Eles são Luca e Alberto. À primeira vista, parecem miúdos que só se querem divertir numa pequena vila italiana, mas, na verdade, guardam um segredo muito íntimo: o facto de serem monstros marinhos e de a sua verdadeira identidade ser revelada de cada vez que, uma vez adotada a forma humana, se molham. Problema? Os humanos estão empenhados em exterminar a espécie e não olham a meios para atingir os seus fins.

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Esta é a premissa de "Luca", o mais recente filme da Pixar que se estreou na sexta-feira, 18 de junho, no catálogo da Disney+ e que também está disponível em Portugal. Como em todos os filmes da Pixar, há uma mensagem profunda por detrás de uma história aparentemente simples. E esta fala de aceitação e tolerância numa altura em que o discurso está cada vez mais extremado.

Das comparações com o filme "Chama-me Pelo Teu Nome" às peripécias hilariantes de dois amigos decididos a conviver com quem os quer exterminar, o filme é divertido, emocionante e fofinho.

Mas se precisar de mais razões para o ver, damos-lhe cinco. Uma coisa é certa: chore ou não, acreditamos ser difícil não se envolver emocionalmente nas aventuras de Luca e Alberto em "Luca".

"Silenzio, Bruno", a mensagem contra o medo e a insegurança

Quer goste ou não do filme, deixamos-lhe esta garantia: a frase "Silenzio, Bruno" vai ficar-lhe na cabeça. O Bruno, não existe. Ou melhor, existe, mas é diferente na cabeça de cada um. Confuso? Vamos explicar melhor.

Alberto, uma das personagens principais do filme de animação, tem este hábito hilariante de apropriar-se de frases que foi ouvindo outras pessoas dizer na rua. Quando as diz, no entanto, o contexto é quase sempre diferente e muitas não fazem sentido no momento em que são usadas. "Silenzio, Bruno" é uma delas. O Bruno terá existido em algum momento, e terá sido mandado calar por alguém, mas quando Alberto a diz, o significado é outro: fazer silenciar o medo e a insegurança que castram e nos impedem de seguir em frente.

Luca, o protagonista, sempre teve um medo generalizado de viver porque foi ensinado a isso mesmo. Nomeadamente, medo de sair do mar — uma vez que é um monstro marinho — e é nesse sentido que Alberto lhe diz para silenciar o Bruno que existe dentro dele. Neste caso, o Bruno é o medo, a insegurança, o síndrome de impostor, a voz que sussurra "não és capaz".

"Uma das minhas coisas favoritas neste filme é o facto de falar sobre as vozes que existem na nossa cabeça. [A frase] diz-nos para não darmos muita importância a essas vozes, mas de uma forma tonta, e divertida, ao jeito do Alberto", revelou o realizador Enrico Casarosa em entrevista.

É uma história sobre aceitação pessoal

Alberto e Luca são monstros marinhos que querem viver como os humanos. Problema? Sempre que se molham, a sua verdadeira identidade é revelada. Problema número dois? Os humanos odeiam monstros marinhos e fazem de tudo o que está ao seu alcance para os exterminar.

Numa altura em que o discurso de ódio continua cada vez mais extremado, na internet e fora dela, "Luca" fala-nos da importância de sermos inclusivos e tolerantes, de fazer frente aos bullies, e de permitir que aqueles que se sintam diferentes, sejam protegidos e integrados na sociedade. Aqui o protagonismo recaí sobre dois monstros marinhos que, na verdade, podem representar qualquer minoria ostracizada.

Toda a mensagem fulcral do filme assenta nessa premissa, reforçada por um final emocionante e fofinho — que não revelamos para não estragar a surpresa a quem vai ver.

Quem gostou de "Chama-me Pelo Teu Nome", vai gostar de "Luca"

Tal como em "Chama-me Pelo Teu Nome", também "Luca" se passa numa vila italiana que parece acolhedora, bonita e confortável. No filme da Pixar, o verde da região cruza-se com o azul do mar e é temperado por um clima ameno, fazendo desta a localização perfeita para uma história sobre monstros marinhos que querem aprender a viver como os humanos.

Ainda que os dois filmes sejam diferentes em termos estéticos (já que "Luca" é um filme de animação), as semelhanças estão no tipo de ambiente acolhedor que a cultura italiana proporciona, mas também na relação que os protagonistas mantêm entre si. A diferença é que em "Chama-me Pelo Teu Nome", a relação dos dois é de amor, enquanto em "Luca" é de extrema cumplicidade e amizade.

Resumindo: há cultura italiana (e pasta, claro), paisagens rurais belíssimas e laços que se vão reforçando à medida que a história avança. Não há como não gostar.

É para quem gosta dos filmes da Pixar — sempre emocionantes

Seja qual for o filme da Pixar que acabe por ver, há uma certeza: chore ou não, o mais provável é que acabe, de alguma forma, emocionalmente investido na história. Foi assim com produções como "Toy Story", "Up" ou "Coco".

"Soul — Uma Aventura Com Alma", estreado no Natal de 2020, é o exemplo de uma história que embora roce o quase surreal — ao movimentar-se por diversas dimensões paralelas — consegue emocionar com maior ou menor intensidade mesmo que o assunto seja relativamente distante de quem vê (neste caso, os dilemas de um professor de jazz). É nas mensagens subliminares que se encontra a beleza dos filmes da Pixar. Se em "Soul" a mensagem passava por reforçar a importância de não desistirmos dos nossos sonhos, em "Luca" há um conforto bom na mensagem que nos diz para nunca desistirmos de sermos quem somos, contra tudo e contra todos.

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E ainda que "Luca" não seja, à partida, um filme devastador que prometa fazê-lo chegar ao fim com lágrimas nos olhos, conta uma história simples, de fácil identificação pessoal e que nos leva a transportá-la para a realidade contemporânea em que vivemos.

Está na Disney+ e não tem de pagar mais para o ver (além da subscrição)

Ao contrário de filmes como "Mulan" ou "Raya e O Último Dragão", que inicialmente estiveram disponíveis na Disney+ através de acesso pago, o mesmo não acontece com "Luca".

Isto significa que, caso já seja subscritor do serviço, pode abrir o catálogo, procurar pelo filme (na secção da Pixar) e começar a vê-lo sem ter de pagar mais por isso. E porque um filme novo não deve ser desdenhado, porque é que não haveria de o fazer? Vá por nós: temos quase a certeza de que não se vai arrepender.

Do elenco de vozes da produção fazem parte nomes como Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli e Jim Gaffigan.