Quando era miúdo, havia sempre uma razão para se jantar fora de casa. Normalmente, ou era o aniversário de alguém ou havia um motivo qualquer para se celebrar. Hoje, felizmente, não há uma motivação para se jantar fora, há dezenas. E às vezes é só porque nos apetece espairecer. Ou não temos vontade de cozinhar. Ou apetece-nos aquela pizza que comemos há um mês e que não nos saiu da cabeça.
E com isto acabei de revelar a minha própria motivação para ter ido fazer uma visita misteriosa ao novo restaurante Forneria Avenida, irmão do Forneria do Parque das Nações, onde comi a tal pizza que não me saiu da cabeça. E visita misteriosa porquê? Porque fui numa missão secreta de testar o restaurante, como cliente mistério, para tentar entender o que está bem, menos bem e mal no novo italiano de Lisboa.
Comecemos então pelo início, um dilema que muitas vezes leva a que alguém decida ir ao restaurante A ou B: o estacionamento. O Forneria Avenida fica na Marquês de Tomar, muito perto do cruzamento com a Miguel Bombarda, ou seja, a 3 minutos a pé do Parque de Estacionamento Valbom, por isso, este nunca será um problema. Mas a verdade é que nem foi preciso isso. Embora seja no centro da cidade, à hora de jantar aquela zona é bastante calma e havia pelo menos dois lugares de estacionamento no quarteirão do restaurante, quase à porta.
Quando cheguei, a minha companhia já estava sentada, por isso não tive oportunidade de escolher a mesa. Não fiquei à janela, como gostava, mas esses lugares também já estavam ocupados. Primeiro teste: o atendimento. Poucas coisas me irritam mais num restaurante do que sentar-me e ter de andar a esbracejar durante largos minutos até que alguém venha à mesa. O Forneria Avenida é relativamente pequeno, não estava cheio, por isso nem sequer tive de chamar ninguém. Ainda antes de olhar para a carta, pedi o que achei que qualquer restaurante italiano deveria ter: um Aperol. E tinham. Forcei um bocadinho mais o teste.
— E Campari, tem? — perguntei.
— Peço desculpa, não temos — lamentou a funcionária, com um ar verdadeiramente sentido, aquele ar de quem sabe o quanto vale um bom Negroni.
— Mas olhe que devia ter — respondi.
— Tem razão. Vou apresentar a sugestão aos responsáveis — disse-me.
Gostei. Mas gostei (gostámos, na verdade, que pedimos dois) ainda mais do Aperol (8,5€), que me pareceu preparado com amor. Não era amor verdadeiro, bem sei, mas era aquele amor falso com que gostamos de ser enganados quando vamos a um restaurante, o amor pela comida, pelo serviço, que é tudo o que eu quero quando vou jantar fora.
Não sou daquelas pessoas que pedem sempre a mesma coisa nos cafés e restaurantes. Gosto que me surpreendam, gosto de experimentar sabores novos, combinações originais, mas neste caso quis testar outra coisa.
Naquela primeira visita que havia feito ao Forneria do Parque das Nações tinha provado uns rolinhos de trufa maravilhosos, uma entrada feita com massa de pizza enrolada, com mozarela, tomate e azeite de trufa. Quis perceber se no Forneria Avenida também os podia comer e se continuavam deliciosos. Olhei para a carta e não os encontrei. Estranhei. Chamei novamente a senhora funcionária.
— O Aperol está ao vosso gosto? — perguntou.
Não tive de responder. O facto de o copo já ir a meio mostrava que sim. E agora que estou a escrever e a pensar nisto deu-me vontade de um Aperol. Podem esperar só um minuto? O tempo aqui passa rápido, já volto. Voltei. Não tenho Aperol em casa, fiz um Campari Tonic (senhores do Forneria, tomem notas). Vamos lá continuar, então.
Um restaurante que coloca "as fichas todas na comida"
— Estou aqui a olhar para a carta e não vejo uns rolinhos de trufa que comi há tempos no vosso restaurante da Expo. Não os fazem aqui?— perguntei.
