Na porta 8B do Largo do Picadeiro, no coração do Chiado, em Lisboa, está, desde o verão de 2022, o Oitto, o mais recente projeto do chef Carlos Afonso. Este restaurante acolhedor e confortável é especializado em pratos aconchegantes da gastronomia portuguesa.
"É o meu maior projeto até agora e surpreendeu as minhas expetativas. Antigamente, era só cozinhar. Agora, é uma operação muito mais complexa para ter o barco a navegar. Gerir um restaurante e ser chef de cozinha é um desafio", admite o chef, em conversa com a MAGG.
O Oitto tem 50 lugares no piso de baixo, 12 ao balcão, 20 na esplanada e ainda uma mesa do chef, uma zona mais privada para entre seis a 12 pessoas, no piso superior. O restaurante está sempre em mudança, pelo que pode contar com inovação e novidades constantes.
Este chef alentejano tem uma cozinha bastante cítrica. "São ingredientes que potenciam o sabor, que equilibram e que harmonizam. Acho que marcam muita presença no prato", justifica. A carta do Oitto é mudada de quatro em quatro meses, "para ser estimulante para a equipa e não ser cansativo".
Estas alterações estão longe de serem drásticas. "Enquanto conceito gastronómico, já conhecemos o nosso público", crê o chef de 36 anos, que optou por deixar cair os tachos de cobre e pratos como pica-pau e alheira, passando a criar propostas com "mais foco e cuidado com o detalhe".
"Abrimos com uma expetativa completamente diferente. Tudo o que sabia cozinhar melhor, hoje já não faço", recorda, indo ao encontro do que os clientes procuram: uma "cozinha de técnica". "Os negócios é que nos mostram o caminho", defende.
A nossa experiência no Oitto começou com o couvert, uma seleção de pães, com manteiga cítrica dos Açores com paprika, flor de sal e azeite selecionado (3,50€), e com uma amuse-bouche, um puré de cogumelos com natas, que apreciámos bastante, mesmo torcendo o nariz a cogumelos desde sempre.
"O ceviche sai bastante e o tártaro também", informou-nos o chef de sala, Ricardo Raposo, enquanto tentávamos escolher as entradas. Confiámos nas massas (não literais) e acabámos por provar um dos melhores ceviches que já comemos. Ficámos arrebatados pela frescura, mas também pela quantidade de texturas e sabores.
"Vamos não ao bom ceviche de corvina, mas ao delicioso", avisou-nos o chef de sala, de antemão, sobre este prato que custa 14,50€ e que leva corvina, molho branco de leite de tigre, óleo de espinafres, citrinos, cebola, puré de batata doce e yuzu ("tipo caviar de vinagre").
O tártaro leva maionese de alho, alcaparras, sementes de mostarda, pickles, salsa, óleo verde, caviar de vinagre e gema de ovo braseada e custa 13,90€. Surge acompanhado por tostas "para não se tornar tão enjoativo", de acordo com Ricardo Raposo. E até as tostas eram deliciosas.
Todas as entradas são feitas no momento e pudemos assistir, em primeira fila, à magia feita pelo chef, que empratava tudo cuidadosamente (inclusive as flores que, com precisão, espalhava pelas suas criações). Para prato-protagonista, fomos novamente para a corvina.
Neste arroz de corvina com coentros e bivalves (17,50€), o peixe é grelhado no josper e leva sumo de limão, molho de manteiga e de ostras e ovas. "O sabor meio doce do arroz torna-se viciante", alertou-nos o chef de sala. À primeira garfada, entendemos porquê. E repetíamos semanalmente, sem pensar duas vezes.
Para prato de carne, fomos aconselhados a experimentar uma das novidades da carta de inverno: a terrina de bochecha de vaca velha estufada quatro horas em vinho do Porto, com puré de couve flor e molho trufado. "Fazíamos com puré de cogumelos, mas trocámos para couve flor, porque achámos que ligava melhor os sabores", contou-nos Carlos Afonso.
E porque para a sobremesa há sempre espaço, ficámos a conhecer a bestseller, uma mousse de chocolate com avelãs e caramelo salgado (5,50€), bem gulosa. O nosso jantar contou com harmonização. O tinto Roquette & Cazes, de 2020, e os brancos Três Bagos e Lacrau, ambos de 2022, foram algumas das opções que nos encheram o copo.
Ficam por provar sugestões como o bife de espadarte levemente corado com cebolada e esmagada de batata, o arroz malandrinho de camarão à portuguesa e a presa e porco ibérica, com migas e molho holandês. No entanto, não será nenhuma destas a nossa escolha da próxima vez que visitarmos o Oitto.
Vamos aparecer especificamente a um domingo para podermos provar o Especial de Cabrito, confecionado em forno de lenha e acompanhado por arroz de forno e enchidos. De momento, fazem jantares todos os dias e almoços apenas de sexta-feira a domingo, mas o chef Carlos Afonso tem como objetivo passar a servi-los a semana inteira.
A partir do momento em que entramos no Oitto, damos conta dos diferentes ambientes do espaçoso restaurante — e até a casa de banho é de visita obrigatória. Se olhar com atenção para as paredes, encontrará um botão que, ao ser pressionado, faz com que apareça champanhe na sua mesa.
São estes detalhes, assim como a simpatia do staff e o cuidado na elaboração de cada prato, que tornam o "desafio" de Carlos Afonso numa visita obrigatória, que certamente o deixará com vontade de repetir para conhecer a restante carta, assim como sucedeu connosco.
Quando reuniu com os sócios, o chef sabia que estavam alinhados quanto ao que queriam que o nome do projeto refletisse: "evolução, futuro e prosperidade". "A porta era o número 8, que, deitado, é o símbolo do infinito, e significa recomeço. O 8 tem tudo que ver. Identifica-se com a nossa missão de valores. E o duplo 'T' do logótipo faz uma mesa", conclui Carlos Afonso.
"Investi, abri o restaurante, e passados dois meses, fui pai. É uma aventura", reconhece o chef, que foi pai de Benedita a 14 de outubro de 2022, fruto da relação que mantém com a apresentadora Alice Alves. Os dois conheceram-se nos corredores da TVI, durante as gravações do programa de talentos "All Together Now", em 2021, onde ambos eram jurados.