O cão Nicolau chegou a uma pequena esquina na zona do Chiado, em Lisboa, em 2016, e desde então foi trazendo para a cidade mais pessoas da família canina: a Amélia, namorada, e o primo Basílio. Mas como todos os cães, também o Nicolau tem um dono, neste caso a Olivia, que acaba de abrir perto do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.
"Não gosto de usar a palavra ‘dona’, mas todos os cães têm quem tome conta deles. Portanto, a família também é composta por quem toma conta do Nicolau. Fomos buscar um bocadinho a questão da mulher, para nós super importante. É uma mulher super irreverente, sempre com uma opinião a dar sobre tudo. E esta personalidade fez com que fizéssemos um menu mais irreverente também", diz à MAGG Bárbara Pinto que, juntamente com o marido Bernardo Mesquita, detém o grupo Nicolau.
O novo espaço é mais irreverente não só nos pratos apresentados — "um bocadinho mais complicados na sua confeção" e nos quais o homemade (caseiro, em português) é levado ao máximo —, mas também no horário.
A Olivia é um espaço (escusado será dizer, pet friendly) para pequeno-almoço, brunch e almoço, mas também para um copo ao final do dia e um jantar mais demorado num ambiente descontraído de tons terra e verdes das plantas (que o Nicolau, para já, não derrubou) e com peças de cerâmica da ceramista Anna Westerlund e da marca GRAU° Cerâmica.
"Apostámos mais na vertente do jantar e na questão dos sharing plates ('pratos para partilhar', em português). Que é basicamente poder vir beber um copo e partilhar comida. Porque às vezes as pessoas às 21 horas podem não querer vir ter um grande jantar, mas vir beber um copo e partilhar qualquer coisa. E se calhar não vão partilhar uma panqueca, não faz tanto sentido a essa hora. Vão partilhar pratos que façam mais sentido", refere Bárbara.
Uma panqueca (a não ser que fosse a salgada de bacon e ovo estrelado, com maple syrup e cebola crocante, 7€) não é algo que apeteça para jantar, mas o mesmo não se pode dizer de uma pizza de massa de fermentação natural feita no Olivia, acabadinha de sair do forno. Existem quatro variedades, desde a pizza Olivia, com queijo e legumes assados (10,50€) até à pizza de verão, com queijo, presunto, figos, rúcula e mel (13€), que na visita ao Olivia tantas vezes vimos saltar para as mesas.
Da abóbora assada à cookie "vamos com tudo"
Ao longo do menu all day food (que é como quem diz, para todos os momentos do dia), vemos não só opções variadas com ingredientes da época, como aptas para pessoas intolerantes à lactose e glúten e também para as que preferem opções mais saudáveis, uma aposta que foi reforçada no novo espaço.
"Sempre tivemos esse foco, mas vamos aprimorando. Na parte do sharing, introduzimos aqui um bocadinho a parte do saudável e dos legumes, sendo que também temos pratos para quem é mais guloso. Não vamos fugir a isso. Até porque nós próprios não somos 100% saudáveis sempre, não é? É um equilíbrio. Tanto apetece-nos beber um sumo verde, como um copo de vinho às 19h. A ideia é flexibilidade acima de tudo", remata Bárbara.
Por falar em sumo verde (4€), "bastante refrescante e que ao mesmo tempo alimenta", por ser um best seller nos outros espaços do grupo Nicolau, aqui também tinha de estar presente. Mas a novidade na carta são os vinhos naturais (5€ o copo), isto é, não manipulados e sem químicos, pelo que o sabor é mais intenso e ao mesmo tempo agradável, como conferimos.
Quanto aos cocktails que saem do bar com letras néon e com uma zona de postigo para que quem passa na avenida do Marquês de Tomar também possa provar um bocadinho da Olivia, são apresentados os clássicos, entre eles a margarita (8€), que arriscamos a dizer que é das melhores que já provámos.
Quer os cocktails, quer o vinho, são a companhia ideal para um momento de partilha. É que a abóbora assada, com creme de queijo cabra e naan caseiro (10€) não se pode comer sozinha se quiser provar a restante oferta da carta. E desta faz parte o famosíssimo caril de gambas (13€), que de tanta fama e proveito esgotou no dia em que fomos conhecer o Olivia, pelo que já não fomos a tempo de provar.
No entanto, havia outro prato no qual já andávamos de olho: a salada de polvo Olivia, com salada verde, polvo grelhado e ovo biológico (13€). Dirá o leitor: "Curiosidade por uma salada?". Sim, porque se há coisa a que nunca damos atenção nos menus são as saladas devido a más experiências anteriores de pratos fundos com um molho de folhas de alface secas, quatro camarões do tamanho de uma moeda, uma azeitona no meio e mais de dois dígitos na conta.
Só que a do Olivia capta pela descrição, ainda mais pela apresentação e pouco mais há a dizer sobre o polvo tenro que se molha na gema de ovo pronta a rebentar sobre o feijão verde e tomate confitado.
Além deste, pedimos o tataki de atum (14€), com húmus de feijão branco, espinafres e chips de batata doce — um misto entre o saudável e o guloso.
Contudo, sejam estes ou mesmo a célebre salada Olivia, com legumes assados da época e uma proteína à escolha (preço base de 8€), tudo é leve para que se possa arranjar espaço para as sobremesas.
Dado que a Olivia abre no verão, entre as opções há uma fresca pavlova com lemon curd, natas e morangos (4,50€), logo abaixo do bolo do famoso bolo de cenoura do grupo Nicolau (4,20€). Mas a dona, sendo mais irreverente, decidiu criar uma nova sobremesa, que é como a junção do já existente brownie vegan (4€) e das cookies da moda.
Chama-se Cookie Olivia, que por entre cookie de chocolate tem um creme de queijo fresco e frutos vermelhos para cortar o doce intenso do chocolate (4,20€). Lembra-se do foco no saudável presente noutras partes da ementa? Aqui cai e a cookie torna-se o exemplo perfeito de equilíbrio.
"Esta é mesmo a loucura, tipo ‘vamos com tudo’. E tem sido o que tem vendido mais. As cookies estão bastante na moda, mas quis fazer diferente com esta mistura entre cookie e brownie", contou-nos Bárbara Pinto. Nós fomos com tudo e viemos sem nada, porque desta cookie nem uma migalha sobrou.