O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, encheu-se este domingo, 29 de setembro, para homenagear e premiar os melhores atores e personalidades do ano nas categorias de cinema, teatro e entretenimento. Falamos dos Globos de Ouro que, neste ano, alargaram as nomeações a figuras de outras estações em plena guerra de audiências.
Talvez por isso se esperasse momentos polémicos, frenéticos e até de algum constrangimento. Afinal, a SIC continua na liderança quando a TVI faz de tudo para não perder (ainda) mais terreno. O facto de Felipa Garnel, Diretora de Programas da TVI, estar presente na gala podia ser um bom catalisador para um qualquer humorista com piadas mais fortes. Mas não aconteceu e a gala, ainda que bem realizada e respeitadora daquilo que tem vindo a ser a boa televisão da SIC, foi pouco memorável, teve pouca vontade de arriscar. Faltou humor, discórdia e punch lines mas, em contrapartida, ganhou com a atuação de Sérgio Praia como António Variações.
É que embora o ator assuma a personagem desde 2016, não há como não ficar vidrado na performance de uma das figuras que faz já parte do imaginário português. Pelo meio, houve um momento à la Óscares com trocas de envelopes numa cerimónia que só teve isso como momento mais polémico.
A MAGG esteve a acompanhar a gala desde o primeiro minuto e mostra-lhe tudo aquilo que correu bem e o que correu mal.
Coisas boas
O ritmo e o espetáculo
Logo desde o primeiro instante, a gala dos Globos de Ouro apresentou-se rica em luzes e cenários ricos. A ideia, segundo parece, era apostar na vertente do espetáculo que a televisão promove e defende. Televisão também é exuberância e, para isso, os primeiros minutos foram repletos de dança, música neoclássica e música eletrónica dançada por um grupo que mais se assemelhava a uma reinterpretação estética dos Daft Punk.
Claro que a atuação da noite, além da prestação do internacional Gavin James, foi a de Sérgio Praia no corpo e voz de António Variações. Apesar dos problemas de som, que o espectador tem de perdoar porque, afinal, é Variações, Sérgio Praia foi o artista que se sabe ao interpretar "Estou Além". O público vibrou, e nós com ele.
À falta de momentos WOW, a troca de envelopes compensou
Desconhece-se se terá sido ou não encenado, mas a verdade é que aconteceu e foi motivo de conversa nas redes sociais. Durante a apresentação de uma das categorias, João Manzarra e D. Elisa (a costureira que fez um dos vestidos de Cristina Ferreira), leram o vencedor errado na categoria de Personalidade do Ano de Moda.
Em vez de ler o nome de Sara Sampaio, a vencedora, Elisa leu o nomeado para Melhor Filme de Cinema (que tinha sido o prémio anterior) e toda a situação causou o desconforto de Manzarra, que assumiu o erro e reagiu com humor. Já o estilista Luís Carvalho, que a câmara tinha focado por momentos, não conteve o riso.
O pouco humor pertenceu a Rui Unas, Marco Horácio e Ricardo Araújo Pereira
O vestido de Diana Chaves foi ousado e os dois humoristas não deixaram passar. Além das trocas de galhardetes entre eles durante a apresentação dos nomeados para a Personalidade do Ano no Humor, falaram várias vezes do decote ousado de Diana Chaves que não escondeu o riso.
O segundo momento de humor aconteceu quando Ricardo Araújo Pereira venceu o prémio e, não estando presente, gravou um vídeo e satirizou todos os clichês a que os vencedores geralmente se prestam em palco. Além de agradecer a toda a gente com quem trabalhou este ano, leu ainda o primeiro capítulo de "Os Mais" só para ver até quando conseguia "esticar a corda".
Coisas más
Sharam Diniz como repórter na passadeira vermelha
Estreou-se como repórter na passadeira vermelha e a coisa não correu propriamente bem. Sharam Diniz começou por entrevistar Diana Chave sobre o seu vestido e a nomeação ao prémio de Personalidade do Ano de Entretenimento e não foram precisos muitos segundos para se perceber a falta de jeito de Sharam para esta função. Sem à-vontade, nervosa, sem grande carisma, tudo isso fez com que ninguém desse verdadeira importância ao que deveria ser mais importante: a entrevistada. Incapaz de preencher os silêncios (que nunca funcionam em televisão, especialmente em direto), entre as respostas de Diana Chaves, a ideia que passou foi a de uma profissional pouco preparada ou sob pressão do frenetismo da gala.
