"Bem-vindo a mais um episódio de" é, desde setembro, a nova rubrica das "Manhãs da Comercial". Marca a estreia de Manuel Cardoso, de 30 anos, na rádio do grupo Bauer Media Audio. O humorista, que faz também parte do coletivo de guionistas de "Isto é Gozar com Quem Trabalha", ainda está a aquecer o lugar e já tem pela frente um desafio de peso. Vai juntar-se a Nuno Markl, Pedro Ribeiro, Vasco Palmeirim e Vera Fernandes no "Xmas in The Light".
O espectáculo natalício das "Manhãs da Comercial" acontece a 14 de dezembro e, em entrevista à MAGG, Manuel Cardoso revela detalhes do intrincado número de sapateado com que vai brindar a plateia da MEO Arena.
Leia a entrevista
Participar no "Xmas in the Light" está a assustá-lo? Se calhar é preconceito meu, mas não o estou a imaginar a dançar na MEO Arena...
Foi o que eu pensei assim que soube disso. O que é que eu vou fazer? Ainda falta mês e meio [a entrevista foi realizada no final de outubro], ainda há tempo para definir. Causa algum pânico pensar que vão estar umas 15 mil pessoas, ainda por cima este ano em palco 360º. Uma pessoa tem de estar sempre a observar as suas costas para, caso as danças não saiam coordenadas, não ser agredido pelo público com o arremesso de vários objetos. Estou a refletir sobre como vou estar nesse dia em termos anímicos.
Mas não me parece minimamente nervoso com a perspetiva de atuar numa sala como aquela.
Eu só fico nervoso com as coisas de véspera. Fico muito, mas é na véspera. Sobretudo agora que tenho uma rubrica diária, só estou nervoso com a de amanhã, porque não sei o que vou fazer, e depois com a de quarta, a de quinta. Uma ansiedade de cada vez.
Quando surge o convite para vir para a Comercial, o que é que equacionou para aceitar e o que é que lhe foi proposto?
Foi-me proposto que eu propusesse uma ideia e eu refleti sobre se tinha ou não uma ideia que pudesse aguentar-se diariamente na rádio e concluí que talvez sim. Enviei, expliquei a minha ideia. O Pedro Ribeiro gostou e, passadas poucas semanas, já estava a começar. Basicamente precisava de encontrar uma ideia que, de alguma forma, fosse, levemente um conceito mas que desse para ser tudo, todos os dias. Que tivesse alguma base, para não estar sem chão todos os dias mas, ao mesmo tempo, que se ocorresse alguma coisa de atualidade, desse para enquadrar dentro do conceito para abordar os temas que eu quisesse. E fazer o que eu gosto mais de fazer, que é escrever à pressão.
Antes, esteve na Antena 3 com a rubrica "Pão para Malucos", uma rádio com menos audiência do que a Comercial, RFM, Renascença, que disputam a liderança das manhãs. Teve algum receio não só em termos de audiência, mas também por este espaço já ter sido ocupado por nomes populares como Ricardo Araújo Pereira ou Gilmário Vemba?
Sinto obviamente uma pressão para ser exigente comigo tendo em conta os standards da rádio no geral. Como isto foi tudo tão rápido e eu tenho de o fazer todos os dias, não pensei em mais nada para além de fazer. Eu estou só a fazer, depois vejo o que as pessoas dizem ou não dizem. No final da primeira temporada vou pensar mais sobre isso, como é que me dei com este desafio. Tive de decidir muito rapidamente se tinha essa capacidade ou não e nunca sabemos. Simplesmente mergulhei no desconhecido. Mesmo que fosse noutro sítio, fazer uma rubrica diária é sempre muito difícil. Por um lado, o desafio é complexo em qualquer lado, por outro, como é quotidiano, o tempo vai passando, de repente já fiz um mês e meio disto e parece que foi ontem. E vais aprendendo no trabalho, no fundo.
