Mafalda Leitão já teve mil e uma vidas. Estudou marketing e publicidade, trabalhou em televisão, produziu programas, fez decors para a SIC, teve uma empresa de arquitetura e design e até uma concept store. Agora, aos 53 anos, decidiu que só lhe faltava uma coisa: abrir um restaurante.
O marido sempre lhe disse que comia melhor em casa do que em qualquer restaurante do mundo. É que Mafalda, sem esforço, tanto reproduz um arroz com romã que comeu na Turquia, como faz uma açorda alentejana. "Só não me peçam é para fazer doces", admite. E, por isso, essa secção é a única que não tem o seu cunho. Todo os outros trinta pratos do restaurante que acaba de abrir em Santos são fruto das muitas horas que passou na cozinha a experimentar tudo o que poderia ser feito com o fruto que serviu de base ao conceito do espaço: o abacate.
Experimentou abacate a primeira vez quando foi visitar o filho ao Rio de Janeiro. "Ele lá comia muito e eu trouxe esse hábito comigo para Portugal", conta. Batia-os com açúcar para uma sobremesa ou misturava-os com ovos para pequeno-almoço e percebeu que a versatilidade era gigante.
Já como fã assumida de abacate, numa visita a Amesterdão, fez questão de visitar o The Avocado Show, um restaurante famoso por só servir pratos com este fruto. "Foi a primeira vez na vida que estive numa fila de mais de uma hora para comer", admite. E valeu a pena? Não. A comida era instagramável, é certo, mas de sabor ficava muito àquem do esperado. "Foi aí que decidi abrir o meu próprio restaurante de abacate que, além de boas fotos, oferecesse, principalmente, boa comida".
Mafalda, que tem como sócio Rui Barata, tomou conta de todo o projeto e, além da carta, pensou em toda a decoração. Nas paredes montou, numa parceira com a Oficina Marques, uma floresta que passa do dia à noite, assim como quer ver o restaurante passar. É por isso que existem pratos que só são servidos depois das 19 horas, mesmo a pedir um cocktail a acompanhar. É o caso dos tacos, que podem ser de feijão preto, milho, carne picada, jalapeños e salada (10,90€) ou, por exemplo, de fillet mignon, guacamole e feijão (14,30€).
Seja qual for a opção da carta prepare-se para tirar dois segundos a apreciar a montagem do prato, as cores e as forma como um fruto aparentemente simples pode ter dezenas de texturas.
Mafalda, que quando chegou à lista final tinha mais de 70 pratos, conseguiu reduzi-los para 37 e escrutinou-os ainda mais quando, a pedido da MAGG, nos aponta aqueles que são imperdíveis. Diz então quem sabe que não se pode sair daqui sem provar a tempura de abacate (6,90€); o Earthy Brekkie, uma tosta feita com cogumelos, ovo escalfado e húmmus de abacate (7,20€); a Ahimsa bowl, que tem como ingredientes um mix de quinoa, abacate, vegetais e e tofu (10,80€); o Veggie Burguer, com quinoa, beterraba e servido em pão (7,90€) ou no meio de um abacate (9,90€) e ainda o tártaro de Fillet Mignon, com gema de ovo, abacate, pickles e chips de batata doce (15,50€).
Mas também há panquecas, taças de açai, smothies e até cocktails, tudo com abacate. E se pedir uma bebida com gelo, não se admire se encontrar um caroço lá dentro. "Decidi que não ia ter gelo e, por isso, congelo os caroços dos abacates para o mesmo efeito", explica. Ainda na lógica do aproveitamento de recursos, a cada conta que chega à mesa, Mafalda acrescenta um caroço de abacate com as instruções para que cada cliente possa ter o seu próprio abacateiro em casa. Aparentemente, só precisa de três palitos e um recipiente com água. Depois de de oito semanas mergulhado, é só transferir o caroço para um vaso e esperar para que também a sua casa se transforme numa Avocado House.