Branco, tinto ou rosé, há sempre pelo menos uma destas garrafas de vinho em casa. Se antes podia ser aberta com o pretexto de ter convidados, em quarentena basta um risotto para abrir um branco ou simplesmente para confortar a alma a qualquer hora do dia.

Desde que estamos confinados em casa crescem os relatos de quem diz que nunca bebeu tanto vinho — até porque agora nem precisa de pensar se vai ter de conduzir.

O problema é que tipo de vinho anda a beber. Falamos da qualidade, não da marca, mas sim se o vinho mantém as propriedades originais que conferem o sabor autêntico que deve sentir e para isso é preciso conservá-lo corretamente. Melhor do que nós, só uma especialista em vinho para indicar como deve fazer, por isso falámos com Bárbara Quiroga, brand ambassador da marca Adega Mayor.

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No Facebook e Instagram a marca de vinhos tem transmitido todos os sábados, às 18 horas, sessões Wine Expert, que ensinam tudo sobre o universo vinícola — agora tão em voga, porque hoje em dia mais do que degustar um copo, há quem goste de saber o que está a beber.

Das sessões para a MAGG, Bárbara explica como deve conservar o vinho em casa. "Simples, numa garrafeira", pode estar a pensar. E sim, pode ser tão simples quanto isso, mas não está a tirar o melhor partido dos vinhos que tem em casa. Revelamos tudo.

Qual o melhor lugar para guardar o vinho em casa?

Tem o vinho no armário? Ótimo. Porém, se o armário não é fechado, esta não é a melhor opção. Os vinhos devem ser conservados num espaço escuro, protegido de luz solar directa e de iluminação artificial, de acordo com Bárbara Quiroga. Caso não tenha um armário fechado, pode, em alternativa, guardar as garrafas numa caixa ou tapá-las com um pano.

O que interessa é que esse espaço esteja isolado e afastado de alimentos ou produtos com aromas fortes, que podem ser absorvidos pelo vinho — por isso, não é boa ideia ter o queijo de cabra ao lado da garrafa de vinho que comprou no mesmo dia.

As caves de vinhos, para quem tem essa opção, são também um bom local de armazenamento. "A temperatura deve ser fresca, idealmente a 12ºC e, muito importante, deve ser constante ao longo de todo o ano", explica a brand ambassador da Adega Mayor.

Seja num armário ou numa cave, Bárbara alerta para a importância de ter a humidade, idealmente, a 70%. Porquê? "Para evitar que a rolha seque e entre ar na garrafa, já que o ar vai alterar as boas características do vinho", explica.

Quanto à posição, o vinho encetado deve estar deitado de forma a que o mesmo esteja em contacto com a rolha para facilitar o processo de oxigenação e para que, se o vinho tiver deposito, este concentre-se no corpo da garrafa, de acordo com o sommelier Rodolfo Tristão, autor do livro "Saber Beber Vinho".

Um bom armazenamento de vinho não discrimina marcas, os métodos descritos devem ser aplicados a qualquer uma, mas podem diferir de tipo. Isto porque "nem todos os vinhos melhoram com o tempo, depende muito da qualidade e da região onde são produzidos", refere Bárbara Quiroga.

Conhece a expressão "ganhar pé"? É o que acontece quando os vinhos não têm uma boa estrutura e concentração para envelhecer corretamente. Este processo exige tempo e as características certas: "O álcool, o açúcar e a acidez funcionam como uma espécie de armadura contra o envelhecimento do vinho", refere Bárbara Quiroga.

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No momento de servir o vinho

Abrir uma garrafa de vinho nunca é um processo simples. Quer porque o jeito para abrir não é o melhor quer porque há demasiados cuidados a ter antes de chegar à mesa — por forma a garantir a máxima qualidade.

Antes de servir um dos vinhos reservados deve então seguir alguns procedimentos: "Deve colocar a garrafa na vertical um dia antes para que os sedimentos fiquem no fundo da garrafa", explica Rodolfo Tristão. O sommelier indica ainda que quer se trate de um branco, tinto, espumante ou champagne, caso queira abrir uma das garrafas deve colocá-la no dia anterior no frigorífico. Mas até aqui é preciso obedecer a algumas regras, de acordo com Rodolfo Tristão, responsável pelo blogue "Poetas do Vinho". Tome nota: 

  • Vinhos espumantes, brancos e rosés jovens e frutados, deve tirar aquando do serviço;
  • Vinhos brancos estagiados em madeira ou vinhos antigos, seja espumantes ou champagnes, retirar 15 minutos antes para não estar muito frio;
  • Vinhos mais antigos precisam de uma temperatura mais elevada;
  • Vinhos tintos devem retirar 30 minutos para que consiga estar pelo menos entre 15ºC a 17ºC;
  • Vinhos fortificados, como Porto, Madeira, Carcavelos, Moscatel de Setúbal ou Favaios, deve colocar sempre no frigorífico para que aprecie os mesmos entre 10ºC a 12ºC.

Vinho no frigorífico. Sim ou não?

Aqui não há uma resposta linear, porque tudo depende do vinho em questão: "Se for um espumante, um vinho branco ou rosé, vinhos mais sensíveis, vão conservar-se melhor se colocarmos as garrafas no frigorífico. No caso de um vinho tinto ou um vinho licoroso, basta deixá-los num local fresco e, se possível, escuro", esclarece a brand ambassador da Adega Mayor.

Seja branco ou tinto, Rodolfo Tristão deixa uma nota: "Colocar na porta do frigorífico sempre que não beba a garrafa toda. O frio faz com que a evolução do vinho seja mais lenta".

Coloca-se agora outra dúvida: que rolha usar para conservar uma garrafa que foi aberta? Esta é uma "não questão" se em casa tem sempre alguém que mal abre a garrafa, deita fora ou recicla a rolha na esperança de que o vinho se beba de uma vez.

Quer tenha ou não a rolha original, é assim que deve proceder: "O ideal será sempre utilizar uma rolha que permita retirar o ar da garrafa, com recurso a uma pequena bomba de vácuo. Este sistema vai retardar a oxidação do vinho e permitir que mantenha as suas características originais por mais tempo. Vale muito a pena ter este tipo de acessório em casa, até porque é de fácil utilização e muito acessível economicamente", refere Bárbara.

Quantos dias resiste uma garrafa de vinho aberta?

Deve ter presente que a segunda degustação da garrafa já não será a mesma coisa, uma vez que passado alguns dias, vinho não terá a mesma autenticidade de quando o abriu. Bárbara Quiroga explica que o contacto com o oxigénio altera ligeiramente as características do vinho, "o que não significa que não esteja óptimo para ser bebido", acrescenta.

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Esse período de tempo pode ser diferente de vinho para vinho. De acordo com a especialista, um vinho espumante pode ficar aberto até três dias se for vedado, um vinho branco até dois dias e um vinho rosé de um dia para outro. Já um vinho tinto leve resiste até três dias, mas ser for encorpado pode manter-se em boas condições até cinco dias.

A lista prolonga-se para outros menos comuns à mesa: vinhos fortificados mantêm-se até quatro semanas, com excepção dos vinhos do Porto Vintage, que devem ser consumidos no espaço de dois dias.

Ao contrário das garrafas que estão reservadas e devem ser estar deitadas, as que foram abertas devem estar na vertical, uma vez que podem não estar devidamente vedadas e verter.