Este texto contém spoilers sobre "Berlim", que estreia a 29 de dezembro na Netflix. Se não quer saber pormenores, por favor não continue a ler. 

Esta é, como descreve Berlim, a sua "era dourada". A série criada por Aléx Pina e Esther Martínez Lobato conta as origens do assaltante que conquistou os fãs nas duas primeiras temporadas de "La Casa de Papel". Pedro Alonso volta a interpretar o excessivo e enigmático Andrés de Fonollosa que, acompanhado de um grupo de cinco parceiros de assalto, vai tentar arrecadar 44 milhões em joias de uma famosa leiloeira de Paris. Damián (Tristán Ulloa), Roi (Julio Peña), Keila (Michelle Jenner), Bruce (Joel Sánchez) e Cameron (Begoña Vargas) integram o bando de Berlim e, ao longo de oito episódios, o telespectador vai acompanhar a elaboração deste assalto milionário.

Ao contrário de "La Casa de Papel", que era escura e dramática, "Berlim" tem humor, acção e muita paixão. O amor (e o sexo também), mais do que o dinheiro, é o ponto que une todas as personagens e é também por ele que Berlim quase deita por terra este plano.

O que adorámos

1 - Berlim perde-se de amores e leva baile de Camille

Quem viu "La Casa de Papel" vai estranhar este Berlim tão solto, tão apaixonado pelo facto de estar apaixonado e tão imprudente. A paixão, a conquista, a perspetiva de voltar a estar enamorado movem o protagonista de tal forma que, a determinada altura, todos os planos de assalto ficam para trás. O que importa é conquistar a mulher do outro lado da janela. Que, por acaso, se trata de Camille (Samantha Siqueiros), que é 'só' a mulher do dono da leiloeira que Berlim quer assaltar, e que lhe vai dar a volta com uma pinta... esperem para ver.

2- A hilariante tensão sexual entre Keila e Bruce

Ok, a história não é nova: Keila (Michelle Jenner), a nerd do grupo, e Bruce (Joel Sánchez), o brutamontes, engatatão e com pinta de azeiteiro. Mas nem tudo parece o que é, os opostos atraem-se e o resultado são cenas hilariantes, de pura tensão sexual e que vão culminar num desfecho inesperado. "Berlim" é pródiga em tirar drama e adicionar a comédia, mesmo quando se tratam de assuntos sérios (como a situação de quase-morte em que Keila se mete).

Bruce e Keila berlim netflix
Bruce e Keila créditos: Netflix

3 - A dor de corno de Damián (e o seu rejuvenescimento)

Damián (Tristán Ulloa), o discreto professor universitário, braço direito de Berlim e cérebro de toda a operação "assalto à casa leiloeira" é um homem casado. Bem casado, pensa ele. Mal casado, descobrimos depois. O tranquilo e ponderado Damián passa por uma verdadeira revolução emocional, uma montanha-russa de tristeza e euforia que vai culminar com um despertar sexual bastante divertido. Mais uma vez, o amor e a paixão são os catalisadores desta história, em que o assalto acaba por ser completamente secundário e apenas uma desculpa para os protagonistas viveram as suas respetivas histórias de amores e desamores.

4 - A incrível cena em que Bruce canta "Stayin' Alive" dos Bee Gees

Bruce é o primeiro trabalho da carreira de Joel Sánchez. Ninguém diria, a avaliar pelo desempenho icónico que o ator espanhol de 27 anos tem na série. Sánchez foge aos estereótipos de brutamontes e engatatão, ao protagonizar vários momentos íntimos e emotivos com Keila e é dele uma das cenas mais inesperadas e hilariantes de "Berlim". A determinado momento, dentro de um carro da polícia, desata a cantar "Stayin' Alive", dos Bee Gees, de armas na mão e acompanhado nos coros por dois agentes da autoridade. Ver para crer.

5 - O jovem Roi acaba a dar conselhos a Berlim

Berlim, pese o facto de ter muita queda para o amor, não é um tipo paternal. No entanto, acolhe debaixo da sua asa um jovem Roi (Julio Peña), pensando que este, por ter tido uma infância traumática, é facilmente manipulável. E é, até certo ponto. A relação entre o assaltante sénior e o júnior é de um controlo tal que chega a ser humilhante. Mas a dinâmica entre os dois acaba por mudar quando, no auge da sua paixão tresloucada por Camille, é Roi quem tenta chamar Berlim à razão (sem sucesso) e assume uma postura pragmática quando tudo parece desmoronar à volta. 

Roi (Julio Peña)
Roi (Julio Peña) créditos: Netflix

O que podia ser melhor

1- Não se percebe bem em que tempo se passa "Berlim"

Se "La Casa de Papel" se passa no presente, "Berlim" deveria passar-se no passado. Só que, das roupas dos protagonistas aos acessórios (o mais gritante de todos, os auscultadores de última geração com que Keila anda sempre), passando pelos sítios onde a ação decorre, nada indica que esta série se passe num tempo que não o presente. Não que seja essencial para o desenrolar da trama mas é só estranho.

Os protagonistas de
Os protagonistas de "Berlim" créditos: Netflix

2 - O regresso de Alicia Sierra e Raquel Murillo é incompreensível para quem não viu "La Casa de Papel"

As inspectoras Alicia Sierra (Najwa Nimri) e Raquel Murillo (Itziar Ituño) são parte importante do universo "La Casa de Papel". Em "Berlim" voltam à acção, mas a história não consegue explicar de forma convincente, para quem não está familiarizado com a saga, o porquê de estarem ali. É, no entanto, um presente simpático para os fãs.

3 - A cena estilo "Velocidade Furiosa" é completamente despropositada

Claramente havia dinheiro para gastar na produção de "Berlim" e ninguém sabia muito bem o que fazer com ele. Então vá de recriarem uma "Velocidade Furiosa" da Wish, completamente despropositada, em que Roi coloca, de forma desnecessária, a vida de Cameron em perigo. A introdução das corridas de alta velocidade não faz qualquer sentido, a cena é estranha e não bate certo com o sentimento de proteção e com o pragmatismo que Roi tem vindo a demonstrar ao longo da história.