E como é estar com estas pessoas? É uma equipa na qual é o novato.
Eu penso muito nisso. Eu não só não estava aqui, como nem sequer fiz muita rádio. Fiz alguns anos na Antena 3, mas não é só essa a minha carreira. Para já, eles receberam-me muito bem e, depois, têm um nível de profissionalismo que não se vê muito, seja em que área for em Portugal. É uma exigência imensa e uma capacidade de estar alerta, de estar atento a todos os pequenos desafios que aparecem numa emissão das manhãs. Eu sinto que mudei de escola, para uma muito exigente e em que tenho que fingir que sou tão bom aluno como eles.
Numa entrevista que deu recentemente, disse que era preguiçoso. Como é que um preguiçoso faz estas coisas todas: as crónicas do "Expresso", a rádio, os conteúdos para o Instagram, o "Isto é Gozar com Quem Trabalha" e ainda o podcast "Impertinente", da Fundação Francisco Manuel dos Santos? E como é que se gere não só a parte teórica, mas também os prazos de entrega?
Eu sou preguiçoso mas, ao mesmo tempo, people pleaser. Se reparar, não há muitos desses trabalhos que não sejam coisas que eu tenho mesmo de fazer, porque ou tenho contratos ou porque disse que fazia parte. Porque se for por mim... Imaginemos que eu queria escrever um livro. É muito difícil para mim pensar em escrever um livro. É uma coisa que demora muito tempo e é preciso uma dedicação sem ver o resultado imediatamente. Enquanto aqui eu tenho de fazer uma rubrica para amanhã, para as pessoas ouvirem e para não correrem comigo daqui.
Projetos a longo prazo nunca consigo fazer porque eu só trabalho por causa dos estímulos, por causa da pressão, do medo de desiludir imediatamente as pessoas. Eu não quero escrever, não quero sentar-me ao computador para escrever. Queria estar no sofá. Mas tem de ser porque já disse que ia. Não gosto de falhar. É o que combate a minha preguiça. Naturalmente, por mim, não fazia tantas coisas. Às vezes vou aceitando demasiadas coisas. Gosto disto porque estimula uma parte do meu cérebro, outra estimula outra parte. E então vou aceitando as coisas e não posso ser preguiçoso. Só mesmo obrigado é que faço as coisas e agora que estou a fazer muita coisa obrigado, sinto 'calma lá, não é assim tão difícil!'. No fundo é duro mas, depois, há momentos em que uma pessoa está a produzir pouco e pensa 'pá, realmente produzir é muito difícil'. Não! Se tiveres uma pistola apontada à cabeça como é uma rubrica diária, vais ter uma ideia.
Há um método na sua forma de trabalhar, de ler jornais, ver televisão, ouvir podcasts? Porque o que faz é muito baseado na atualidade.
É uma forma de mercantilizar a presença constante nas redes sociais, no sentido de estar sempre a ver e apontar coisas. Há horas que eu dedico para um determinado projeto, mas é uma espécie de contagem decrescente para o aparecimento do monstro do pânico. Uma vez vi uma Ted Talk muito interessante sobre procrastinação, em que se fala do monstro do pânico, que é o melhor amigo e o meu melhor assistente.
As pessoas que falam sobre procrastinação normalmente são aquelas que produzem muita coisa. Acaba por ser um bocadinho contraproducente.
Porque estão habituadas a combatê-la. Há quem simplesmente ceda à procrastinação.
Ou que acha que não procrastina.
A procrastinação também está ligada... às vezes, as pessoas querem fazer as coisas demasiado bem, então vão adiando porque acham que conseguem produzir melhor do que conseguem e a procrastinação acaba por mostrar a realidade. O que consegues fazer é isto, isto não é mau, mas tu não ficarias contente se fizesses isto com tempo. Mas como fizeste com pouco, desculpas-te. Fizeste isto à última, não está mau. Na verdade, não, não consegues dar mais do que isto. E não tem mal. É difícil, como criativo, aprender os nossos limites e a procrastinação é uma forma de escondê-los.
