Anna pede-nos um minuto. É que a máquina de moer os grãos faz algum barulho e não queremos que a conversa se perca na mistura entre o português, o inglês e o russo. É que o nome da proprietária do Buna, a nova coffee shop do Bairro Azul, em Lisboa, escreve-se com dois "n", mas tem como apelido Santos. "Guess why?", pergunta. Não é difícil de adivinhar que foi por amor que Anna trocou a Rússia, onde nasceu, pela Lisboa de onde o marido é natural.
Nesse caminho, houve desvios que os levaram a viver em países tão diferentes como Espanha, África do Sul e Estados Unidos. E foi precisamente nesta última paragem, mais precisamente em Portland, que descobriu o — para ela — apaixonante mundo do café.
O fascínio pelo café foi tal que passou de ávida consumidora das centenas de coffee shops da cidade norte-americana, para ser ela também uma barista.
Trocou as Finanças, área na qual trabalhava, pela vontade de passar o dia a servir e a criar novas receitas com o café. E para fazê-lo, decidiu que o local ideal era Lisboa, mas não uma Lisboa qualquer. Fugiu dos sítios mais turísticos e instalou-se no Bairro Azul, perto do El Corte Inglès, numa rua da qual destaca as mercearias, a relação próxima com os vizinhos e as árvores que dão sombra à esplanada que conseguiu montar de maneira a ganhar o espaço que o interior do café não tem.
"Este espaço estava-nos destinado", conta à MAGG, lembrando o dia em que, juntamente com a amiga e sócia Olga Zinkov, deambulavam pela cidade à procura de um espaço livre para o que viria a ser o Buna. "Adorei a rua, mas percebi que não havia nada livre. Nesse momento de frustração, enquanto esperava que a Olga enrolasse um cigarro, vejo uma pessoa a colar na porta um papel a dizer 'Arrenda-se'".
Com o espaço escolhido, foi hora de procurar os melhores produtores de café. Escolheu a marca espanhola Nomad, que vende cafés de todo o mundo e torra os grãos de café em Barcelona antes de enviar para as lojas.
Numa visita guiada pelo que se passa do outro lado do balcão, Anna apresenta-nos os dois expressos disponíveis. "Um com um sabor mais comum ao gosto dos portugueses", começa por explicar. "Mais normal?", perguntamos. "Normal não. Nada do que é servido aqui é normal", garante.
Assim, o café expresso pode ser do Brasil, aquele tal mais suave que Anna gosta de usar para misturar com leite, e o da Guatemala, que pelo sabor menos convencional, achava que não ia ter muita aceitação. "E afinal já tenho muita gente que vem cá de propósito para o beber", conta.
Mas Anna prefere o café longo, de filtro, que quando sai ainda a fumegar, dá a provar a todos os que estão nas mesas, que dividem o protagonismo do café com os pratos que ficam a cargo de Olga. "Se eu sou a maluca do café, Olga é a maluca da comida", admite.
A carta é curta, mas apresenta opções salgadas e doces, que tanto podem servir de pequeno-almoço, lanche ou até um almoço mais leve. Sugerimos a bruschetta com abacate e tomate seco, bem servida, e com um pão tão saboroso que nos faz perguntar de onde vem. "É da Eric Kayser", responde Anna, que faz questão ainda de dizer que os legumes e fruta são maioritariamente biológicos e o açúcar refinado fica sempre de fora das receitas doces, coisa que a montra gulosa não faz adivinhar. Há barras feitas de amendoim e cacau, um bolo de limão, cookies e pequenos cups de coco ou nozes (os preços variam entre os 0,90€ e os 2,20€)
Como o espaço é pequeno — apenas três lugares ao balcão e mais três sentados — é fácil ver os clientes a trocar impressões sobre as mais de dez variedades de café que o Buna tem disponíveis.
Um deles saca do telemóvel do bolso e partilha aquilo que descobriu há dias. "Há uma aplicação na qual consegues ver onde estão os melhores cafés de Lisboa", diz, entusiasmado. Claro que todo o grupo imita o gesto e, já de telemóvel na mão e aplicação instalada, começa a pesquisar. E ninguém fica surpreendido ao ver o Buna nesta lista.