Andrea Saraiva viveu seis meses em São Paulo a propósito de uma bolsa de investigação que recebeu. Vasco Oliveira, o namorado, já tinha estado na mesma cidade, durante mais tempo, anos antes de se conhecerem. Foi ele que lhe apresentou as tapiocas e, juntos, começaram a interessar-se cada vez mais por este produto tipicamente brasileiro.

O resultado da investigação de Andrea acabou por ser diferente do esperado. Mais do que pesquisar sobre os temas a que se tinha proposto, ligados à área das ciências da comunicação, acabou por explorar o universo deste preparado que nasce da mandioca. Mesmo depois de regressar a Portugal, o casal continuou a fazer viagens até ao Brasil. A paragem mais importante foi Olinda, a cidade do nordeste brasileiro elevada a Património Histórico e Cultural da Humanidade, pela UNESCO, onde nasce a tapioca e que tem fortes manifestações culturais portuguesas, refletidas, por exemplo, nos azulejos.

“Apaixonamo-nos pela narrativa, pela autenticidade da terra, onde a tapioca foi elevada a Património Imaterial e Cultural da cidade”, diz Andrea à MAGG. “A tapioca de Olinda não tem nada a ver com a do Rio de Janeiro ou São Paulo. É completamente diferente e muito característica.”

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Visitaram uma tapioqueira descendente de índios, portugueses e holandeses que lhes ensinou a receita e ritual artesanal para fazer a tapioca. Aprenderam a preparar a fécula, que é a sua base, bem como os recheios mais tradicionais, que têm como protagonista o queijo coalho.

Com a lição bem aprendida, rumaram novamente a Lisboa. Andrea fez uma pausa no seu doutoramento e Vasco no seu trabalho em artes visuais, ligado ao cinema. Concentraram-se num novo projeto que ganhou corpo no final de maio no número 117 e 179 da Calçada da Estrela, em Lisboa: chama-se OHLINDA e diz ser o primeiro espaço a trazer a tapioca original a Portugal.

Com planos de crescimento, a localização do primeiro espaço não surge ao acaso: “ Achámos interessante porque em Olinda há um enorme património de azulejos portugueses, tal como na Estrela. Queremos preservar esta vertente das ligações culturais.”

Na carta existem quatro tipo de produtos: as tapiocas tradicionais, as contemporâneas, os combinados e outros produtos, como sumos naturais, entradas, acompanhamentos ou ainda o açaí em tigela.

É no primeiro grupo que vai encontrar as sete versões mais genuínas da tapioca — de origem indígena, consumida desde o século XVI e adaptada pelos portugueses — divididas entre doces e salgadas. Há a tapioca de bacalhau temperado com queijo coalho (6,25€), a de camarão temperado com queijo coalho (6,95€), com coco fresco e queijo coalho (2,15€), ou ainda banana assada com coco fresco, queijo coalho, leite condensado e canela (4,4€).

OHLINDA. As verdadeiras tapiocas do nordeste brasileiro chegaram à Estrela
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O OHLINDA tem cerca de 60 metros quadrados e 20 lugares sentados. Todos os produtos são cozinhados à vista dos clientes. Andrea Saraiva garante que não há enlatados — tudo é fresco e cozinhado de raiz, exatamente como aprenderam e mandam os costumes do sítio onde nasceu o produto central do novo espaço da Estrela.