"Já há muito tempo que éramos para estar aqui, a tocar para vocês ao vivo, em carne e osso". Foi assim que os Jonas Brothers abordaram o facto de nunca terem subido aos palcos portugueses e o quão mais cedo isso já devia ter acontecido. Afinal, a banda foi formada em 2005 e, desde então, tem andado por todo o mundo.

O grupo, composto por Joe, Nick e Kevin, foi cabeça de cartaz deste sábado, 22 de junho, o penúltimo dia de Rock in Rio Lisboa. E dizer que foi um privilégio vê-los ao vivo é pouco – não só porque crescemos com eles na televisão, nos tempos áureos do Disney Channel, tendo sido quase a concretização de um sonho que não sabíamos que ainda estava vivo, mas porque a banda alterou as datas de todos os concertos da digressão europeia, à exceção deste.

"Europa. Estamos a alterar os nossos concertos para o final do ano. Agradecemos muito o vosso amor e apoio. Sabemos que isto é um pouco inconveniente, mas estamos ansiosos por partilhar o que está por vir", anunciaram os Jonas Brothers em abril, nas redes sociais, deixando alguns fãs portugueses em pânico – mas, como se costuma dizer, tudo está bem quando acaba bem.

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Depois do espetáculo de videomapping que invade o Parque Tejo todas as noites, numa celebração dos 20 anos da edição portuguesa, a banda entrou em palco logo de seguida, ainda o público não tinha recuperado do fogo de artifício que pintava os céus – mas pontos extra para a pontualidade, já que começaram a tocar com alguns minutos de antecedência, tendo sido autênticos animais de palco desde o começo.

O espetáculo foi uma autêntica ida ao baú, mas daquelas que deixam o coração quentinho e a latejar de nostalgia. Uma parte da setlist foi dedicada aos êxitos de "Camp Rock", o filme da Disney que o grupo protagonizou juntamente com Demi Lovato, mas também houve espaço para os irmãos (ou Joe e Nick, pelo menos, mas já lá vamos) brilharem a solo ou fazerem covers que fizeram a plateia tirar o pé do chão. Eis o bom e o menos bom do concerto.

O bom

A viagem a "Camp Rock"

créditos: Rock in Rio 2024

"Preparados para voltar a 2007?". Ainda Nick Jonas não tinha acabado de dizer esta frase e já o nosso coração estava aos pulos, porque sabíamos o que vinha dali. Afinal, os Jonas Brothers popularizaram-se por um filme que vai ficar para sempre na memória dos fãs do Disney Channel, "Camp Rock", e era impensável não ouvir os êxitos que daí surgiram.

Não sabemos se andamos particularmente nostálgicos devido à era de revivalismo que se tem vivido nos últimos tempos, seja com A Reunião, dos "Morangos com Açúcar", ou com a The Eras Tour, de Taylor Swift, mas não há forma mais eficaz de nos conquistarem do que com viagens aos tempos da meninice – e que jornada foi esta.

De "S.O.S" a "Play My Music", passando por "Gotta Find You", só conseguíamos olhar para o trio – agora com looks, cortes de cabelo e timbres mais maduros do que aqueles que apresentavam na época do filme, diga-se de passagem – e pensar naquele campo de férias musical que era o sonho de qualquer criança que achava que sabia cantar e que podia ser uma estrela (talvez nos tenhamos exposto demasiado, agora).

E quando Nick Jonas começa a cantar "Introducing Me"? Meus amigos, houve momentos em que a voz do cantor ficava abafada, tal não era a excitação do público. Tanto assim foi que o próprio fez questão de salientá-lo. "Nunca pensei ouvir tanta gente a cantar comigo, mas obrigado", disse. Nós é que agradecemos, Nick.

Dos covers às canções dos tempos a solo

créditos: Rock in Rio 2024

Se teríamos ficado satisfeitos com um concerto que fosse exclusivamente à boleia dos hits de "Camp Rock"? Sim, embora isso significasse que o espetáculo não teria durado mais do que, sensivelmente, meia hora. No entanto, os irmãos disseram que estavam em Lisboa para dar uma festa e essa é a palavra mais indicada para descrever o resto da setlist.

Além dos êxitos que criaram em grupo, incluindo alguns do último álbum de estúdio, simplesmente intitulado "The Album", como "Waffle House" e "Celebrate!", os irmãos também fizeram o público vibrar com outras canções icónicas, como "Sucker" e "Leave Before You Love Me", responsáveis por encerrar o espetáculo com chave de ouro.

Mas nem só com esses hits se fez a festa. De lembrar que depois do auge da popularidade da banda, entre 2005 e 2010, veio um hiato, ao qual se seguiu uma separação, tendo os irmãos só voltado a reunir-se em 2019. Pelo meio, houve canções a solo e outros projetos, que o trio também não teve medo de deixar brilhar nesta atuação – e ainda bem, porque são autênticos clássicos.

