Como boa millenial que sou, fiz o meu trabalho de casa. Já ninguém nos apanha na curva e, entre Instagram, Facebook e Zomato, saí de casa já a saber que o espaço onde escolhi almoçar era cheio de luz, tinha uns ovos incríveis e uma banda sonora a condizer — não é à toa que partilham nas redes sociais a playlist do Spotify com os clientes. E munida de todas as ferramentas, lá fui eu.
Domingo, uns belos 22 graus e a fome de quem passou a manhã a limpar o pequeno T1 que, de repente, tendo em conta o esforço, parecia ter a área de um palacete. Desce rua, sobe rua, volta a descer, ou não estivéssemos nós em Lisboa. Numa das esquinas da Praça das Flores vemos um oásis. Ainda que sem nome visível à porta, sabemos que ali é o Seagull Method, o novo espaço de Lisboa a servir dos pratos mais gulosos que temos tido oportunidade de ver sair de uma cozinha.
Talvez por isso, escolhemos o lugar mais próximo do backstage. Assim, sempre que a porta da cozinha se abre, temos vista privilegiada para o que de lá sai. Waffles, croissants, panquecas, ovos, tostas, tudo servido com a pompa e circunstância das cores da fruta da época, os toppings doces e as verduras que ajudam a montar os prato que, perdoem-me, têm mesmo que ser fotografados.
"Aqui só servimos os nossos pratos favoritos", conta-nos Hanna que, com o marido, Misha, decidiu que era Lisboa a cidade com honras de comer o que eles preparam. Chegaram da Ucrânia em 2016 e no ano seguinte abriram o Heim, um café em Santos onde ainda hoje é normal ver uma fila cá fora com gente que não se importa de esperar para comer os waffles que já se tornaram famosos na cidade.
Ainda que a ligação a Portugal tenha sido imediata, inicialmente o casal rumou de Kiev a Lagos, cidade onde vivem os pais de Misha. Ainda ajudaram uns amigos a abrir um restaurante na zona de praia e, embora tivessem trocado de país à procura de um sítio à beira-mar, perceberam que Lisboa era o destino final. "E o mar está aqui ao lado", comenta Hanna, que fala com a adrenalina de quem ainda se está a ambientar a viver entre dois espaços. É que, agora, o Heim mantém-se como o sítio ideal para um brunch, e o Seagull Method, ainda que sirva também pratos que ajudam a montar este híbrido entre pequeno-almoço e almoço, vai estar aberto todos os dias e sem pausas, a servir refeições para todas as horas do dia.
Ainda assim, decidimos desbravar o menu de brunch, que domingo é dia santo. Há croissants doces e salgados, sendo que os primeiros são recheados com doce e manteiga (2,80€) e os segundos podem ser de queijo e presunto (3,50€) ou ovos mexidos, queijo, presunto e chilli (5,10€). "Temos muitos vizinhos franceses e por isso decidimos dar-lhes o que eles gostam", justifica Hanna, que apostou numa carta internacional. Da Ucrânia, Hanna e Misha trouxeram as panquecas de queijo cottage com caramelo caseiro e fruta (5,90€), mas o nosso prato — depois de termos analisado todas as fotos do Instagram — já vinha escolhido de casa: ovos cozidos com pão pita, iogurte, óleo de paprika fumada e espargos, que a Turquia anda a chamar por nós.
Os ovos vêm no ponto, ali entre o escalfado e o cozido, suficientemente suaves para que a gema se misture com o iogurte e a paprika e, tudo junto, se transforme numa molhanga mesmo a pedir um mergulho do pão pita para que nada fique no prato.
Mas Hanna não nos deixa ficar por aqui. Tal como o portuense que faz questão de mostrar onde se come a melhor francesinha ou o lisboeta que leva as visitas aos Pastéis de Belém, também Hanna faz questão que provemos as panquecas típicas da Ucrânia e que fazem do seu pequeno-almoço uma sobremesa. São fofas e pouco doces, até porque já nos chega o caramelo caseiro que as envolve. Para que a desgraça não seja total, também há fruta. E da época, como se quer, num prato cheio de morangos, amoras e mirtilos.
Tudo isto aconteceu ao som daquela música que vai entre o embalo e o mexer o ombro — e dizemos só o ombro isto porque estamos à mesa. A playlist merece que do brunch se passe ao jantar e se fique até para um copo.
Mas, desta vez, a nossa viagem ao Seagull Method fica por aqui e escusam sequer de perguntar o porquê do nome. Ou então perguntem, a Hanna ri-se sempre que isso acontece e responde sempre o mesmo. "Why not?".