Ouvimos as palavras São Bento e pensamos imediatamente no imponente edifício da Assembleia da República ou nos bifes do Café de São Bento (o vizinho do lado), mas agora temos uma deliciosa lembrança para ligarmos a esta zona da capital: o Jardim do Sr. Lisboa. O novo restaurante da cidade une um espaço lindo e bem decorado a uma comida impecavelmente servida sem descurar o sabor, e para todos os gostos. Aqui os vegetais são reis, mas o peixe e a carne não ficam fora da festa.
Embora não veja necessidade de rotular o novo espaço, Francisco Breyner, proprietário d' O Jardim (e também do Sr. Lisboa, perto da Avenida da Liberdade), afirma que o restaurante pode classificar-se como flexitariano. "Se o tivermos de pôr numa gaveta, porque há sempre aquela tendência para colocarmos um rótulo em tudo, penso que sim, que podemos falar aqui de um regime flexitariano. Primamos pelos vegetais, mas também temos opções de carne e peixe, igualmente bem trabalhadas", explica Francisco Breyner durante o jantar de imprensa de apresentação deste novo espaço.
Aberto desde dia 1 de agosto, o Jardim é totalmente diferente do espaço original do Sr. Lisboa, o primeiro restaurante de Francisco, muito mais tradicional — desde a envolvência, tamanho e tipo de comida servida —, mas chega de mãos dadas com aquilo que o empresário de restauração acredita serem os novos hábitos dos consumidores.
"A ideia d'O Jardim surgiu um bocadinho desta mudança de consumo que cada vez mais está a existir. O que consumir e como consumir. Foi nessa ótica que tentámos pôr os vegetais ao mesmo nível de sabor e apresentação daquilo a que estamos habituados a comer tradicionalmente. Até porque quando pensamos em vegetais, pensamos logo que a comida vai ter pouco sabor, que vamos passar fome, que não vai ser tão bom. Que vai ser aborrecido, basicamente. E quisemos mudar isso. Os vegetais são uma inspiração, um desafio, e quisemos trazer para a mesa o seu lado mais sexy", explica o proprietário.
Sexy, instagramável e muito saborosa. A comida d'O Jardim põe qualquer carnívoro louco por croquetes sem carne
Para os menos aventureiros e mais fãs de sabores tradicionais, olhar para a carta d'O Jardim pode ser um desafio. Mas precisa apenas de ultrapassar os seus receios iniciais — ou preconceitos com os pobres dos vegetais — e deixar-se levar pelas sugestões da cozinha liderada por Pedro Sousa, que são cuidadosamente pensadas pelo chef e também por Francisco Breyner.
"Estamos sempre a tentar desafiar-nos um ao outro", conta o proprietário sobre a ligação com o chef Pedro Sousa, que também está a frente do Sr.Lisboa original, e que faz equipa com Francisco desde o início desta aventura pelo mundo da restauração. "Tentamos trazer coisas novas, pratos novos, vamos lá fora e vemos o que gostamos de comer, e como é que podíamos apresentar uma versão daquilo que tanto gostámos no nosso restaurante", afirma o gestor deste novo espaço em São Bento.
Na carta recheada destas "coisas novas", a surpresa começa logo com o Encontro, um conjunto de sugestões de couvert que se inicia de forma líquida, com o lírio (4€), um cocktail de apresentação em formato mini composto por tequilla, topinambur e pepino. A substituir a manteiga a que tão habituados estamos, surge uma versão de levedura e miso viciante para barrar no ainda quentinho pão de fermentação natural da Marquise (5€).
E se deixamos espaço para finalizar a refeição de uma forma mais tradicional, fizemos um tour pelas várias sugestões com vegetais como foco principal — até porque não resistimos a estes nomes hilariantes, fruto de um brainstorming de toda a equipa, como nos contou Francisco Breyner.
Créditos da fotogaleria: Hayley Kelsing
Abrimos as hostes com um Chora Agora! (12€), um tártaro de beterraba semi-desidratada e fumada com emulsão de manteiga queimada, seguido da frescura do Até parece que estou de férias (12€), melão, framboesas, ameixas lacto-fermentadas e óleo de hortelã. Se o tártaro era um pouco intenso para o nosso palato (apesar de ser dos pratos mais bonitos que já vimos), fomos completamente arrebatados pelo sabor da proposta de melão, que sendo um prato mais associado ao verão, conseguíamos comer o ano todo.
