convidadas a dar o seu testemunho em frente às câmaras é Dylan Farrow, agora com 35 anos, já casada e mãe.

No entanto, a possível (e única) conclusão a que a produção chega só é possível porque não há contraditório, já que Woody Allen, Moses Farrow (filho adotivo de Farrow e Allen) e Soon-Yi Previn, a atual mulher do realizador e filha adotiva de Farrow, não aceitaram participar no documentário nem em dar a sua versão dos factos, há muito documentada.

Scarlett Johansson: "Acreditar em Woody Allen não significa que não apoie as mulheres"
Scarlett Johansson: "Acreditar em Woody Allen não significa que não apoie as mulheres"
Ver artigo

Composto por apenas quatro episódios, "Allen v. Farrow" recupera a relação da atriz com o realizador de filmes como "Manhattan" e "Annie Hall" e explica de que forma se desenrolou a investigação e todo o julgamento de um caso que ainda hoje divide a opinião pública — especialmente agora no rescaldo do movimento #MeToo que fez com que figuras como Natalie Portman, Shonda Rhimes ou Oprah Winfrey demonstrassem, publicamente e pela primeira vez, estar do lado de Farrow.

Para a crítica internacional, o documentário é polémico e pode servir de mote para uma nova vaga de discussão sobre o caso e da cultura de violação. "Deixa Dylan, agora com 35 anos, casada e mãe de um filho, finalmente desenvolver a sua história. E lembra-nos da enorme e grave cultura de negação e hipocrisia que existe na nossa cultura relativamente ao abuso sexual e ao incesto", lê-se na crítica publicada pelo "Boston Globe".

No entanto, o jornal britânico "The Guardian" aponta que "a reportagem que se vê ao longo do documentário é insuficiente para ser capaz de provar a culpa de alguém". Apesar disso, avalia-o positivamente enquanto produto documental que recupera um dos casos mais mediáticos de Hollywood.

Os quatro episódios de "Allen v. Farrow" chegam na madrugada desta segunda-feira, 22 de fevereiro, à HBO.