Cor, música e um ambiente cosmopolita. É assim que somos recebidos no La Dos Manos, o novo restaurante de Kiko Martins. Em plena baixa lisboeta, mesmo ao pé do Miradouro São Pedro de Alcântara, somos convidados a embarcar numa viagem de sabores que nos transporta da cultura mexicana para a cultura japonesa.
Da decoração à comida, a fusão do México com o Japão é evidente. “Decidimos ter não só a Frida Kahlo mas também a gueixa. Ter não só os cactos mas também os barris onde eram transportados os sakes. E em quase todos os pratos recebemos pequenos apontamentos asiáticos”, explica Kiko Martins à MAGG.
Depois de seis viagens ao México, o chef abre agora um espaço descontraído, multicultural, onde a cozinha mexicana é a base gastronómica mas onde as técnicas e os produtos japoneses estão sempre presentes.
“Sempre tive muito gosto em fazer conceitos que não fossem muito normais e por isso, quando comecei a fazer os testes do mexicano, sabia que queria fazer um mexicano high level mas não tinha ideia de que queria por o lado japonês. A meio dos testes comecei a perceber que era engraçado ter aqui uma tonalidade, umas cores japonesas. A ideia ao início pareceu-me absurda, uma conjugação meio estranha, mas depois comecei a fazer testes e as coisas realmente fazem sentido”, esclarece o chef.
Mas o que é que vai poder comer no novo restaurante de Lisboa? As apostas são muitas mas escolhemos três que nos fizeram desejar regressar o mais rapidamente possível ao La Dos Manos.
A primeira é o aquachile de lírio com gambas do Algarve (22,40€). Podemos encontrar os contornos japoneses na gamba braseada e no sashimi de lírio. O prato é muito fresco e vem acompanhado de puré de batata doce e salada de algas. Esta é a ”versão mexicana do ceviche”. “Enquanto que num ceviche o caldo é feito com leite de tigre, que é basicamente um caldo de peixe onde se junta lima, coentros, aipo e mais peixe e tritura-se tudo, no aquachile não. Leva apenas sumo de lima, pepino, coentros e sal. Tem um lado menos marítimo que um ceviche”, explica o chef.
De seguida, as tostadas de barriga de atum (14,30€). Crocantes e estaladiças, são uma fusão perfeita das culturas mexicana e japonesa, em que se perceciona cada sabor individualmente: o milho na tostada, a gordura da barriga de atum e o picante do wasabi. “Uma tostada é um prato tradicional mexicano. Normalmente são as tortilhas do dia seguinte que as donas de casa fritam. Nós, em vez de fritarmos, assamo-las muito lentamente. Ficam muito crocantes, mantêm o sabor a milho mas não ficam com gordura.”
Por último, e para adoçar a experiência, os mini churros (8,60€). Com doce de leite, milho e granizado de margarita de lima e tequila são o equilíbrio ideal entre a acidez e a doçura. Não são os churros a que está habituado - não têm o formato habitual -, são pequenas bolas, crocantes por fora e leves por dentro.
A ementa por enquanto é fixa mas, como em todos os outros restaurantes do chef Kiko, a ideia é ir variando, sempre com o foco na melhoria contínua. Com um projeto diferente, consistente e com “conceitos únicos e irreplicáveis", o Las Dos Manos é um motivo de orgulho para Kiko Martins: “Estou super contente. Acho que foi talvez a abertura com que eu tenha ficado mais contente, mesmo”.
Com 43 anos, o chef Kiko tem neste momento, para além do Las Dos Manos, o Talho, nas Avenidas Novas, A Cevicheria, no Princípe Real, O Poke, no El Corte Inglés, e O Boteco, no Chiado.