Em 2019, em plena pandemia, o enoturismo Mainova começava a dar os primeiros passos. Hoje, a marca já tem disponíveis no mercado 13 vinhos e dois azeites, e organiza, na adega, visitas inesquecíveis, assim como jantares. Quem está por detrás deste projeto?
Num meio dominado pelos homens, foi Bárbara Monteiro quem assumiu as rédeas do projeto familiar. Natural de Fátima, vivia, estudava e trabalhava em Lisboa desde os 17 anos. "Trabalhei sempre na área de marketing e comunicação, que era aquilo de que eu gostava e gosto", contou à MAGG. "Os meus pais não sabiam bem o que eu fazia", recorda.
"Os meus pais tinham uma propriedade no Alentejo onde plantaram vinho e olival durante 15 anos. O objetivo deles era criar uma marca, mas acharam que estavam velhos e que já não tinham idade para se lançarem a isso, e também porque tinham outro negócio", adiantou.
As três filhas foram confrontadas quanto ao futuro da Herdade da Fonte Santa, em Arraiolos. "Perguntaram-nos se alguma de nós gostava de abraçar este projeto e não houve interesse por parte de nenhuma", relembra Bárbara, a filha "mainova", que apenas em 2019 decidiu dar uma hipótese a esta herança.
"Senti que isto poderia ser uma oportunidade para mim. Já estava um bocadinho saturada de Lisboa, do estilo de vida de correria, e isso também me fez mudar. Além disso, tinha a parte de branded, de criação de marca, de que gostava muito", justifica a empresária de 32 anos.
"O que começou por um gosto hoje é uma paixão"
Bárbara Monteiro fez as malas, deixou a capital e rumou ao Alto Alentejo. Desde então, toma conta da herdade e do negócio, que agarrou sem ter qualquer formação na área. "A receptividade não foi logo a melhor" quanto às suas ideias, existindo algum preconceito, que não tardou a desvanecer.
"O meu crescimento não teve nada que ver com isto, foi noutra direção, mas este gosto sempre esteve presente", garante, recordando os momentos, na infância, em que ia com a avó "apanhar azeitona e uva". "Temos um background, dos meus avós, muito ligado ao campo e os meus pais sempre tiveram esta paixão", explicou, à MAGG.
E "o que começou por um gosto hoje é uma paixão", que descreve como "um desafio constante". "Comecei a fazer formações na área, a saber mais, a pesquisar mais, a acompanhar a parte do campo e a perceber como funcionava", nota, na altura em que criou o enoturismo Mainova.
Hoje, mora em Évora com as duas filhas e o marido, também ele envolvido no projeto. "É uma dificuldade, porque estamos longe do apoio familiar. Essa parte custa mais", reconhece, já que o restante núcleo permanece em Fátima, incluindo os pais, que detêm um negócio de cerâmicas.
"Uma marca que brinda ao futuro sem nunca esquecer a herança, tradições e verdades do passado"
Na Mainova trabalham apenas com castas nacionais. A apanha é manual e a vindima noturna, da meia noite às 8 da manhã, "porque a uva não chega a aquecer". "Sempre tentámos que as práticas fossem amigas do ambiente", atenta Bárbara, contando que aproveitam o auxílio das ovelhas dos vizinhos em vez de recorrerem a herbicida.
"O foco era ter um equilíbrio: retiramos da terra, mas também tentamos dar", continua, reforçando este "cuidado de respeitar", que passa também por optarem por garrafas 100% recicladas e fabricarem as caixas do embalamento com o material de florestas protegidas.
Nos 200 hectares da Herdade da Fonte Santa ("porque havia uma fonte onde os habitantes vinham buscar água que supostamente curava maleitas dermatológicas"), 20 estão preenchidos com vinha e 90 são de olival (existindo oliveiras com mais de dois mil anos). Atualmente, é possível fazer provas de vinhos e de azeites na Mainova.
Por 30€ por pessoa, pode visitar a herdade, degustar três vinhos e uma tábua com queijos e enchidos regionais. Para experimentar o dobro dos vinhos paga 50€. Se quiser conhecer o azeite pode fazê-lo por 25€ por pessoa (quatro azeites extra virgem) ou por 45€ (mais dois), tal como a visita e a tábua. Não consegue decidir-se? Prove o vinho e o azeite por 60€ por pessoa.
Todos os vinhos podem ser adquiridos em garrafeiras, restaurantes e na loja online. A possibilidade de terem alojamento não é descartada: "a longo prazo, gostávamos de conseguir lá chegar". Uma vez por mês, terão jantares feitos pelo chef João Narigueta, do restaurante Híbrido. O primeiro, para até 28 pessoas, acontece já a 6 de março.
"Uma marca autêntica, inovadora, sustentável, que brinda ao futuro sem nunca esquecer a herança, tradições e verdades do passado" é como descrevem a Mainova.