A Cozinha do Sr. Lisboa abriu portas em 2016, mas fechou-as em março do ano passado, com o objetivo de fazer algumas modificações, nomeadamente "melhorar a qualidade do serviço", assim como explicou à MAGG o chef do restaurante, Pedro de Sousa.
"Quisemos criar uma personagem, como se houvesse uma casa, um pai, o Sr. Lisboa", explica-nos o chef. Com cerca de 50 lugares, A Cozinha funciona todos os dias. De segunda a sexta-feira disponibiliza um menu executivo que varia todas as semanas. Por 15€ terá direito a sopa, prato, bebida, sobremesa e café.
Numa rua paralela à Avenida da Liberdade, este espaço serve algumas reinterpretações de pratos da cozinha tradicional portuguesa. "Mesmo assim, faz-nos sentido servir um ceviche. Tem de ser bom e as pessoas têm de gostar. Queremos fazer as pessoas sorrir", adianta Pedro de Sousa.
Na ementa, intitulada "lista de compras", encontramos sugestões com nomes como "alfacinha de coração", "de lamber os dedos", "a César o que é de César", "de tradicional só o nome" e "chora agora". As mesas têm fogões antigos incorporados, para nos transmitir a sensação de estarmos mesmo numa cozinha. Um detalhe que faz a diferença.
O couvert (que aqui se chama "o que houver!" e custa 7,50€) foi, surpreendentemente, uma das nossas partes favoritas da refeição. Composto por uma deliciosa espuma de queijo Serra da Estrela, pão de fermentação natural, manteiga de alho negro cozinhado 12 dias e miso e molho Bulhão Pato, marcou pela positiva.
"Em vez de servir só azeite, optámos por servir algo mais interessante", disse-nos um dos funcionários, sobre este começo intenso. Seguia-se o pani puri (14€), uma das novidades na carta. É uma esfera crocante com ceviche de camarão, malagueta e molho holandês, caviar de algas, gamba da costa curada, rebentos de citronela e pó de cabeça de camarão.
"E chama-se 'lamber os dedos', por isso, não sejam tímidos", avisou-nos o mesmo funcionário. E nós obedecemos. Como proposta vegetariana, experimentámos a beterraba fumada com óleo de pimenta rosa, sriracha, frutos silvestres, vinagre de flores e puré de cajus com alcaparras, fritos em azeite (15€), um prato que não nos convenceu.
Preferimos a alfacinha grelhada no carvão com tártaro de novilho, molho de ostras, alcaparras, sour cream fumado, alho negro, cogumelos Paris e pó de shiitake (16€). Durante toda a refeição estivemos a ouvir música portuguesa, já que a playlist do restaurante é bem nacional.
Como pratos principais, comemos ravioli de bochecha de porco preto, agora com puré de aipo, avelãs, sementes de mostarda e molho bordelaise (18€), e polvo do Algarve no carvão, que, para inovar, leva molho romesco com pimento assado, óleo de salsa, molho chimichurri, tomate, paprika e batata assada (17€). Uma versão do molusco que tinha tanto de tenra como de crocante.
Fechámos com o mil folhas de pastel de nata, com creme de pastel de nata, gelado de café e crumble de café (9€), que, para saber (ainda) melhor, deve ser emparelhado com vinho Madeira Boal. Ao longo do jantar, também bebemos Quinta da Silveira Douro 2017 e Soalheiro 2022.
Ainda assim, a nossa proposta líquida favorita foi mesmo o "bem-vindo à Tuga", um dos cocktails de autor, que leva medronho, sumo de lima, coentros, hortelã e bitter de alho. "Uma coisa fresca para abrir as papilas gustativas" foi como nos foi recomendado.
Alguns dos pratos irão ser mudados sazonalmente. A ementa atual entrou em vigor em outubro. O público, esse, também muda consoante a época do ano. "Aos almoços são mais portugueses e à noite estrangeiros", elucida-nos Pedro de Sousa, cuja formação passou por Coimbra e pelo Estoril.
"Queremos receber as pessoas como se de uma casa se tratasse. Gostamos de servir coisas que gostamos de comer. O Sr. Lisboa somos todos nós", esclarece o chef-executivo, que também está por detrás d'O Jardim, do mesmo grupo, em São Bento.
Em breve, A Cozinha terá uma nova divisão: A Despensa. "Ainda estamos a trabalhar nisso", informou-nos o chef, antes de abandonarmos. Agradecemos, levantámo-nos, fomos à casa de banho e lavámos as mãos num (literal) tacho. A Cozinha "é uma casa portuguesa com certeza".