
A cinco quilómetros da Vidigueira, rodeada por um manto verdejante composto por vinhas, está a Herdade Grande, uma propriedade com 350 hectares que viu nascer e crescer várias gerações da família Lança — já lá vai mais de um século.
Esta empresa familiar alentejana tem uma histórica tradição no setor agrícola e na viticultura. Entre 1920, data em que se instalaram, e 2025, têm tirado o maior proveito daquilo que a terra lhes dá. Em 1997, deram um passo importante: começaram a engarrafar vinhos com marca própria.
O legado da família Lança
É também isto que a Herdade Grande representa. A história dela começou a ser escrita em 1920, quando o bisavô Ernesto a tornou o seu lar. António Lança é o atual proprietário. Agrónomo, restruturou as vinhas existentes e deu o salto para a comercialização que evidenciaria o potencial do vinho aqui desenvolvido.
Mariana, a mais nova de três irmãs, cresceu entre videiras e seguiu as pisadas do pai, do avô e do bisavô. Agrónoma e mestre em Viticultura e Enologia, foi desde sempre apaixonada pela herdade. Em 2011, o pai convidou-a para assumir o futuro do projeto. Desde então, tem sido a sua dinamizadora.

Ouvir Mariana Lança falar da Herdade Grande é como testemunhar uma mãe a gabar-se do seu bebé. O brilho nos olhos com que conta a história do que passou e antecipa aquilo que ainda virá não deixa margem para dúvidas acerca do significado que esta herança tem para os Lança.
O Alentejo engarrafado
Nada mais nada menos do que a proposta deste projeto há 30 anos. Com dezenas de hectares de vinha e de olival, veem-se abençoados pelo micro-clima caraterístico da Vidigueira, uma das oito sub-regiões DOC do Alentejo. Este garante dias quentes e noites mais frescas.
As amplitudes térmicas elevadas favorecem a produção de vinhos, assim como os "solos com um lado mais mineral", a disposição "estilo vale" e as "diferentes orientações" das vinhas. "É um Alentejo especial", acredita a enóloga Ana Moura, que, a par com Diogo Lopes, o enólogo da casa, se esforça por conservar as castas regionais.
"A vindima é de madrugada para que a colheita seja garantida à melhor temperatura, para a fruta chegar à adega nas melhores condições. E sendo mecanizada, tem a agilidade necessária para isso e permite responder também à escassez de mão-de-obra", explica-nos, enquanto nos apresenta a adega, com 500 toneladas de capacidade máxima. Os solos, outrora cinzentos, são agora uma mistura deste tom e de burgundy (também conhecido como "cor de vinho"). Já o cheiro é como que o de uma garrafa sem rolha.
Atualmente, têm uma capacidade de produção de 400 mil garrafas (70% tintos e 30% brancos), entre castas nacionais e internacionais — até mesmo as improváveis, como o Sousão e a Tinta Miúda. Neste cantinho do Baixo Alentejo, a tradição do vinho de talha perdura.
A oferta vitícola prende-se, neste momento, por cerca de 10 rótulos brancos e outros 10 tintos. A prática da homenagem é um denominador comum em todos eles. Seja para honrar as mulheres, o cão da família ou artistas, contam uma história em cada criação.

O Herdade Cacau Tinto 2021 (5,72€) veio eternizar o labrador preto que, em 2022, deixou de estar presente em corpo, mas que está para sempre em espírito. Para dignificar a causa, 1% das vendas reverte para a Associação São Francisco de Assis – Cascais, que luta pela proteção dos animais de companhia, abandonados ou perdidos.
Além disso, dispõem de vários rótulos em tributo à mulher alentejana, "uma nobre força de trabalho que é igualmente génese e âncora da família". O Herdade Grande Rosé (9,04€), o Dama do Monte Tinto 2018 (9,04€) e o Dama do Branco Branco 2020 (9,04€) nascem dessa premissa.
Também o azeite virgem extra Herdade Grande entra para este leque de homenagens no feminino (motivadas por Mariana Lança, a primeira mulher em quatro gerações a estar à frente do projeto), já que é adornado por um rótulo que destaca o chapéu de palha e o lenço tradicional que protegem as camponesas alentejanas.

"Temos de lutar para que o nosso azeite seja reconhecido da mesma forma que o vinho já é. Acreditamos que são duas culturas muito fáceis de conjugar e que é uma boa forma de valorizar o que é nosso", diz-nos a diretora geral, justificando esta investida no azeite.
Também o Herdade Grande Clássico, o primeiro vinho a ser lançado, tem uma nova imagem. À gama pertencem ainda referências como o Sousão 2020 Tinto (21,54€), o Roupeiro 2020 Branco (11,84€) e o Tinta Miúda Tinto (22,49€). Encontra-as a todas na loja online.
Viver a Herdade Grande na primeira pessoa
A Herdade Grande aposta em experiências genuínas, que permitam aos visitantes ficarem a conhecer melhor a génese deste projeto. A oferta vai desde provas a piqueniques ao pôr do sol. As provas de vinhos, que incluem visita guiada pela adega e vinhas, custam entre 16,50€ e 100€ por pessoa, consoante as referências em prova.

Já as cestas de piquenique, que surgem com tudo o que é preciso, são 46€ por pessoa (mínimo duas), com água, Herdade Grande branco, tinto ou rosé, café e snacks como croquetes, pastéis de bacalhau, queijos, pão regional, paio, saladas, porco ou frango, fruta da época e biscoitos ou pastéis de nata. Já a cesta gourmet, por 75€ por pessoa (mínimo quatro), traz vários vinhos premium.
Estes momentos são dinamizados numa zona de barragem, com um espelho d'água que torna a envolvência (ainda) melhor. Os petiscos, preparados por Teresa, a cozinheira da casa desde sempre, são sempre típicos. "Nunca fugindo muito daquilo que é a gastronomia alentejana: comida confortável, muito origem", descreve a diretora geral.
Além destes almoços e provas, que reforçam o enoturismo, organizam eventos privados como festas de anos ou convívios de empresas. Para o futuro, têm em mente um projeto de alojamento. O objetivo derradeiro da Herdade Grande? "Trazer uma experiência diferente daquilo que é o Alentejo comum".