Há pouco dizia que não seria capaz de escrever um livro, mas tenho a certeza que tem um documento no computador com ideias para um livro.
Sim, uma ou duas. Também há aquelas questão de os livros serem, em Portugal, sobretudo porque o mercado é pequeno, pouco rentáveis. Para uma pessoa que escreve, é chato. O maior formato da escrita é talvez aquele que é menos rentável, em que o autor fica com uma percentagem ínfima do que está a fazer. Na altura em que penso que vou começar a escrever um livro, prefiro escrever um espectáculo de stand up comedy. Também porque me diverte mais fazer stand up, fazer coisas ao vivo e ver a reação das pessoas e saber que ouviram o que estou a dizer.
Podes escrever um livro e não fazes a mínima ideia qual é que foi a reação. Até porque o livro é um long form que eu não sei se conseguiria aguentar a minha escrita. Mesmo o stand up são conjuntos de pequenos textos. Eu acho que a comédia funciona melhor no género da crónica, do pequeno conto, como no audiovisual funciona melhor no género sketch, em episódios de 20 e tal minutos e não no género filme. Apesar de haver excelentes filmes de comédia, não há nenhum que tenha vencido um Óscar.
"A comédia é tão frágil. É um ovo escalfado. Se a pessoa dá ali um toque, aquilo já não vai funcionar"
Qual é a sua relação com a televisão? Com os Bumerangue, passou pela SIC Radical, mas tem estado maioritariamente nos bastidores como guionista. Já teve vontade ou a ideia de fazer um programa só seu ou, à medida que a televisão vai perdendo importância, não é uma questão?
Eu não acho que a televisão tenha vindo a perder importância. Simplesmente a forma como é distribuída é que está a mudar. Há programas de televisão que simplesmente estão no Youtube. Estou a gostar muito de estar na rádio porque diminui os estímulos. Fica só o auditivo. Ouves uma pessoa a contar uma história de humor e isso é bom para a comédia. A televisão é mais tricky nesse sentido. Várias coisas podem fazer com que uma piada não funcione. Muitas vezes, quem faz televisão quer dominar tudo, da realização à edição, porque a comédia é tão frágil. É um ovo escalfado. Se a pessoa dá ali um toque, aquilo já não vai funcionar. Em televisão, isso pode acontecer. Mas não surgiu a oportunidade. Se surgisse, obviamente que consideraria.
Estamos numa fase da televisão generalista portuguesa em que há muito pouco humor. Existe o "Isto é Gozar com quem Trabalha", na SIC, que é capaz de representar 90% do que é produzido para televisão linear. Depois, há uma multiplicidade de podcasts, Youtube, Instagram, TikTok. É porque não é interessante, é porque os canais não apostam? É porque já não é interessante para os humoristas fazer televisão?
A RTP apresentou recentemente vários programas de humor. De facto, em horário nobre não há...
Suponho que o novo programa de Bruno Nogueira será emitido em horário nobre. Não sei.
Acho que a televisão generalista tem cada vez menos diversidade de formatos. É raro que passem filmes. Mesmo os canais de informação, houve uma grande transformação. Antes uma pessoa ligava um canal informativo e estava a dar um documentário. Agora, é o direto constante, comentário constante, e na televisão generalista, muitos programas em exterior. O humor é pura e simplesmente uma consequência dessa falta de diversidade porque o mercado do audiovisual especializado está a ficar cada vez mais do lado do streaming, da internet, então a televisão tem de apostar em coisas que toda a gente goste — e o humor dificilmente consegue fazer isso.
Os Bumerangue (coletivo de humor constituído por Carlos Coutinho Vilhena, Guilherme Geirinhas, Manuel Cardoso e Pedro Teixeira da Mota) celebraram 1o anos.
