Esqueça as pizzas com ananás, o pão de alho ressequido ou as massas em que nem pode mudar um ingrediente porque a receita não permite — código para já está tudo pré-feito e vai só a aquecer. No Allora, o novo restaurante do recentemente renovado Epic Sana Marquês, em Lisboa, italiano é mesmo sinónimo de boa comida, ingredientes típicos, vinho ainda melhor, e tudo isto numa atmosfera acolhedora, cosmopolita e com uma decoração de encher qualquer feed de Instagram. Ah, já mencionámos que existe uma laranjeira no centro da sala?
Com capacidade para mais de 150 pessoas, o novo Allora, com o chef Francesco Francavilla aos comandos, divide-se em três zonas distintas; bar, bar de antipasti (onde pode comer ao balcão e observar de perto a técnica dos chefs) e sala de refeições com mesas elegantes e que nos fazem sentir na mais glamorosa das trattorias italianas.
E porque não somos pessoas de fazer as coisas pela metade, se é para ter uma verdadeira experiência italiana, que assim seja. A nossa primeira paragem foi no bar, onde deixámos a escolha para quem melhor sabe: o barman. Pedidos? Apenas um: cocktails de assinatura com um toque italiano.
Foi assim que acabámos a provar o Basilico Delicato (10€), uma bebida com vermute seco, tequila, licor de ervas e cordial manjericão a 5%, e o Del Professore (10€), também com vermute, cordial de abacaxi e um pickle de abacaxi que faz toda a diferença na bebida. Ambos os cocktails não eram demasiado fortes ou pesados, mas sim com toda uma frescura que os tornaram o aperitivo perfeito para dar o pontapé de saída nesta refeição.
A seguir ao bar, chega a hora da decisão: sentar no bar de antipasti ou numa simpática (e até romântica) mesa à beira da laranjeira? Ficámos tentados com a possibilidade de ver a agitação da cozinha de perto, mas a oportunidade de ter uma conversa de adultos sem crianças a pedir pão ou a desenhar a toalha a cada cinco minutos venceu (pais entenderão o preciosa que é uma refeição a dois num restaurante decente) e optámos pela elegante mesa para receber o desfile de comida e bebida que se seguiu. Ficámos por uma sopa no dia seguinte, mas tanto que valeu a pena.
Há alguma coisa melhor do queijo e trufa? Só queijo trufado
Comer no Allora e não querer pedir 85% da carta (vá, na verdade 100%) é uma tarefa mais difícil do que irmos à boleia no exterior de um avião, qual Tom Cruise no franchise "Missão Impossível". Basta passar os olhos pela ementa para não nos conseguirmos decidir entre as várias opções, sempre com a promessa de que, aqui, estamos perante receitas originais e e fiéis à melhor cozinha italiana.
Seguimos para bingo com confiança, fugimos aos carpaccios clássicos e optamos por uma seleção de queijos DOP com compota de tangerina (22€) e seleção de charcutaria italiana DOP (20€) para começar. Da quantidade de queijos que provámos apenas um foi demasiado intenso para o nosso gosto, mas todos os outros deixaram-nos a salivar. E quando pensávamos que nada batia a combinação de queijo italiano de qualidade combinado com uma compota deliciosa, chegou a hora de provar o pecorino trufado — e ficamos sem adjetivos para classificar o sabor delicioso deste queijo italiano com o toque perfeito de trufa.
A tábua de charcutaria manteve a qualidade, com todos os salames, presuntos e restantes propostas cortadas em fatias super finas, diretamente da fiambreira do bar de antipasti. E sim, embrulhámos pequenos pedaços de queijo dentro de fatia de presunto. Vida.
Ainda no departamento das entradas, experimentámos o vitello tonato (19€), uma proposta fria de vazia branca laminada com alcaparras e anchovas, tudo envolto no molho tonato, com base de atum. Praticamente uma versão italiana do clássico terra e mar que cumpriu e nos deixou a salivar. A fechar o início da refeição, uovo fritto (18€), um ovo panado cozinhado no ponto certo (e que permite que a gema escorra ao corte) com redução de creme de queijo parmesão e trufa. Trufa e queijo, lá está. Repitam comigo: imbatível.
É ver o vídeo e tentar não salivar:
A verdade é que todas estas entradas são bem generosas e apenas a gula e a expectativa de provar as massas frescas feitas no local nos permitiu continuar. Assim, avançámos para o tortello de ricotta e spinaci (23€), onde a massa fresca é recheada com espinafres, quejo ricotta e um toque de sálvia frita. Teria vencido facilmente o primeiro lugar não fosse a segunda proposta de massa da noite, um spaghettone aglio, olio e gamberi (25€), que trocando por miúdos, é um esparguete com um diâmetro mais grosso, molho de tomate fresco, salsa e os camarões mais suaves e saborosos de sempre. A massa no ponto, e tudo ficou melhor com uma dose (algo industrial) de queijo parmesão extra por cima.
Depois de tudo isto, há que fechar com algo doce e corremos para a meta com a ajuda do tortino (12€), um bolo fondant de chocolate branco feito na hora (e que mais que justifica a espera de 15/20 minutos, um alerta dado imediatamente pelo staff), e, claro está, de um clássico tiramisù (8€), com o balanço certo entre o cacau no topo e o creme de mascarpone.
Para acompanhar tudo isto — e porque a garrafeira nos piscou o olho —, não podíamos ficar apenas por um vinho e pedimos ajuda ao sommelier do Allora, que elaborou um pairing perfeito para esta refeição. De tudo o que provámos, o destaque vai para um prosecco italiano Albino Armani (10€ o copo) e uma saborosa colheita de vinhas velhas branco, Quinta Vale do Ruivo Branco 2018 (9€ o copo).
Apesar de inserido no Epic Sana Marquês, o Allora está aberto ao público e quer mesmo potenciar os clientes externos, daí a existência de uma porta direta para o restaurante do exterior da Avenida Fontes Pereira de Melo, sem ter de passar pelo interior do hotel, e a oferta do estacionamento no parque durante a refeição.