A viagem continua com um dos maiores desafios desta refeição: os croquetes. É que não é fácil fazer com que alguém tão viciado neste clássico salgado fique rendido a uma opção sem carne. E não, não achámos que sabem ao mesmo, mas os Venham mais cinco, mas não paga o Zeca (7€), duas unidades de croquetes de beringela com molho de gemas e whiskey, são surpreendentes, saborosos e viciantes, e conseguem fazer com que a falta da proteína animal não seja minimamente sentida.
Os doidos por cogumelos e até mesmo aqueles que não vão à bola com este petisco vão querer provar o Pede-me isto! (6€), duas pequenas tarteletes de cogumelos, manteiga de castanha e ervas do Jardim, cuja massa está no ponto, quebradiça como se quer. E sim, até quem não chega perto de couve-flor vai suspirar por o Esta flor não se cheira, frita-se (9€), em que a couve é frita com um guloso molho.
Para terminar, quem come carne vai gostar de finalizar com opções como o Bife à Jardim (24€), um entrecôte com mil-folhas de batata e pimentos assados, com a carne cozinhada no ponto, ou preferir o irreverente Não se fala de boca cheia (12€),mini tacos de cabrito, onde este é envolvido em couve portuguesa.
Nas sobremesas, duas hipóteses para dois gostos diferenciados: o desafio do Cuidado que o figo pica (6,50€), uma pavlola de maçã verde e cactos, e o docinho O nosso pastel de nata (8€), onde um conjunto de creme de pastel de nata, molho de canela e gelado de café resultam na ideia que acabou de comer o pequeno-almoço mais português de sempre. Gostámos da lógica fora da caixa da pavlova, mas o nosso coração (e a nossa veia gulosa) pendem para o pastel de nata.
Do menu de almoço mais tradicional ao brunch modernaço
Mas O Jardim ainda tem mais para oferecer. Com 100 lugares divididos entre uma sala interior linda de morrer (e uma mesa com uma árvore que se vai tornar no próximo spot instagramável da capital) e uma acolhedora esplanada onde Francisco Breyner nos garante que vão ser colocados aquecedores para que possa continuar a ser desfrutada no inverno, o proprietário é o primeiro a afirmar que o espaço merece ser aproveitado em várias vertentes.
Assim, para além da carta do restaurante estar disponível aos almoços e jantares, existe também um menu executivo diário, de segunda-feira a sexta-feira. "Temos um menu de almoço competitivo, bom, rápido e com preço acessível", salienta o proprietário, que sugere que o mesmo possa ser complementado com algumas entradas da ementa regular.
Não obstante, a base de sopa, prato, bebida, sobremesa e café tem um custo de 15€, podendo ficar por 12€ se prescindir da sobremesa e escolher água como bebida. Na semana que se inicia esta segunda-feira, 26 de setembro, pode esperar pratos como nacos de atum asiático e cuzcuz, bife à portuguesa, brás de legumes e risoto de cogumelos, sendo que já não vai a tempo de aproveitar a sugestão de peito de frango no carvão com esparguete com pesto (segunda-feira).
Aos fins de semana, há também brunch. "Quisemos pegar no pão e desconstruí-lo, apresentar qualquer coisa que não seja só ovos Benedict ou com salmão, tostas de abacate e esses conceitos que estão um bocado batidos", explica Francisco Breyner. Assim, das várias opções à carta, o proprietário destaca as tostas abertas como a de tomate (12,60€), beterraba (13,50€) e catos (12€).
"Mas também temos as panquecas e os ovos, as opções mais clássicas. Quisemos mesmo ter uma oferta equilibrada", refere Francisco Breyner, que também explica que, mesmo com um restaurante que ainda não completou dois meses de existência, já está a pensar em novidades.
"Em outubro, vamos ter umas mudanças na carta. Não vamos mudar a carta toda, claro, mas já estamos a pensar em introduzir um ou outro prato diferente", conclui Francisco Breyner sobre este jardim, que, esperemos, vai continuar a dar flores.