Como diz a juventude dos TikToks e afins, é o mundo de Lizzo e nós só vivemos nele. Pode uma alma millennial, angustiada pelo existencialismo cruel de ter vivido na era dourada do mundo que foram os anos 90, assistir sem ceticismo a um concerto pleno de amor, aceitação e alegria como o de Lizzo? Pode, sim senhores.

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Dizem à boca pequena que o Alive já teve melhores dias, que as marcas tomaram conta da alma do festival e que o espírito rock se rendeu à pop. Nós não somos de intrigas mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve, este é o cartaz que mais nos agrada desde 2007. A começar pelo equilíbrio na escolha de artistas. Houve Red Hot Chili Peppers para a velha guarda, houve Lil Nas X para a Gen X e hoje há Sam Smith para agradar a gregos e troianos. É também a edição com mais diversidade e mulheres no palco principal, duas das quais são portuguesas e atuam este sábado (estamos a falar de Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco, claro está).

"É a primeira vez que estou em Lisboa?". Confusa ou a brincar com o público português na sua estreia em solo luso, Lizzo tinha atuado no Mad Cool Festival, em Madrid, no dia 6 de julho. Mas sabia a quantas andava. A artista norte-americana de 35 anos não só estudou bem a lição como a partilhou com os fãs, ao longo de mais de uma hora de concerto, dizendo muitos "obrigado!", "Lisboaaaaa!", "Portugalllll" e ainda "ponto final!". No final, a cidade já estava rebatizada como Lizzoboa (não desgostamos).

Flautista, com estudos em música clássica, Melissa Viviane Jefferson aterrou no NOS Alive com quatro álbuns no currículo, embora apenas os dois mais recentes ("Cuz I Love You", de 2019, e "Special", de 2022) sejam mais conhecidos e saiu do palco principal do Passeio Marítimo de Algés numa bolha de amor (sabemos que a expressão está gasta mas tínhamos de a usar).

3 destaques do concerto de Lizzo no NOS Alive

1. A estética não é tudo (mas que ajuda, lá isso ajuda)

Uma mudança de roupa, de um fato estilo dominatrix / cowgirl para um conjunto dourado, bailarinos com outfits a condizer, um cenário com néons estilo o filme "Cocktail" e muitas imagens da cantora a passarem nos intervalos dos sets de músicas. Tudo pensado para um espectáculo que é, além de música, entretenimento, e que faz corar de inveja muitos concertos a título individual.

Lizzo no nos alive 2023
Lizzo no NOS Alive 2023 créditos: José Fernandes / NOS Alive

2. Tripla ameaça e uma execução perfeita

Lizzo estudou música clássica e é flautista profissional, além de ter um aparelho vocal poderosíssimo e dançar. Todas as valências de uma artista que mistura as influências do hip hop, da soul e do jazz, num pop orelhudo, empoderador. Em palco, a cantora de 35 anos dá tudo, acompanhando as bailarinas, cantando em plenos pulmões sem qualquer desafinanço, tocando flauta enquanto faz twerk. E, por falar em twerk, ainda estamos para perceber porque é que, nos momentos em que Lizzo sacudiu o rabiosque, as câmaras que estavam a captar as imagens que eram projetadas nos ecrãs gigantes, se desviaram do momento. Não gostam de um juicy ass?

Lizzo no NOS Alive 2023
créditos: José Fernandes / NOS Alive

3. 500 "bitch!" e amor, amor, amor para toda a gente

"Quando foi a última vez que disseram algo gentil sobre vocês mesmos?". O que faltou de contacto com o público no primeiro dia do NOS Alive, houve de sobra para toda a gente no segundo. As interações genuínas de Lizzo, cheias de carinho para com o público, complementaram de forma perfeita uma atuação competente, pop e divertida. Lizzo é "that bitch", como gosta tantas vezes de dizer, e a palavra (que tem de ser interpretada de forma ternurenta) foi a mais repetida ao longo da noite. Em "Jerome", e apesar de ainda ser final de tarde, o recinto do Passeio Marítimo de Algés iluminou-se com as lanternas dos telemóveis. Houve emoção quando Lizzo cantou parte de "Yellow", dos Coldplay, que disse ser a sua banda favorita, e até um momento para atender a pedidos do público.

A artista cantou várias vezes os parabéns a quem, nas filas da frente, lhe fez o pedido através de cartazes, e até assinou um desses pedaços de cartolina, de um fã que escreveu que estava ali só por causa dela. Quando um admirador lhe fez sinal com o telemóvel para que fizesse um BeReal (rede social onde o objetivo é publicar fotografias captadas no momento e sem filtros), Lizzo ainda desconfiou ("não me vais atirar com o telemóvel, pois não? Vocês aqui em Portugal não fazem isso, são civilizados!", disse, aludindo ao recente episódio que envolveu a cantora Bebe Rexha) mas depois acedeu e a foto ficou gravada para a posteridade. No final do concerto, como verdadeira aliada que é, a "bad bitch" envolveu-se na bandeira LGBTQIA+, apelando também ao apoio à comunidade transgénero.

Veja as fotos do concerto de Lizzo