"Adoro o seu cabelo, super versátil". É assim que Rafael nos recebe, de braços abertos e de olho no nosso corte. "Ali os meninos se preocupam com o café, eu preocupo-me com o cabelo", conta. E, juntos, preocupam-se em fazer do Kaya o novo espaço de Lisboa ao qual as pessoas podem ir para beber café de especialidade, comer comida saudável (e outra nem tanto) e ainda cortar o cabelo.

É que neste canto iluminado no topo do Parque Eduardo VII há espaço para tudo. Rafael Silva, de 35 anos, Willian Bertuola, de 33, e Gilbert Marconi, 34, vieram do Brasil há dois anos e, antes de avançarem com um negócio próprio, andaram a analisar Lisboa e os lisboetas. Decidiram, por isso, fugir aos locais típicos e pensados para turistas e avançaram para um café de bairro. E não podiam estar mais contentes com isso.

Morada: Rua Marquês de Fronteira, 115A
Horário: 9h-19h e 10h-14h ao domingo. Fecha à segunda-feira

Aliás, à entrada do café cruzamo-nos com uma das vizinhas do lado, que vinha com um doce para os três provarem. Já houve quem trouxesse bolos e até uma impressora quando precisaram de imprimir uns papéis. "É ótimo sentir esse calor", admite Gilbert, o responsável por tudo o que sai da cozinha do Kaya.

Deixou os quase 20 anos enquanto pedagogo para trás para agora servir aos outros aquilo que aprendeu a cozinhar para si. Sem açúcares refinados e com produtos sempre frescos, preparou um pequeno menu que vai mudando com as estações. Mas conte sempre com panquecas, tostas, bowls e smoothies.

Nas tostas, que vêm sempre acompanhadas de salada com granola salgada, pode escolher entre a de beterraba e queijo de cabra (4,80€), a de húmus de feijão branco, tomate e rabanete (4,50€) e a de abacate com tomate e ovo cozido (4,80€), a de abóbora assada com ricotta (4,50€). Para a versão doce, há a de manteiga de amendoim, banana e morango (4,50€).

Já nas panquecas, há a versão de banana e creme de avelã (4,20€), a de doce de leite, amêndoas e mirtilos (4,20€) ou, no caso de um apetite mais salgado, as de espinafres e ovo (4€) ou a de cebola roxa, cogumelos e bacon (4€).

Também há bowls de açai, iogurtes e saladas de fruta. Mas daquela cozinha vão sempre saindo bolos, brownies e cookies sem hora marcada. Tudo isto acompanhado de café de especialidade, que Willian, o barista de serviço, prepara com todo o cuidado.

Quando dizemos que preferimos um café mais leve e coado, mune-se da V60, um equipamento que exige que o café seja pesado ao grama. Neste caso 16,5 gramas de café dão origem a 250 mililitros de café.

Escolhemos um das Honduras, pelo sabor exótico a frutos tropicais, passas e tamarindo, mas sabemos que qualquer que seja a opção, poderemos saber tudo sobre a sua origem. "O português gaba-se de ter o melhor café do mundo, mas nem café produzem. Há que abrir os horizontes e provar novos sabores, de preferência biológicos e vindos de uma produção que respeita as regras de qualidade e, muito importante também, os trabalhadores do café, que são muitas vezes explorados", refere Gilbert.

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Esta preocupação pela origem dos produtos atravessa o café e chega também ao cantinho que fica a cargo de Rafael, cabeleireiro há mais de dez anos. "Claro que eu comecei como todo o mundo, a usar produtos convencionais. Mas depois percebi que eu não quero vender químicos, eu quero cuidar do meu cliente", conta à MAGG. É por isso que no seu espaço, que funciona lado a lado com o café, usa maioritariamente produtos da Oway, uma marca orgânica, produzidos uma quinta biodinâmica em Itália, feita à base de óleos essenciais.

E assim como já teve clientes espontâneos, que decidem cortar o cabelo quando vinham apenas tomar um café, Rafael quer encontrar os clientes fiéis. "Para mim, mais do que o visual, conta a personalidade. Se eu conheço a cliente, sei se ela vai querer cortar dessa maneira ou pintar o cabelo de ruivo, por exemplo".  E se o tratamento for demorado — fazer madeixas aqui pode levar cerca de seis horas, tal é o cuidado personalizado — saiba que as tostas e o café de especialidade chegam até si. "O salão de cabeleireiro é um sítio de convívio mas aqui, em vez de fofoca, queremos conversas inteligentes e boa comida".

No final ainda pode levar consigo para casa os produtos que ficou a conhecer no Kaya. No cabeleireiro há os champôs e os cremes e, à entrada, está montado um mini-mercado com café, cafeteiras, vinhos naturais do Aparte e cerveja artesanal A.M.O., servidos nos raros momentos em que ali não apetece um café.