Sim, foi em janeiro deste ano.
Não houve festa, bolo?
Não. Por acaso estivemos juntos mais ou menos nessa altura, mas foi porque eu fazia anos. Acho que nem sequer falámos disso.
Mas não vos apetecia fazer um espectáculo único ou acha que não faz sentido?
Nós temos sempre agendas difíceis de conciliar. Quando um não tem espectáculo, o outro vai começar a sua tour...
Os Gato Fedorento não se reuniram quando celebraram 20 anos. Vocês também não. São duas gerações desiludidas...
Faria sentido que Gato Fedorento reunisse tendo em conta o conceito de uma reunião. Algo que marcou fortemente uma geração.
Não acha que vocês marcaram uma geração?
Não. Nós marcámos três bairros em Lisboa, alguma internet... Fizemos uns 50 sketches, é pouco. Foi uma coisa gira de fazer. Mas foi quando estávamos na escola, humoristicamente falando. Há coisas que nenhum de nós consegue ver com orgulho. Outros olhamos e pensamos, 'ok, foi sorte de principiante'. Mas cada um de nós tem sempre coisas a acontecer na nossa vida e parece que é uma coisa que envelhece. Fazer uma reunião aos 30 parece que... eu já disse isso quando fui ao Watch.tm do Pedro [Teixeira da Mota]. É só quando nós estivermos muito mal e a precisar de financiamento. Estabeleci uma regra com ele. Se é para irmos à falência, temos de ir todos ao mesmo tempo. Porque se houver um que está falido, vai querer insistir muito para fazer umas datas e os outros não vão querer.
Sendo muito honesto, qual de vocês se está a safar melhor?
Não vou responder a isso porque acho que estão todos.
Fazer um programa de humor político como "Isto é Gozar com Quem Trabalha" traz sempre críticas e coisas ainda mais - acho que posso usar este adjetivo - parvas, como o parecer da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) relativamente ao facto de o CHEGA não ser convidado para o programa. Como é que vocês lidam com essas críticas?
É preciso não ler, em primeiro lugar. É preciso não prestar muita atenção nem a elogios rasgados nem a críticas muito violentas. Nos dois dias em que estamos lá, não há tempo para isso, porque há muita coisa para fazer. Em segundo lugar, há elogios que não vêm das piadas, vêm do que é que aquele segmento pode mostrar em termos políticos, como é que pode validar as crenças políticas de determinado espectador, tal como algumas críticas vêm exatamente de uma discórdia da forma como expusemos determinada pessoa de quem o telespectador gosta politicamente. Quando percebemos que as críticas ou os elogios vêm de um lado de facção, não são úteis. Quanto ao conteúdo, se tem piada ou não, é uma opinião e é importante percebermos se as pessoas estão a achar graça ao programa ou não. Mas também é uma análise que fazemos a seguir ao programa.
A ERC. Há, de facto, essa aversão à liberdade de discurso numa parte da sociedade portuguesa. De vez em quando, aparecem episódios desses, mas também sinto que, cada vez mais, as pessoas se riem quando os Anjos processam a Joana [Marques] ou a ERC exige que um humorista seja imparcial, que se reja pelo código de deontológico dos humoristas. Acho que, eventualmente, as pessoas acham que isso é absurdo. Dentro das pessoas que gostam de comédia, acho que isso é minoritário. Dentro das pessoas que olham para o programa, para conteúdos humorísticos com um viés político, mais rapidamente podem ter essa intenção de o limitar porque não estão a ver aquilo com a leveza que tem.
"A única coisa que podemos ter como garantido como humoristas
é a hipótese de tentar escrever uma piada boa"
Houve algum momento do seu percurso em que tenha pensado 'vou dedicar-me a uma carreira "a sério"'. E coloco aqui o "a sério" com muitas aspas.
