Juntou-se um britânico (David Wolstencroft), um português (Tiago Tiago), um australiano (Hamish Seears) e um americano (Harrison Iuliano) e disseram: "Vamos abrir um restaurante". Não, não é uma anedota, é a história de como surgiu o Dahlia, o novo spot para conviver em Lisboa, na Travessa do Carvalho 13, de que todos precisávamos e não sabíamos.
Isto porque já temos de volta alguma liberdade para conviver e este espaço é um convite a isso mesmo: comer e beber num sítio cool, com discos nas paredes e no gira-discos, que tem sempre ao lado a capa do vinil que está a tocar no momento. Contudo, aqui não é vira o disco e toca o mesmo, graças à vasta coleção de vinis de David.
Não faz parte do conceito escolher o que vamos ouvir — varia sempre entre o jazz e o blues —, já sobre a ementa temos total liberdade de decisão. Começando pelo que beber, os vinhos naturais são umas das ofertas que caracterizam este espaço. Mas, afinal, o que é um vinho natural?
"O vinho natural é muito incompreendido", brinca Adam Purnell, gerente do Dahlia. "Tem que ver com a forma como o vinho é feito, sem quaisquer químicos. O que realmente define um vinho natural é o facto de não ser manipulado para saber de uma certa forma. O vinho comercial usa os químicos para o vinho saber de determinada maneira, é por isso que quase todos sabem ao mesmo. No vinho natural, deixamos acontecer para ter uma verdadeira representação do terroir, da meteorologia, da uva", explica Adam à MAGG. Entre eles está o Suba Pet Nat Espadeiro rosé (5€ o copo), um vinho frisante que borbulha na boca como champanhe.
A música ambiente do restaurante é feita de vinis, de rolhas a saltar das garrafas de vinho e ainda de shakers a misturar os cocktails que saem a um ritmo frenético como nunca vimos. Seja pelo sabor, seja pelo aspeto, a verdade é que estão sempre a sair para aperitivo ou mesmo para acompanhar a refeição. Entre eles está o hibiscus fizz (9€), um dos que mais sai, bem como o mezcal negroni (13€), um clássico e o favorito do americano Harrison Iuliano. O melhor é chegar cedo para passar por toda a carta, desde os cocktails ao entardecer até aos vinhos que completam os petiscos do lanche ajantarado.
Chegámos ao segundo ponto do Dahlia: a comida. Indeciso entre dois chefs — Vítor Oliveira, antigo chef do restaurante Damas, em Lisboa, e Gabriel Rivera —, Adam Purnell acabou por contratar os dois para estar à frente da cozinha do novo restaurante. Como duas mentes pensam melhor do que uma, os chefs pegaram em ingredientes simples e que respeitam a época, juntaram-lhes outros inesperados, bem como técnicas, e o resultado são pratos coloridos e que, acima de tudo, elevaram ingredientes comuns ao expoente máximo.
Começámos com mar, e bem, numas ostras do mercado, com granizado de cereja (5€). Se não está com água na boca, ou é consequência da COVID-19 ou nunca provou ostras. Seguimos para uma beterraba curada (ingrediente pouco consensual a que deve dar uma oportunidade no Dahlia), com laranja e vinagrete de pistachios (6,50€).
Continuámos pelo menu fora, com um prato que se ainda não for best seller na casa, passa a ser elegido por nós como um best of the menu: o tahini favorito do Dahlia, com tomate assado (9€), para acompanhar com flatbread caseiro (3€). E isto são só as entradas.
A ementa propõe ainda pratos mais compostos e mais sustentáveis: falamos da couve flor caramelizada, com chimichurri (feito com os talos da couve flor), e creme de amêndoa (7,50€) e o camarão selado, com chilli bisque e kimchi, fermentado tradicional na Coreia que aproveitas as folhas de vegetais e que neste prato se comem por inteiro (10,50€). Na carne, há duas opções no menu, mas o sócio do projeto Harrison Iuliano, que nos revelou os seus favoritos do menu para petiscar, destaca uma em particular: o frango frito, com molho de sésamo picante (10€), como não podia deixar de ser para um americano.
Por fim, muhallabia, kaffir e xarope de hibisco (5€), a primeira sobremesa sem açúcar do restaurante, mas bastante docinha. Amantes de queijo, vão gostar desta.
A noite não encerra por aqui, pode ficar pela mesa entre cocktails e vinho natural atá à 01h. Precisava ou não de um espaço para jantar e conviver? De nada.