Esclarecimento inicial: canyoning não tem nada a ver com canoagem. O desporto, que nasceu no final da década de 1960, ganhou forma quando os espeleologistas começaram a praticar as técnicas de exploração de rochas, penhascos e cursos de água fora das cavernas.

Então o que é, afinal, canyoning? "Explorar de perto as cascatas e linhas de água encaixadas, percorrendo piscinas naturais, tobogãs, desníveis e quedas de água, com recurso a equipamento próprio e a técnicas apuradas (nadar, saltar, escorregar e rappelling – uso de cordas)", é a definição disponível no site do Arouca Geopark, do qual faz parte o percurso que realizámos numa manhã quente de Agosto.

Traços D'Outrora. De uma aldeia abandonada nasceu um refúgio de descanso na natureza
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Depois de termos dormido na aldeia de Trebilhadouro, no alojamento turístico Traços D'Outrora, partimos em direção a Arouca, até ao ponto de encontro, ao pé da câmara municipal, de onde partimos em direção a Rio de Frades.

A pequenina aldeia, que tem também o nome do rio, fica a cerca de 30 minutos da cidade, por estradas que, estando alcatroadas, são estreitas e sinuosas e podem provocar aquele friozinho na barriga a quem, como eu, tenho um ligeiro pânico de alturas.

Aldeia de Rio de Frades
Aldeia de Rio de Frades Aldeia de Rio de Frades créditos: MAGG

Depois de uma noite de sono retemperador, o corpo estava a pedir ação. E adrenalina. E emoções fortes. E tivemos direito a tudo, num grupo ecléctico (belgas, alemães e espanhóis), em que eu era a única portuguesa. Se me senti desenquadrada? Não. Entre saltos de penhascos e mergulhos em lagoas, lá fui dando dicas sobre tascos, francesinhas e explicando a diferença entre 'obrigado' e 'obrigada'.

Os anfitriões desta aventura, Cristiana Rocha, Gonçalo Gomes e Bruno Costa, do Clube do Paiva, foram os nossos guias, técnicos experimentados e que nos mantêm animados e seguros ao longo desta aventura.

Cristiana Rocha, Gonçalo Gomes e Bruno Costa
Cristiana Rocha, Gonçalo Gomes e Bruno Costa Cristiana Rocha, Gonçalo Gomes e Bruno Costa créditos: MAGG

Antes que o Verão acabe, eis 9 razões para fazer uma das pistas de canyoning em Arouca.

1 - O ego desaparece depois do primeiro trambolhão

Após uma caminhada sob sol escaldante (com fato de neoprene, colete, capacete e arnês já postos, só para ajudar à festa), durante a qual se pode ver o que resta das minas de extração de volfrâmio, chegamos ao rio. Com o corpo a pingar suor, o primeiro mergulho sabe às mil maravilhas. A primeira tentativa de caminhar sobre as águas, qual Jesus Cristo, resulta no primeiro trambolhão. O primeiro de muitos. As pedras obviamente molhadas, além de cobertas de musgo, fazem com que, apesar de ridículo, seja muito mais seguro andar sentado, com o rabo a arrastar rocha abaixo. É bonito, não é? Mas quem quer desfilar, não faz canyoning, vai para uma passerelle.

canyoning
canyoning créditos: MAGG

2 - Ultrapassar os medos

Já tinha feito um percurso de canyoning na serra da Lousã mas não com saltos tão altos como estes (oito, 10 e 11 metros). Já mencionei acima mas volto a relembrar: sou uma pessoa que tem medo de alturas. Muito medo. Medo ao ponto de nem sequer conduzir em estradas que tenham precipícios, mesmo que sejam baixos. Então que estou eu a fazer na beirinha de um penhasco, com uma lagoa gigante a quase 10 metros de altura?

É porque eu não sou de virar as costas a um desafio. Se estive para não saltar? Sim. Se, aqui que ninguém nos ouve, me vieram as lágrimas aos olhos? Verdade, verdadinha. Se saltei? Ah, pois saltei. E a sensação é... é como se saíssemos, por alguns segundos, do nosso corpo e só existisse a nossa cabeça. Em silêncio e sem peso. Estranho. Único.

