"Country House", "The Universal", "Beetlebum", "Tender", "Coffee & TV", e a incontornável "Song 2" (sim, a tal canção do "whoo-hoo"). Êxitos atrás de êxitos que marcaram a nossa adolescência, numa altura em que, antes da grande era da internet, se ouvia música em CD, na rádio e se viam videoclipes ad nauseam na MTV Europe e no saudoso VIVA, canal de música alemão que era de um ecletismo aos dias de hoje impossível.

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Temos saudades desses tempos? Não, preferimos os tempos de hoje em que, com apenas o abrir do Spotify, podemos viajar até esses anos, com o bónus de podermos descobrir tantas outras canções dos Blur. Porque as relações com as bandas da nossa juventude, por vezes, são assim, como as amizades antigas. Não precisamos de nos vermos todos os anos para gostarmos uns dos outros. Até podem passar décadas que, quando nos reencontramos, redescobrimos rapidamente porque nos gostávamos tanto. E assim foi com os Blur, reis, senhores e fundadores da britpop, lado a lado com os Oasis (que também estão no nosso coração e não me venham com as rivalidades tipo Benfica - FC Porto que já não há pachorra).

Damon Albarn tem 55 anos. Repetimos. 55 anos. Está mais velho? Sim. Já não tem aquele ar angelical que lhe dava honras de posters na "Super Pop" e na "Bravo"? Não. Mais raios nos partam se não tem a energia, o fulgor e o respeito imenso pelo público, que tantos com metade da idade dele deveriam ter. Os Blur atuaram durante uns colossais 90 minutos e Albarn esteve endiabrado, incansável, poderoso. Ao segundo tema já se tinha misturado no meio da multidão, onde voltou uma e outra vez, empoleirando-se no gradeamento, tocando nos fãs sem medo, algo tão raro nos dias que correm, em que artistas se aproximam de forma quase higiénica, sempre protegidos de gigantes seguranças.

blur meo kalorama
Damon Albarn no meio da multidão créditos: Fotoverdiano

No céu do palco MEO, a baloiçar ao vento, a palavra "blur", em minúsculas, foi uma visão reconfortante, numa altura em que a moda no mundo da música (e não só) é escrever o nome dos artistas em maiúsculas (já paravam com isso). Depois de "Popscene", e para agarrar a multidão que estava com os ânimos mornos, sai "Beetlebum". Albarn já despiu  o casaco do fato azul, já pegou no megafone, já pegou em telemóveis, já foi, para nós, coroado rei do Kalorama. E isto ainda agora começou.

Querem ver como melhora? Topem o que este londrino de um raio disse. "Isto é muito abstracto, mas que se foda. Fui ao Museu das Marionetas. Fascinante. Obrigada por terem um Museu das Marionetas". Dá para ser mais fixe do que isto? Não dá. Aproveitamos para dizer que o Museu da Marioneta, situado na Rua da Esperança, n° 146, em Lisboa, está aberto de terça-feira a domingo, das 10 horas às 18 horas. Mais informações aqui.

Da guitarra para o piano, Damon pergunta a Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree se se estão a divertir. "Are you having fun? Extreme fun!". Aí vem mais um hit, "Coffee and TV" seguido do muito irónico "Country House". Novamente no meio da multidão, empoleirado nas grades, Albarn insta o público a abanar os braços de um lado para o outro. E o que se vê é uma onda gigante de alegria, uma emoção que nos fez ficar de lágrimas nos olhos, como poucas vezes nos aconteceu neste recinto (como aquele "Nothing Else Matters" dos Metallica, cantado em uníssono, no Rock in Rio 2008).

Temos de admitir que cometemos o erro de não ver o concerto no meio da multidão, mas sim numa zona para convidados. Com uma vista privilegiada, é certo, mas os privilégios têm custos. Mas até o que ali sucedeu serviu para fazermos uma viagem à nossa adolescência embora esta, que aconteceu em paralelo com a outra, não tenha sido tão agradável.

Percebemos que nem toda a gente quer estar com imensa atenção aos concertos e que vai a um festival só para conviver com os amigos. Percebemos e respeitamos. O que não percebemos é o porquê de a grupeta giríssima que se colou literalmente a nós insistir em estar aos berros sobre as férias, viagens e outras coisas igualmente giríssimas durante mais de uma hora, de costas voltadas para o palco, a tirar imeeeeensassss fotos (claro) e a fingirem que não éramos uma pessoa que ali estava, mas sim um poste. Um bocado como no secundário, em que éramos ignorados pelo grupo dos fixes, que só reconhecia a nossa existência quando precisava de apontamentos para o teste de História. #traumas

Em "Girls and boys", o êxito dos Blur de 1994, Damon Albarn veste o icónico casaco de fato de treino que já foi cool, já foi azeiteiro e voltou a ser ultra cool. Deve ser mesmo fixe nunca passar de moda e não se deixar levar pelas modas. Como os Blur, de resto. Com a bandeira do Orgulho Transgénero às costas, Albarn ordena a toda a gente que salte e o povo, obediente, salta, levantando uma nuvem de poeira de fazer inveja a Ivete Sangalo.

Agora sim, "Song 2". A grupeta gírissima acorda e agita-se como só os betos se sabem agitar nestas ocasiões. Quase sem movimento, mas a ocupar imenso espaço (o espaço pessoal dos outros). "Esta eu sei. É giríssima!". Ok, é a nossa deixa para abandonarmos. A pressão de grupo foi mais forte e lá rumámos nós ao chão para nos juntarmos ao comum dos mortais, não menos giríssimos, onde assistimos às últimas três canções do concerto. Come on, come on, come on / Get through it / Come on, come on, come on / Love's the greatest thing".

Foi bom, foi bonito, aprendemos a lição. Concertos na zona VIP nunca mais.

Veja as fotos do concerto dos Blur

Fotos: Fotoverdiano