O que não falta por aí são pastéis de nata, desde os clássicos e rivais de Belém ou da Manteigaria, os irreverentes com recheio de maracujá, os que levam gelado e os que não têm nada de origem animal. Ainda assim, Rita Sousa, de 29 anos, decidiu começar a fazer pastéis de nata no início da pandemia da COVID-19 e partilhá-los com os holandeses de Eindhoven, cidade para onde foi duas semanas antes da pandemia rebentar.
"Quando fui para lá tinha contrato com uma empresa muito pequenina, em Eindhoven, e com a pandemia eles tiveram de reduzir o meu horário de trabalho, não havia necessidade de haver tanta gente, e passei a ter um horário de part time. Fazia 24 horas semanais, portanto, tinha todas as tardes livres e as sextas-feiras, e pensei que precisava de fazer qualquer coisa para ocupar o tempo", conta Rita, formada em Psicologia Clínica e a trabalhar na área de recrutamento em IT.
Podia ter feito qualquer coisa, como pão que quase toda a gente se dedicou a amassar na pandemia, mas não era bem isso que queria. "Gosto muito de cozinhar, fazer bolos, e gosto muito de pastéis de nata. E realmente era uma coisa que sabia que sabia fazer, o pão não sabia assim tão bem. E, para além disso, os pastéis de nata têm uma vantagem muito grande que é: são muitos rápidos de fazer e o pão nem por isso", explica.
O tempo no confinamento foi então passado a fazer pastéis de nata e decidiu colocá-los à disposição num grupo de Facebook de Eindhoven. "Disse quem era, o que estava lá a fazer e que fazia pastéis de nata portugueses, se alguém quisesse. Fiz isso e fui almoçar. Meia hora depois tinha mais de 30 mensagens a receber encomendas já para esse dia e pensei: 'Ai, meu Deus, e agora?", brinca.
Os mais gulosos foram os holandeses, também teve procura de pessoas de outras nacionalidades, mas recebeu pedidos de poucos portugueses que, aliás, "eram os clientes mais difíceis", confessa Rita. Somos exigentes, é certo, talvez pelo facto de os pastéis de nata tanto nos dizerem, mas por isso mesmo é preciso dar valor quando são feitos com maior atenção ao detalhe.
É deste modo que são feitos os de Rita Sousa e que, dado o sucesso, fez com que surgisse então a marca The Custard Natas, que gere com o namorado Paulo Martins, 31 anos, e que se diferencia por uma simples palavra: artesanal.
"O artesanal significa que tudo é feito em casa. Desde a massa folhada que é caseira, não de compra, o creme é caseiro, os ovos, a maior parte das vezes, são caseiros também. Todo o processo é feito por mim do início ao fim e acho que é exatamente isso que os distingue: o facto de não termos uma produção em massa permite perder um bocadinho mais de tempo em cada pastel de nata e ter a certeza de que estão bons", refere a pasteleira da The Custard Natas.
"As pessoas focam-se principalmente na parte da massa e quando percebem que é caseira, dão logo outro valor ao pastel e apreciam mais. E o facto de não ser um pastel tão doce, quando comprado, por exemplo, a um de café, torna-se menos enjoativo e as pessoas gostam e acabam por repetir", acrescenta Paulo.
Serão os portugueses assim tão difíceis de conquistar?
Depois desta descrição, estará com água na boca e a pensar que tem de viajar para Eindhoven para poder conhecer os pastéis da The Custard Natas. Desengane-se. Em março de 2022, Rita e Paulo, mestre em engenharia eletrotécnica, que também esteve a trabalhar em Eindhoven durante cerca de cinco anos, voltaram para Portugal e é aqui que dão continuidade à marca.
Ambos mantém as profissões anteriores a par com o projeto e dão a conhecer um outro tipo de pastel de nata, mais autêntico, sem massas refrigeradas.
Na Holanda foi difícil conquistar os portugueses, mas por cá tem sido uma roda viva de encomendas que leva Rita a fazer fornadas em todas as horas vagas. Até porque a oferta vai além do tradicional.
A The Custard Natas tem o pastel de nata clássico, com Nutella e outro com manteiga de amendoim (desde 8€ por uma caixa de seis pastéis) e ainda queques nos mesmos sabores (desde 1,20€) e queijadas de leite (desde 6,50€). Esta era também a oferta na Holanda, onde tentaram dar a conhecer a doçaria portuguesa, mas uma vez em Portugal, que já conhece essas iguarias, o objetivo é mostrar outro tipo de produtos.
Foram então lançadas cookies de brownie, manteiga de amendoim e chocolate e M&Ms (desde 6€ uma caixa com seis unidades).
Também é possível pedir uma caixa de degustação (desde 6€).
Pela altura do Natal, pode ser a vez de a Holanda vir para Portugal com o lançamento das típicas stroopwafels de Amesterdão, combinadas com o nosso doce de ovos, ou um pastel de nata com sabor às bolachas natalícias speculoos da Lotus, cheias de especiarias. O que aí vem está em aberto, mas para já pode provar um pastel de nata acabadinho de sair do forno.
As encomendas devem ser feitas através de mensagem privada no Instagram e as entregas funcionam numa hora, data e local a combinar ou em regime de take away na casa de Rita e Paulo, em Odivelas.