Há quatro anos abriu uma mercearia no Porto, numa altura em que comprar a granel ainda não tinha regressado do passado para o presente, em que dávamos ainda pouca atenção ao flagelo do plástico e em que não comíamos manteiga de amendoim às colheradas.

A Maçaroca Mercearia Viva instalou-se na rua São João Bosco em 2017 e desde então que revolucionou tudo isto. Hoje em dia tem mais de 600 produtos biológicos a granel — desde a aveia (uma das que mais sai), passando pelo café torrado no próprio espaço e moído pelos clientes consoante o que pretendem, até à granola caseira —, e uma inacreditável máquina para fazer manteigas de frutos secos.

"Comprámos uma máquina de fazer manteiga de frutos secos na hora. Começámos pelo amendoim, mas depois há pessoas alérgicas ao amendoim e a outras coisas e alargámos o leque semanalmente. Começamos a semana com amendoim, passa a amêndoa, depois a amêndoa com chocolate, depois avelã e avelã com chocolate. E temos um mix com caju", explica José Peixoto à MAGG, um dos responsáveis do espaço que tem também como sócios Emanuel Branco e Luís Ferreira.

Gaya Veggie Market. A nova mercearia de Telheiras com produtos fora do comum e talho vegan
Gaya Veggie Market. A nova mercearia de Telheiras com produtos fora do comum e talho vegan
Ver artigo

Este é um dos pontos de destaque da mercearia mas há muito mais e é o nome que dita o conceito que é mantido desde inicio. "[Maçaroca] tem um bocado que ver com algo que vem de traz e é questionável. O milho, o trigo e a soja sofrem mundialmente porque são sempre vistos como os maus da fita por causa dos organismos geneticamente modificados (OGM) da agricultura convencional. Sabemos que o milho é um produto português com muita tradição e achámos que devia voltar ao sítio que merece. Quisemos mostrar que não pode haver medo e aqui não há transgénicos", refere o proprietário da mercearia.

Além disso, como os grãos do milho estão bem juntos e a ideia da Maçaroca é representar a união, o nome não podia ter calhado melhor. "Levar à união de todos. Todos juntinhos dava um produto melhor", brinca José sobre a ideia do projeto.

A união vai de dentro para fora, uma vez quem passa na Maçaroca Mercearia Viva pode levar centenas de ingredientes da loja a granel dentro dos seus frascos (ou em sacos reutilizáveis no caso dos legumes e frutas frescas), detergentes a granel — que podem ser recolhidos numa inovadora máquina (e, pelo que José Peixoto sabe, única em Portugal) que permitiu substituir cinco a seis bidons de vinte litros que anteriormente chegavam à mercearia — e outros tantos produtos a pensar no planeta e na ideia de que se todos evitarem embalagens descartáveis, o mundo pode mesmo mudar.

Isso vai acontecendo aos poucos com a ajuda da mercearia do Porto, mas a verdadeira revolução faz-se no laboratório.

Caramelo de banana? O que raio andamos a perder?

Além da loja piloto, a Maçaroca Mercearia Viva tem um espaço dado a experiências e as cobaias deste laboratório — em que todas as formulas são seguras — são os clientes. "É mais um tentáculo que mostra diferentes abordagens dos produtos da loja", refere José. Além disso, uma vez que a mercearia trabalha com produtos biológicos, nem sempre estão nas condições perfeitas para consumir ao natural, mas estão no ponto para usar no laboratório, como aconteceu há pouco tempo.

"Houve umas chuvas na zona mais a norte e, como trabalhamos com pequenos produtores, chegaram-nos com pêra rocha e maçãs com marcas pretas por fora. Transformámos em sobremesas", diz, referindo-se, por exemplo, às maçãs que passaram a tarte de maçã, a geleias e ainda a sidras.

Estas e outras receitas do laboratório são da autoria de José Peixoto, que apesar de formado em Economia está à vários anos ligado à área da restauração, e do chef Tiago Sousa, que já trabalhou desde a Bélgica à Dinamarca e está familiarizado com fermentados e pão. No que diz respeito a fermentados, a mercearia acabou de lançar, por exemplo, kimchi (condimento típico da Coreia) de melancia, feito com melancia, sal, pimenta caiena, paprika fumada e tomate seco, também o chucrute Maçaroca e pickle de cogumelos.

Sobre os novos lançamentos, os óleos de alface e de cebolinho são mais duas criações ousadas da Maçaroca Mercearia Viva e há outra que nos chamou a atenção: caramelo de banana que tem um só ingrediente — banana. Tentámos saber como é feita, mas José não quis revelar-nos o segredo. A única hipótese que deixa é comprar um dos potes e provar à nossa maneira em casa ou testar no próprio laboratório numa sobremesa que leve este caramelo misterioso sobre o qual apenas sabemos que é feito sem a casca (essa é usada noutros pratos).

Isto porque do laboratório saem também pequenos-almoços, almoços e até jantares. Tudo o que é confecionado Maçaroca Mercearia Viva foi pensado para levar para casa, mas quem não consegue esperar nem mais um minuto pode comer no local. A ementa varia semanalmente ou consoante os produtos de pequenos produtores que chegam à mercearia.

Ainda assim, é certo que ao pequeno-almoço vai encontrar overnight oats, com compota de frutos vermelhos, pêssegos em calda e lascas de coco (6€), panqueca doce de trigo sarraceno (6€) ou salgada, com curgete (6€) e meia de leite vegetal para completar (1,70€). No chamado grande almoço há também pratos fixos, como o gaspacho de tomate e melancia (3,50€) e a açorda de legumes (7,50€). No final, uma fatia de tarde de maçã (3,50€) ou gelado de iogurte, com calda de malagueta (2,50€).

Sendo que os fermentados são característicos na casa, não podia faltar nas bebidas uma limonada probiótica (2€) ou, se preferir, a bebida que significa mesmo fermento: kvass (2,50€), cujo aspeto é semelhante a uma cerveja.

As coisas MAGGníficas da vida!

Siga a MAGG nas redes sociais.

Não é o MAGG, é a MAGG.

Siga a MAGG nas redes sociais.