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Estamos a falar de obras como "Close", de Nick Jonas – o videoclipe com Tove Lo, que foi lançado em 2016, ainda nós está gravado na memória –, ou de "Toothbrush" e "Cake By The Ocean", dos DNCE, a banda da qual Joe Jonas foi vocalista e da qual surgiram estas canções que são capazes de fazer até os mais céticos tirar o pé do chão.

Pelo meio, ainda houve espaço para fazerem uns covers, que deixaram o seu potencial vocal brilhar (ainda) mais. Foi o caso de "Can’t Take My Eyes Off You", de Frankie Valli, ou "September", dos Earth, Wind & Fire, que fizeram com que a atmosfera de entusiasmo que se fazia sentir entre alguns membros da plateia fosse levada ao próximo nível.

O casaco de Joe Jonas

joe jonas
créditos: all rights reserved

Vivemos numa era em que as mulheres se aperaltam para os concertos e fazem grandes produções, dando tudo e mais houvesse cada vez que pisam um palco. Olhemos para Taylor Swift, por exemplo, que dá um concerto de três horas no âmbito da The Eras Tour, muda de roupa 16 vezes durante o espetáculo e outras tantas de cenário. É difícil de competir, sabemos bem.

Mas temos de admitir coletivamente que os homens se podiam esforçar mais, não? Estamos fartos de os ver montados em T-shirts farruscas, regatas aborrecidas e, no geral, peças que carecem de encanto. Embora todos os Jonas Brothers tenham contrariado essa tendência, apresentando-se mais aperaltados do que muito boa gente – Nick apostou num conjunto de ganga e Kevin no cabedal –, foi Joe que se destacou.

Ainda que tivesse uma regata por debaixo do casaco, que ficou à vista depois de o despir a meio do concerto (vamos tentar fechar os olhos a isto), foi precisamente o agasalho que se assumiu como protagonista do look e nos deixou absolutamente rendidos. Isto porque foi revigorante ver Joe Jonas a galvanizar as tachas e os brilhos, dando-lhe mais arrojo.

O assim-assim

Kevin, estás aí?

kevin jonas
créditos: Hugo Moreira | Rock in Rio Lisboa 2024

"O Kevin não está aqui". Esta frase pode ter sido proferida em 1992 por praticamente todo o elenco de "Sozinho em Casa 2", mas podia perfeitamente aplicar-se à noite de 22 de junho de 2024. Será do nome? Não sabemos, mas o que é facto é que quase nem demos por Kevin Jonas no palco.

Estamos cientes de que o irmão mais velho de Nick e Joe Jonas sempre foi mais dado à discrição – nos projetos em que participa e, no geral, na vida – e que cantar nunca foi o seu forte, ficando-se pela guitarra. Aliás, tanto assim é que, ao longo do concerto, foi mudando de instrumento algumas vezes, aproximando-se do microfone só para fazer alguns coros de fundo.

Ainda assim, gostávamos de o ter visto a fazer mais do que tocar e sorrir. O cantor mal interagiu com o público, além de ter tido parcos momentos de interação com os irmãos. Mais uma vez, não é novidade que assim seja, mas para sonhar ainda não se paga imposto, não é?

O público que foi abandonando a meio

público jonas brothers
créditos: Rita Seixas | Rock in Rio Lisboa 2024

Se, junto ao palco, o público estava ao rubro e assim permaneceu do início ao fim do espetáculo, o mesmo não se podia dizer de quem ficou mais para trás no recinto. Depois de vermos concertos em que o Parque Tejo nos fez sentir como se fôssemos sardinhas enlatadas, como Ed Sheeran ou até Macklemore, que atuou este domingo, 23 de junho, os Jonas Brothers não conseguiram a mesma proeza.

À medida que íamos dando passos atrás no recinto, a plateia ia ficando cada vez menos composta – e grande parte das pessoas começou a sair do concerto ainda nem estávamos a meio. Entre a multidão, havia imenso espaço vazio, que foi aumentando gradualmente, fazendo com que a magnitude do silêncio fosse proporcional à distância do palco.

Percebemos que o primeiro fim de semana do festival, que contou com inúmeras críticas em relação à organização na saída, possa ter deixado os festivaleiros traumatizados e que estes tenham aproveitado para ter um regresso a casa mais tranquilo, mas ver pessoas a abandonar o espetáculo não só é distrativo, como acaba por ter um efeito de bola de neve, levando outros tantos a virarem as costas aos cantores.

Por isso, malta, tenham atenção a isto: entre ficar até ao fim do espetáculo, esperar meia hora na fila do shuttle para a Gare do Oriente ou seguir em romaria até à estação de Sacavém para apanhar um comboio que vai cheio de qualquer forma, o que é que compensa mais? Pois.

Veja todas as fotos do concerto.