Ao terceiro dia de NOS Alive, o cansaço já pesa. São muito quilómetros pelo recinto, são muitas horas, é muita música. Então pensámos: que concerto vamos analisar que seja minimamente entusiasmante e não nos ponha a dormir? Excluímos desde logo Pearl Jam (#sorrynotsorryeddieveder) e fomos para os Sum 41.
Agora que já irritámos os fãs dos cabeça de cartaz do último dia de NOS Alive, vamos também enervar os entusiastas da banda canadiana liderada pelo ex-marido de Avril Lavigne. Foi um concerto competente? Foi. Foi bem mais entusiasmante do que ouvir Eddie Vedder ronronar durante duas horas? Raios, sim! Mil vezes sim.
Mas Sum 41 soa e soará sempre à banda sonora da saga mais asquerosa que o cinema mainstream norte-americano já produziu: "American Pie". "Ai, mais era tão giro e engraçado!". Hmmm, vamos concordar em discordar.
Bandas como Sum 41, Blink 182 ou Wheatus surgem na recta final dos anos 90 e marcam a cena musical de uma década que, à distância, mais parece a feirinha dos horrores da cultura pop: os anos 2000. Calças de cintura descida, emos, "Girls Gone Wild", Paris Hilton, Napster, a transformação da MTV canal de música em MTV canal de reality shows assustadores, misóginos e bardajões, um caldeirão de coisas que preferíamos esquecer, mas que estão gravadas para sempre na memória, como o 11 de setembro ou a Cimeira das Lajes.
Ah, o concerto. No final, o líder da banda, Deryck Whibley (o ex-marido de Avril Lavigne) aproveita para se despedir do público português... para sempre. Os Sum 41 vão dar o seu último concerto de sempre em janeiro de 2025 em Toronto, no Canadá, tendo já anunciado que a banda irá acabar após esta digressão. Algo que relativizamos porque, no mundo da música, estes anúncios são como aquele greatest hit de 2013, o "Irrevogável".
"Enough of the happy shit. Let's get mad", diz Whibley a uma plateia cheia de Constanças e Martins que falam sobre as próximas férias em Formentera enquanto sugam vagarosamente o seu vape. A ironia, amigos, a ironia. E, apesar de tudo, esta plateia, que tem um forte pendor a beto-privilegiado-que-vai-para-o-festival-por-a-conversa-em-dia-com-a-grupeta-gira-que-já-não-via-desde-Ibiza faz fit com o que os anos 2000 arranjaram para suceder ao grunge. Enfim, cada geração tem o rock que merece.
Os Sum 41 são extremamente competentes na energia (já para não falar de um dos bateristas mais incríveis e sexy da sempre, Frank Zummo) e, além de papelinhos coloridos, fogo e um demónio gigante, trazem uma energia incrível a este fim de tarde ventoso. Ironicamente, mais uma vez, é um cover de "We will rock you" que faz com que as hostes, maioritariamente à espera de Vedder y sus muchachos, se animem um pouco.
Ainda não chegámos àquele momento da História em que Sum 41 é antigo o suficiente para ser retro ou um guilty pleasure. São precisos, no mínimo, 30 anos e fãs com cabelos brancos. Quando os fãs de uma banda são, em 2024, corporate bros de camisa branca e calça vincada que ensaiam um mosh pit com uma Carminho lá no meio, um pensamento ensombra-nos a alma: rock is dead. Ou então está escondido algures por aí, à espera de ressuscitar.