O 1908 Lisboa Hotel não é novo, abriu em 2017 no edifício histórico do Intendente projetado pelo arquiteto Adães Bermudes que chegou a ser uma casa da sorte. O que é novo — e mais que justifica a nossa visita — é o menu do bar e do restaurante Infame, assim como o chef que idealizou os novos pratos. Fomos provar e aproveitámos para assimilar o novo surpreendente cocktail num dos quartos do hotel que faz esquina entre o Largo do Intendente e a Avenida Almirante Reis.

Ao entrar na unidade, percebemos que o ambiente é totalmente diferente do de um hotel. De um lado, fazia-se a festa própria de uma sexta-feira à noite e pediam-se copos de vinho e cocktails para pôr a conversa em dia com amigos antes do jantar; do outro, à esquerda da entrada, estava o restaurante já com uma atmosfera mais calma, mas ainda assim descontraída.

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A decoração contribui para a vida de cada um dos espaços, desde logo pelas obras chamativas de Bordalo II, combinadas com plantas suspensas, sofás vintage e luzes néon que ficam bem em qualquer Instagram — espalhando assim pelo mundo a unidade que foi vencedora do prémio Europe’s Leading Design Hotel em 2018, 2019 e 2020 nos World Travel Awards.

Deixámos a zona do bar para último, e antes disso, fomos então conhecer o que andou a preparar o chef André Rebelo, que assumiu a cozinha do Infame em setembro do ano passado, aquando a reabertura do hotel após a pandemia.

Uma abóbora com piscina para repetir em casa

Infame parece um presságio para algo menos positivo. Contudo, não foi o que aconteceu no restaurante do 1908 Lisboa Hotel. Sinal disso é que depois de ocupar a mesa demorámos uns largos 20 minutos a escolher as entradas e mais uns 30 (sem exageros) a escolher os pratos.

É que ao ler a descrição de cada prato tudo parecia apetecível dificultando a decisão. Apesar de nos falarem maravilhas do ceviche de salmão (11,50€), presença assídua noutras ementas, quisemos provar algo inovador.

Apostámos as fichas nas gyosas de ostra e beurre blanc (9€), mas a verdade é que não ficámos rendidos. Em vez de gyosas que nadam na boca, parecia um crepe frito com um molho de beurre blanc quase inexistente e um recheio, esse sim, saboroso (mas em tudo a apresentação é diferente da das redes sociais).

Talvez seja uma questão de gosto ou hábitos enraizados por culpa do chef Nuno Mota (mais conhecido como Alho Francês) para quem as gyosas têm de ser confecionadas seguindo uma regra: primeiro corar numa frigideira, depois colocar água e deixar cozinhar a vapor alguns minutos até ficarem com uma textura macia e ligeiramente crocante. O resultado desta receita (que já experimentámos) era o que esperávamos, mas não o que recebemos na mesa do Infame.

Como outra entrada ficou a pairar na cabeça, pedimos para fazer mais um teste. Desta vez, o kadaif — ovo biológico escalfado, cogumelos e espuma de queijo (8€). Aqui sim, ficámos deleitados por tudo o que completava o prato: o ovo escalfado na perfeição, o crocante do ninho que o envolvia e a espuma que conquista qualquer amante de queijo.

Quando após uma difícil escolha nos chegaram os pratos principais, a apresentação deixou-nos divididos: o Kraken me UP, uma lula com recheio de caril, camarão e gnocchi (18€) tinha uma beleza inquestionável, mas ao mesmo tempo a dose fez-nos pensar que precisaríamos de uma sobremesa para reforçar a refeição, e o vegetariano Pumpkin madness, metade de uma abóbora menina com uma piscina de mascarpone e ervas, acompanhada de arroz selvagem (13€) teve o efeito contrário do prato anterior e previmos alguma demora para acabar com tudo.

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De sabor, ganharam as lulas picantes e a irreverente combinação do recheio com caril, quanto à abóbora (que, spoiler alert, conseguimos acabar) estava saborosa, mas não era o que esperávamos para um restaurante de hotel dada a simplicidade do arroz e da abóbora que é possível recriar facilmente em casa — e vamos fazê-lo.

Para sobremesa elegemos a You sexy thing, uma mousse de chocolate com praliné de amendoim e azeite (6€). O que mais há a dizer sobre uma mousse com amendoim e azeite? Apenas que nada restou de tão deliciosa. Fomos para o tradicional e quem quiser outra sobremesa na mesma onda tem a torta de Azeitão, com espuma de requeijão e laranja (5€).

Framboesa pasteurizada? Nunca ouvimos falar, mas já repetíamos

Ir a um hotel cool e nem passar pelo bar é quase como passar um atestado para a reforma — a não ser exceções de cansaço extremo que, aliás, são um dos propósitos para ficar num hotel: descansar.

