Chovia a potes na A6, de tal maneira que o ponteiro dos quilómetros não passava os 80. Obrigados a pôr de parte a ideia de um fim de semana de piscina e sol, decidimos entregar-nos de corpo e alma a tudo o que Alentejo tem de bom: sopas e descanso. Literalmente.
É que sem querer saltar logo para o jantar, quando ainda nem apresentamos o destino, que gaspacho era aquele com tempura de cavala? Deixem lá a chuva, já a esqueci. Isso e a hóspede com uma máscara do Chega, quem me manda a mim escolher o fim de semana da convenção.
Mas vamos organizar ideias. Estamos no Convento do Espinheiro, em Évora, para conhecer as novidades deste espaço que esteve fechado porque há um vírus no mundo que não sabe escolher entre uma pensão de beira de estrada e um hotel de 5 estrelas.
Com a democracia pandémica em mente, muniram-se de desinfetante e de regras que ditam que o pequeno-almoço, por exemplo, é servido por um funcionário, numa fila única, com hora e mesa marcadas. Mas o doce de figo continua incrível, nada temam.
O restaurante principal — o Divinus — também se adaptou às contingências e em vez de jantares de degustação demorados, encurtou a carta e agora cada um escolhe o que quer. E foi aí que percebi que tenho olho para ler nas entrelinhas das descrições do restaurante. Aquele gaspacho não era só um gaspacho. Vinha com cebola, o tomate e o pepino cortados em cubos mínimos, aos quais se junta um queijo imperceptível a quem vê, mas impossível de deixar escapar a quem prova. No topo, uma cavala em tempura. Divinus, ainda não passamos ao prato principal e já estás no meu coração.
O pão, alentejano com certeza, que aqui não esperava um pão de forma da Bimbo, e o azeite, de produção caseira, inacreditável.
A cozinha é tipicamente alentejana, mas sem enfartar. E o chef Jorge Peças não esqueceu aqueles que, indo ao Alentejo, não comem porco preto. Não se deixem enganar pelo tom monocromático do prato, a couve flor em texturas é uma explosão de sabores.
Há ainda um outro restaurante no hotel, pensado para famílias, um segmento a crescer no hotel recentemente. "Depois da pandemia, recebemos menos estrangeiros e mais portugueses em família", explica à MAGG Ricardo Barreto, diretor comercial do hotel. E por isso, transformaram o antigo forno a lenha do convento num restaurante italiano.
No Olive servem-se pizzas, claro, mas também massas e risotos, e no bar interior e no da piscina, tem sempre disponíveis refeições mais leves, como saladas e sandes. Mas fique com uma certeza: seja qual for o restaurante que escolha para a sua refeição, conte com vinhos à altura, não tivesse este hotel uma adega com dezenas de vinhos, para todos os gostos e para todos os preços. As provas de vinho são, aliás, uma das atividades disponíveis para os hóspedes, mas também para quem vem de fora.
Abrir o convento a todos
Todos podem vir provar os vinhos — com marcação prévia — assim como todos podiam vir à missa no mundo pré-covid. Não esquecer que, por ser monumento nacional, o Convento do Espinheiro está de portas abertas a todos.
Agora que as missas são escassas, o convento serve de palco a outras doutrinas. O hotel dinamiza wokshops de pão, de fotografia, de cerâmica e até de ceviche. É estar atento ao site e às redes sociais do espaço para escolher e reservar.
Caso se entusiasme, aproveite e fique uma noite, ou várias. Não é barato (quarto duplo a partir de 160€), mas há pacotes interessantes: se reservar quatro noites paga apenas três e se reservar sete paga cinco (válido de setembro a março. Garantimos que, mesmo que vá acompanhado, quase que são umas férias que tira de quem vai consigo, tal é o tamanho da cama.
É que, ainda por cima, este é um hotel que abrange dois segmentos: se quer ir com os filhos, há pizzas no Olive, peddy pappers organizados pelo hotel e até um kids club. Mas se a ideia é fazer uma pausa do mundo infantil, saiba que na piscina interior, por exemplo, as crianças só podem entrar até às 13 horas, de tarde o espaço é dos adultos. É que todos sabemos que as crianças são o melhor do mundo, mas não são o melhor de um hotel.