Contrariamente aos dias anteriores, o último dia de NOS Alive, que acontece este sábado, 8 de julho, foi de muito calor. Claro que nos estamos a referir ao tempo, mas temos de admitir: não há melhor forma de nos aquecer ainda mais o coração do que ver duas artistas portuguesas a subir, pela primeira vez, ao palco principal do festival do Passeio Marítimo de Algés.

Sim, estamos a falar do concerto de Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes. Estas que são duas das vozes mais sonantes do panorama atual da indústria musical portuguesa, juntas no mesmo palco, deram um espetáculo que, apesar dos mais de 70 minutos por que foi composto, passou num tirinho.

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Com uma alegria contagiante, o concerto foi uma verdadeira celebração da arte que as une, da conexão entre ambas e aqueles que, à torreira do sol, aguardavam ansiosamente por este momento simbólico, e da amizade que construíram. Já para não dizer que foi um boost de energia, graças ao facto de as artistas não deixarem que ninguém estivesse apático – mesmo que, em certos momentos, houvesse quem tivesse aquela lágrima anticlimática no canto do olho.

Às vezes a solo, outras em conjunto, revezando os versos das canções (bem conhecidas) uma da outra, mas sempre impecavelmente afinadas, Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco proporcionaram uma experiência única que, certamente, ficará guardada na memória de quem passou pela 15.ª edição do NOS Alive. Eis alguns destaques deste espetáculo.

1. Somos fãs de uma boa estética (e esta não desapontou)

barbara tinoco
créditos: NOS Alive

Já o dissemos aquando do concerto de Lizzo, mas esta é uma ideia que não nos cansamos de reiterar: a estética pode não ser tudo, mas ajuda qualquer espetáculo a vingar. No concerto de Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes, isto ficou patente – e até nos transportou para outra dimensão. Nós explicamos.

Por momentos, o Passeio Marítimo de Algés deixou de ser um festival e passou a ser um videojogo – e nós, espectadores, tanto éramos peões desta espécie de simulação como quem a comandava. Com uma estética inspirada nos jogos dos anos 90, em que os gráficos pixelizados eram o expoente máximo da tecnologia, o concerto só começou depois de os jogadores passarem o primeiro nível: aplaudirem de forma audível.

Foram necessárias algumas tentativas, já que a frase "aplausos insuficientes" estava escarrapachada no grande ecrã. Contudo, não tardou muito até o "modo caos" entrar em vigor e a viagem pelo universo Tinoco-Deslandes começar, indo acompanhando o repertório de sensações que as músicas de ambas as cantoras transmitiam – e, tal como num videojogo, até havia vidas que iam sendo conquistadas e perdidas.

E porque a estética anda de mãos dadas com os looks, podemos falar da coordenação impecável entre as artistas, a banda e o cenário no geral? Ainda que o ditado diga que quarta-feira é que é dia de usar rosa – olá, "Giras e Terríveis" –, Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes deixaram patente que esta cor é para ser usada quando e como quisermos.

2. Uma Kiss Cam que foi testemunha de vários tipos de amor

Ainda dentro do videojogo que foi este concerto, uma das missões impostas foi a distribuição de beijos alheios. À semelhança das competições de NBA, o espetáculo contou com uma Kiss Cam (câmara de beijos, em português), na qual dois espectadores eram colocados dentro de um coração gigante e deveriam beijar-se.

Quando "A Vida Toda", de Carolina Deslandes, começou a tocar, a Kiss Cam foi ligada e, de um ponto de vista romântico, não foi lá muito bem sucedida. Por falta de sorte, calhou quase sempre em pessoas que não estabeleciam uma relação amorosa entre si – e foi um momento que fez algumas gargalhadas ecoarem pelo recinto, aquando das situações constrangedoras que causou.

Ainda assim, foi prova de uma coisa: que podemos amar-nos uns aos outros de formas tão puras, sem termos necessariamente de estarmos envolvidos de forma romântica. Também houve demonstrações de afetos de casais, mas dos abraços e beijos entre amigos aos afetos entre pais e filhos, este momento foi a prova de que há mais amores que, já dizia a cantora, são para a vida toda.

3. Entre canções, houve tempo para um hino à amizade (e ao feminismo)

Durante muito tempo, a indústria comparou Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco à água e ao azeite – não podiam misturar-se, vá. Isto é, por serem ambas artistas pop, cantarem sobre os mesmos temas e terem timbres que, aos ouvidos de muitos, se assemelham, deviam ser tratadas como competição uma da outra.

Não, esta não é uma ideia do arco da velha – foi, aliás, uma realidade confirmada por ambas as artistas em palco. "No meu primeiro concerto, no meu primeiro alinhamento, eu cantava uma canção da Carolina", começou por explicar Bárbara Tinoco, acrescentando que foi encorajada a deixar de fazê-lo. "Não podes cantar essa música da Carol, as pessoas já dizem que vocês são muito parecidas", continuou, reproduzindo aquilo que, em tempos, ouviu.

Dúvidas houvesse em relação ao sentimento que as une, o concerto foi o suficiente para dizimá-las – na verdade, fomos espectadores de duas amigas a terem uma espécie de festa de pijama adolescente em cima do palco. Até porque, em vários momentos, iam tecendo elogios mutuamente, trocando carícias breves e não pudemos deixar de reparar no olhar emotivo com que se encaravam nos momentos de silêncio, provando que juntas têm "'bueda' força", como frisou Carolina Deslandes.

E mais do que uma prova de amizade, este concerto foi uma lição para todos aqueles que, diariamente, tentam incutir nas artistas a sensação de que têm de ser inimigas para conseguirem vingar. "Não há ódio na concorrência, há amizade. E não nos largamos desde o dia em que nos conhecemos", concluiu a cantora.

Veja mais fotos do concerto.