Como não era o caso, antes de irmos para o quarto passámos pelo bar do 1908 Lisboa Hotel para provar os novos cocktails. Tal como o restaurante Infame, a carta do bar foi abastecida em setembro e quase íamos deixando escapar uma das melhores criações.

Isto porque o nosso paladar gosta de bebidas menos doces e ao ler os ingredientes do Infame In da Club (9,50€) — Gin Tanqueray London Dry, framboesa e St. Germain — achámos que não fosse o caso.

Contudo, disseram-nos que este era o mais concorrido e não hesitámos. Ainda sem provar uma gota, compreendemos porquê: a apresentação é sublime e todo o cuidado é pouco ao tocar no copo que está revestido por uma capa rosa de framboesa pasteurizada, explicaram-nos. Essa mesma framboesa é usada para a espécie de chip que tapa o néctar alcoólico dos deuses que, afinal, não é nada doce e tem até um travo amargo da framboesa.

Além deste, pedimos ainda o Sea Basil Smash, com Gin Tanqueray London Dry, Manjericão, água de coco e espuma cítrica (9,50€), cocktail leve que assenta mesmo bem após um jantar que se prolonga em convívio. Foi assim, em festa de cocktails e ao lado da mosca que decora a zona do bar, que terminámos a noite.

Arriscamos a dizer: foi o melhor colchão em que já dormimos

O hotel no Intendente é maioritariamente ocupado por estrangeiros que estão de passagem. Apesar de portugueses, cumprimos com a tendência e ficámos apenas uma noite, mas arriscamos a dizer que foi uma das melhores que tivemos devido a um fator principal: o colchão, o melhor em que já dormimos (talvez até experimentar os conceituados colchões da Hästens que estão no hotel Hästens Sleep Spa, em Coimbra), já para não falar das almofadas grandes e gordas, como se quer num hotel.

Fora este pormenor, que se estende a todos os quartos, os quartos king (existem três mais um em formato duplex no topo do hotel) têm o extra de ter uma vista privilegiada para o Largo do Intendente e para a Avenida Almirante Reis por estarem situados na frente do edifício.

Há outros aspetos que também marcam a diferença na estadia no 1908 Lisboa Hotel, como o vinho do Porto e bombons do mesmo à chegada, o acordar ao mesmo tempo que a cidade e ouvir os primeiros elétricos a passar — só quem gosta do ambiente citadino vai conseguir apreciar o transporte a passar nos carris da avenida mais longa de Lisboa — e ainda a famosa banheira larga que só está presente em alguns dos quartos do hotel.

A unidade já adotou com medidas sustentáveis, como a escova de dentes feita com plásticos reciclados disponibilizada aos hóspedes e a toalha de maquilhagem que substitui os discos descartáveis, só falta combiná-las com o fim dos amenities, adotando em vez disso dispensadores em sistema de refil para evitar o descarte das pequenas embalagens de plástico.

Toalha para remover maquilhagem
Toalha para remover maquilhagem Toalha para remover maquilhagem créditos: MAGG

Quanto à água que se gasta para encher as banheiras, aí já parte das práticas dos hóspedes, mas acreditamos, esperançosamente, que se encham mais de estilo para sessões fotográficas do que litros de água para 10 minutos de banho.

Após o descanso num dos melhores colchões, seguimos para o pequeno-almoço no espaço do restaurante Infame, onde a primeira coisa com que nos deparámos foi com uma garrafa de espumante aberta. Mais à frente vimos o dispensador de sumo de laranja natural e logo percebemos o propósito: porque não terminar o dia com um elegante Infame In da Club e retomá-lo em festa com uma mimosa?

Pequeno-almoço
Pequeno-almoço Pequeno-almoço créditos: MAGG

Para acompanhar, há seleção de pães, croissants, queijos variados, maçã assada em vinho do Porto, framboesas frescas e granola recheada de frutos secos para juntar ao iogurte natural.

O Infame serve ainda pequenos-almoços (menu por 15€) todos os dias e brunch ao domingo (menu Infame e vegan por 17€ e brunch para crianças por 8€) a não hóspedes.

Uma noite no 1908 Lisboa Hotel custa a partir de 145€. Já o quarto king custa a partir de 200€ — ambos com pequeno-almoço incluído.

1908 Lisboa Hotel

Localização: Largo do Intendente Pina Manique n.6, 1100-285 Lisboa, Portugal
Reservas: +351 218 804 000/ reservations@1908lisboahotel.com

Infame

  • Reservas: eat@infame.pt/ 218 804 008
  • Horário: de domingo a quinta-feira das 12h às 22h30; sexta-feira e sábado até às 23h
  • Horário de brunch: domingos das 11h30 às 16h

Bar e Esplanada

  • Horário: de domingo a quinta-feira, das 12h às 00h; sexta-feira e sábado das 12h às 02h