— Fazemos, claro — respondeu prontamente a funcionária. — Mas não vêm na carta, são uma sugestão do chef.
— Hum, OK. Então quero dois, mas um deles sem presunto. Pode ser?
Claro que pôde. Não referi ainda no texto, mas sou vegetariano, ou seja, retirei tudo o que fossem carnes, peixes e derivados das minhas escolhas, embora a minha companhia dessa noite não tivesse essas limitações.
Enquanto esperava pelos rolinhos fui tentando avaliar aqueles outros aspetos a que damos algum valor num restaurante, como a decoração, o ambiente em geral, aquele lado mais visual que nos dias de hoje tem importância para muita gente. E aqui talvez seja onde o Forneria Avenida perca mais para o seu irmão do Parque das Nações. Primeiro, porque o forno maravilhoso, tipicamente italiano, e altamente instagramável, não está tão visível (mas está lá, atenção). Depois, porque o Forneria Avenida, por ser um restaurante menos residencial e mais focado num público que trabalha nas zonas do Saldanha/Campo Pequeno, parece privilegiar mais um lado funcional e prático, colocando as fichas todas na comida e na simplicidade do espaço.
A decoração é simples, sóbria, sem grandes adereços, em tons escuros e elegantes. Quem entra no restaurante não se apercebe de imediato que existe ainda uma segunda sala, mais pequena, num andar mais abaixo, ideal para jantares de grupo, almoços corporativos, ou para isolar um grupo grande que prefere comer num sítio mais recatado. Bom, com isto tudo chegou a comida. E que comida era?
Chegaram primeiro os tais rolinhos de mozarela, trufa e presunto (um deles sem presunto). Já os tinha provado no Fornaria do Parque das Nações, e só queria mesmo confirmar se a receita era igual. E era. São rolinhos em massa de pizza, frescos, que quando se cortam deixam-se cobrir por mozarela derretida, azeite trufado e (se for o caso) o presunto. São uma entrada perfeita para uma pessoa, ou para dividir com alguém, se se pedir mais alguma coisa. E foi o que fizémos. Deixámo-nos levar por uma bruschetta de azeitonas, tomate e mozzarella (6,20€), servida numa tosta grande, estaladiça, e bem carregada com o recheio. Não sobrou nada. E ficámos já com aquela sensação de que tudo o que viesse depois seria só para a gula. Logo depois chegaram os pratos.
Vir ao Forneria e não pedir pizza é como ir aos pastéis de Belém e pedir uma bola de Berlim. Como gosto de pizzas simples, à italiana, para sentir a qualidade da massa e do molho de tomate, fui para uma opção com pouca coisa, a pizza de Pesto alla Genovese (10,50€), com mozarela fior di latte, tomate cherry e pesto. A massa é baixa e estaladiça, daquela que não enche e não se deixa no prato, nem sequer as partes de fora.
A pizza chegou bem fresca, fumegante, como se quer. O pesto dominava o sabor — o que são boas notícias — e misturava-se na perfeição com o molho de tomate. Optei por dividir a pizza com a minha companheira de experiência gastronómica, que tomou a liberdade de pedir um risotto al funghi e azeite de trufas (17,80€), que veio servido com umas folhas de manjericão por cima. Estava cremoso, intenso, ligado e servido com lascas de queijo parmesão. Comi metade e desejei ter estômago para pedir mais um. Mas não dava. E não dava porque ainda faltava a sobremesa.
Fechámos com mais um parto que supostamente deveria ser para partilhar, uma panacotta com Nutella (3,65€). Não foi uma divisão justa, porque quando há Nutella no pedaço torno-me numa criança de 5 anos com um saco de gomas na mão: ninguém toca. Ela tocou, e gostou, mas depois começou a contar calorias e eu deixei-a.
Com os cafés, a conta ficou em 66€, o que anda nos valores normais de uma experiência italiana completa com entradas, cocktails, pratos e sobremesa.
O Forneria Avenida é uma excelente escolha para quem gosta de comida verdadeiramente italiana, com sabores fortes, pratos bem confecionados, ingredientes frescos, para quem valoriza o lado gastronómico de um almoço ou jantar.