A gala dos TheFork Awards, que aconteceu esta segunda-feira, 18 de novembro, não quis só marcar a diferença nos prémios atribuídos. Depois de segmentar este reconhecimento nos restaurantes que abriram nos últimos 12 meses, dando assim visibilidade a projetos novos — com o ÀCosta de Olivier a ser o mais votado pelo público e eleito como a melhor abertura de 2024 —, a cerimónia no Convento do Beato, acompanhada de um jantar, colocou o destino (ou o paladar) dos cerca de 200 convidados nas mãos talentosas de cinco mulheres.
O menu da gala foi então um tributo ao talento feminino na cozinha portuguesa, com um menu de autor desenhado pelas chefs Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares, e ainda com a presença de Elisabete Ferreira, considerada recentemente a A Melhor Padeira do Mundo pela União Internacional de Panificação e Pastelaria, que deslumbrou tudo e todos com o seu pão de Gimonde.
E a presença deste grupo de cinco chefs não foi uma feliz consequência, mas sim uma intenção para salientar o crescente impacto das mulheres neste setor.
"Há muitos setores onde as mulheres já dominam, mas não é o caso da restauração e dos chefs de cozinha. Quando olhamos para a alta cozinha, principalmente, para uma cozinha de chef, digamos assim, continuamos sem ver muitas mulheres. E quisemos dar esse passo aqui, pareceu-nos interessante dar visibilidade às chefs", referiu Sérgio Sequeira, Country Manager Iberia do TheFork, em declarações aos jornalistas.
"É raro termos só mulheres a cozinhar"
Na azáfama da cozinha, o foco era só um: servir um menu que mostrasse as várias vertentes da gastronomia portuguesa, mas também que as mulheres são uma presença cada vez mais notória no setor. Embora seja também verdade que é quase inédito ver um evento de uma envergadura como os TheFork Awards a ser preparado apenas por chefs.
"Sinto-me honrada por partilhar a cozinha com estas mulheres de espírito forte. É raro termos só mulheres a cozinhar, fico muito grata por terem-nos escolhido para fazer este evento e termos este peso da responsabilidade, porque somos obviamente tão capazes como os homens de fazer isto", refere Marlene Vieira, chef de restaurantes como o Zunzum Gastrobar e o Marlene,.
A chef, que teve a seu cargo o prato de carne, uma costela de vaca assada com tarte de cebola e aipo, não esconde que há um peso e um objetivo ao escolher apenas mulheres para liderar uma cozinha. "Acho que é importante estarmos todas aqui hoje para reforçar esta presença feminina na cozinha portuguesa e em várias vertentes, desde a regional à alta cozinha, a padaria, a pastelaria. Ou seja, estão aqui várias frentes, que mostram que há uma versatilidade das mulheres na cozinha."
Quanto ao panorama atual na cozinha, ainda muito marcado pelo sexo masculino, tanto na cozinha como nos prémios, Marlene Vieira consegue ver diferenças. "Já existiram mais entraves [a ter mulheres na alta cozinha], hoje existem menos, mas há alguns. Mas se houver vontade, é possível. É um mundo muito marcado por homens, e darem-nos esta mão é um passo em frente na direção que queremos ir, e mostrar que somos fortes em várias áreas da restauração", conclui a chef.
"Temos a mesma capacidade que os homens, às vezes até temos mais"
Do outro lado da bancada, Justa Nobre, um ícone da restauração nacional, teve a seu cargo a sua famosa sopa de santola. E embora confesse que gosta é de trabalhar, com todos, sejam homens ou mulheres, não esconde uma felicidade em partilhar uma cozinha no feminino.
"Estou feliz por este evento ser feito só por mulheres. Temos a mesma capacidade que têm os homens, às vezes até temos mais, fazemos mais coisas ao mesmo tempo. E nós, mulheres, gostamos disto, desta adrenalina", refere a chef do restaurante O Nobre.
"O mundo está em movimento, em crescimento. A evolução da cozinha tem sido incrível e temos de acompanhar. Eu, pelo menos, gosto de me manter atualizada. E gosto de ver as minhas colegas, mais jovens, crescerem, sobressaírem e fazerem um trabalho fantástico. Que eu qualquer dia arrumo-me, e quero vê-las a crescer", disse Justa Nobre.
O menu do jantar ficou completo com as propostas de peixe de Ana Moura, do Lamelas, uma lula recheada com migas de grelos e pasta de ovas, e também com a sobremsa vegan de Sara Soares, do CAOS - O Futuro é Vegetal, que trouxe um entremet de cenoura, caramelo de especiarias e mousse de amêndoa com sorbet de cenoura. Elisabete Ferreira ficou encarregue do pão de Gimonde.