3 - Espírito de equipa

Quer decidam fazer canyoning com a vossa família, grupo de amigos ou escolham aventurar-se com pessoas que não conhecem, uma coisa é certa: ninguém faz canyoning sozinho (a não ser que sejam profissionais). É preciso ultrapassar cada etapa em grupo, esperar por quem se atrasa, dar uma mãozinha a quem está mais cansado e aquele aplauso de incentivo a quem está com medo. Não é competição, é colaboração.

4 - Mergulhar, mergulhar, mergulhar

Seja de um penhasco, de uma pedra ou apenas da beirinha de uma lagoa, a parte mais divertida do canyoning são os mergulhos. O ideal é mesmo fazer esta atividade no pino do verão e começar logo pela manhã. Isto porque, a partir das três da tarde, as sombras começam a apoderar-se dos recantos das cascatas e lagoas e o que é refrescante torna-se frio e desagradável.

canyoning
canyoning créditos: MAGG

5 - Ficar 3 horas sem telemóvel

Não há qualquer hipótese, a não ser que tenha um telemóvel XPTO, à prova de água e quedas ou leve o seu dentro de uma bolsa especial. Mas teria de o enfiar dentro do fato de neoprene e só a ideia parece o mais desconfortável possível. Se tem uma câmara GoPro, pode sempre levá-la para se filmar durante as quedas mas, sinceramente, esqueça isso: desfrute que as fotos ficam por conta do Clube do Paiva. E o que é mais importante é a recordação das sensações, impossíveis de traduzir numa imagem. Vá por mim.

canyoning
canyoning créditos: DR

6 - Estar em contacto com a natureza (e com uma cobrinha marota)

Se terra, erva, mato, silvas, pedras não são a sua cena, é melhor não fazer canyoning. Entre as poças, cascatas e lagoas, há caminho a percorrer e envolve pisar erva, desviar-se de galhos de árvores, subir e descer pedras, encher as mãos e os pés de terra. A recompensa é ver paisagens que dificilmente alcançaria por percursos pedestres. Durante o nosso percurso de canyoning tivemos o bónus de avistar uma cobra de água (que, além de não ser perigosa, fugiu assim que nos viu). Olhem para ela, não é fofinha? Eu acho.

canyoning
canyoning créditos: MAGG

7 - Fazer exercício físico

Quantas calorias se queimam durante três horas de canyoning? Para cima de muitas. Ele é rappel, que implica força nos braços e nas pernas, ele é caminhada, ele é equilíbrio, natação... Uma atividade exigente e completa que serve de antecâmara aos dois pontos seguintes.

canyoning
canyoning créditos: MAGG

8 - Comer uma bifana n'O Refúgio do Frades e conhecer o Filipe Rocha

Sabem aquelas pessoas que são "uma personagem" ? O Filipe é uma dessas pessoas. Filipe Rocha e a mulher, Helena Jacinto, têm a casa que fica no ponto mais alto de Rio de Frades. Na zona, ele é mais conhecido do que o Papa. Porquê? Porque conhece o rio, as cascatas, as lagoas e os caminhos como ninguém. E percorre-os sem calçado especial, só de chinelos e calções, sem cordas, fatos de neoprene ou outro equipamento de segurança.

Começou a fazê-lo ainda miúdo e, hoje em dia, é ele quem ajuda os bombeiros sempre que alguém se perde na zona ou se encontra em aflição, e quem vai em buscar de material que tenha ficado perdido nos caminhos ou mesmo dentro das lagoas. Nos meses de verão, Filipe a mulher abrem O Refúgio do Frades onde servem bebidas e petiscos a quem por ali passa. As bifanas são de comer e chorar por mais.

Refúgio do Frades
Refúgio do Frades créditos: MAGG

9 - Regressar a Arouca e levar um docinho para casa

Pode ser uma meia lua (massa de regueifa recheada com doce de ovos e canela), uma regueifa de coco, umas pedras parideiras ou mesmo, se quiser uma overdose de açúcar, uma alheira doce. O que não falta nas pastelarias de Arouca são delícias doces para repor as calorias gastas durante o canyoning. Recomendo a confeitaria Rainha ou a Casa dos Doces Conventuais de Arouca. 

O percurso de canyoning que fizemos custa 70€ por pessoa e pode ser feito por crianças a partir dos 12 anos. Para mais informações pode consultar o site do Clube do Paiva ou contactar a empresa através do +351 965424146 ou do email info@clubedopaiva.com.

*A MAGG fez canyoning a convite do Clube do Paiva