O som das palmas nas homenagens
A SIC poderia ter aprendido com o erro dos Emmys que, durante o momento de homenagem a figuras da indústria que morreram este ano, não retirou o som das palmas do público. Isto fez com que houvesse homenageados a receber mais palmas do que outros.
Com a mais recente gala dos Globos de Ouro aconteceu o mesmo. Enquanto Eduardo Beauté e Roberto Leal receberam palmas estridentes, houve figuras em que o público já não teve paciência para aplaudir. E embora o gesto seja instintivo, não deixa de ser constrangedor para as famílias e amigos de alguns dessas figuras que se veem menos acarinhadas pelo público.
Faltou humor e vontade de arriscar numa gala que foi pelo modernismo
Embora a cerimónia tenha decorrido sem grandes percalços, à exceção do momento à la Óscares com a troca de envelopes, foi tudo muito sério e pouco memorável.
Faltou humor e humoristas que, através daquilo que melhor sabem fazer, desafiassem o status quo, provocassem, criassem momentos WOW e deixassem algum embaraço na sala — especialmente numa altura em que havia tanto por onde pegar. Um dos exemplos podia ser o facto de a SIC, líder de audiências, ter a TVI e a RTP representadas na gala.
Um dos momentos que referiu a guerra das audiências aconteceu quando, depois do agradecimento de Ricardo Araújo Pereira em vídeo (por não estar presente), Cristina Ferreira brincou com a situação e disse. "Ricardo Araújo Pereira, na SIC". Seguiram-se risos de desconforto e o plano de câmara cortou para a imagem de Felipa Garnel, Diretora de Programas da TVI.
A vitória da Canção de Carolina Deslandes
"A Vida Toda" era uma das canções nomeadas na categoria de Melhor Música e a vitória era quase garantida depois de ter inundado todas as estações de rádio do País. Problema? A canção foi originalmente partilhada no YouTube em abril de 2017 e, portanto, passaram cerca de dois anos. A ganhar o Globo de Ouro, seria em 2017 ou 2018. Nunca em 2019.
Por que ganhou, então, Carolina Deslandes o prémio? Talvez porque o disco onde a canção foi inserida tenha sido lançado a 20 de abril de 2018. De qualquer das formas, antes disso já tocava nas rádios e já estava na cabeça de toda a gente.
Momentos WTF
Além das coisas boas e das coisas más, há outros detalhes em que reparámos e que ainda não conseguimos esquecer. Em primeiro lugar, parece que Cristina Ferreira tentou ser meme na internet com três dos vestidos que escolheu para usar durante a gala. Fabíola Carlettis, a consulta de moda e beleza da MAGG e Ana Garcia Martins, autora do blogue "A Pipoca Mais Doce", juntaram-se para comentar aquela parafernália de looks.
E a quanto graus estava o Coliseu dos Recreios, em Lisboa? A MAGG apercebeu-se de que várias figuras estavam, literalmente, a suar do bigode. "Ah e tal, é a maquilhagem que dá esse efeito", podem dizer. Mas o vários leques a abanar durante o evento contam outra história.
Para terminar, podemos falar de como os monólogos que iam sendo debitados entre categorias pareciam ter sido escritos por Pedro Chagas Freitas? Repletos de lugares comuns e capazes de puxar ao sentimento só para a lágrima fácil. A cerimónia podia ter sido encurtada em cerca de meia-hora se não tivessem dado espaço de antena a textos que não acrescentaram nada de novo ao que já estava a ser feito.
Lista completa de vencedores:
Personalidade do Ano de Jornalismo
- Conceição Lino
Melhor Interprete de Música
- Capitão Fausto
Melhor Atuação ao Vivo de Música
- Mariza
Melhor Música
- "A Vida Toda" (Carolina Deslandes)
Revelação do Ano
- João Félix
Personalidade do Ano de Desporto
- Cristiano Ronaldo
Personalidade do Ano de Entretenimento
- Cristina Ferreira
Personalidade do Ano de Digital
- Mariana Cabral ("Bumba na Fofinha")
Personalidade do Ano de Moda
- Sara Sampaio
Melhor Atriz de Teatro
- Luísa Cruz (“A Criada Zerlina”)
Melhor Ator de Teatro
- Paulo Pinto (“Tio Vânia”)
Melhor Peça de Teatro
- “Tio Vânia” (Bruno Bravo)
Melhor Atriz de Cinema
- Isabel Ruth (“Raiva”)
Melhor Ator de Cinema
- Carloto Cotta (“Diamantino”)
Melhor Filme de Cinema
- “Raiva” (Sérgio Tréfaut)
Personalidade do Ano de Humor
- Ricardo Araújo Pereira