Mas é verdade. O meu trabalho é fazer composições do 4.º ano. Só mesmo quando comecei. Quando tinha 14 anos pensei 'não sei se quero exatamente isto'. Mas era mais porque o primeiro impacto do stand up, sobretudo numa altura em que o ego é tão frágil..
Lembra-se da primeira piada que fez num espectáculo de stand up? Era sobre o quê?
Não me lembro exatamente, mas lembro-me em que é que o set consistia. Eram cinco minutos, uma gala de um programa da Antena 3, o Cómicos de Garagem, e eu tinha um pequeno beat sobre o Sumol laranja e chocolate. Depois tinha uma piada sobre o Rochemback, jogador do Sporting e qualquer coisa com a Merkel. Porque eu sempre tive essa vontade de parecer mais adulto do que era. Aos 14 anos parecia mais velho do que pareço agora. Sobretudo, na altura queria mais do que agora. Agora sim, estou a aproximar-me da idade de discurso.
Acha que as coisas estão a alinhar-se, o discurso com a idade?
Sim, neste momento sinto que, aos 40, vou dizer 'low key' e 'bro' porque desperdicei a minha juventude a dizer pináculo e idiossincrasia.
Fez 30 anos este ano.
Por acaso já me sentia com 30. A partir dos 25 já és um gajo. Sinto-me um gajo. Antes, és um puto. Dependendo da minha saúde, o objetivo é estender o estatuto de gajo o máximo possível para depois ser um cota. E, eventualmente, um velho.
Faz-se um balanço aos 30?
Não fiz porque estava a meio de muita coisa. Ainda estava a acabar a tour. Não sinto que tenha terminado uma fase. Talvez agora, estando aqui na Comercial, já me parece 30. Aos 29 seria absurdo estar nesta cadeira.
Porque é uma rádio mais millennial?
Sim. Ou seja, ter um '2' na idade acho que me deixaria mais inseguro. Agora, como já tenho um '3', sinto-me mais seguro. Ninguém vai dizer 'ah, aquele puto da Comercial'.
Ao longo destes 16 anos, quem foram as pessoas com quem trabalhou que mais o influenciaram positivamente e fizeram com que prosseguisse o seu caminho?
As pessoas com quem trabalhei mais são as que estão na equipa do "Isto é Gozar Com quem Trabalha". Já fizemos mais de 200 programas juntos. Tudo o que eu sei sobre o trabalho de operário do entretenimento vem dali. A malta que eu conheci quando estava a começar foi essencial para manter o entusiasmo junto de pessoas de quem gostamos. É difícil fazer isto sozinho. Por isso é que, se calhar, não há reunião de Bumerangue. É um trabalho muito individualista, cada um tem exatamente a sua visão, o seu percurso, uma coisa normal nos humoristas. Mas é bom crescer com outras pessoas que tenham a mesma visão para irem atuar juntos, projetos, como Bumerangue era. É um conjunto de influências de malta jovem, com muita vontade, com quem eu estive quando era muito miúdo e não queria ir para a faculdade...
Não chegou a ir para a faculdade?
Tive dois meses em cada um dos cursos. Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e, depois, História. Tive sorte porque encontrei essas pessoas. Na altura, comecei a trabalhar para o "Gente Que Não Sabe Estar" [programa da TVI conduzido por Ricardo Araújo Pereira] aos 24 anos. Foi excelente calhar nessa idade em que é preciso começar a ganhar essa ética de trabalho. Era um sonho estar ali e, ao mesmo tempo, uma escola.
O "Impertinente", apesar de lhe emprestar o seu cunho humorístico, é um podcast sobre assuntos sérios. Fá-lo para alimentar outro lado mais, digamos assim, intelectual, de temas que lhe interessam?
É mais para aprender. Porque também tenho de ir pesquisar. Dá trabalho a preparar porque são temas que eu não estudei. Posso ter ouvido falar, mas tenho de ir estudar um pouco. No fundo, é uma apresentação oral, uma conversa com o professor...
Para o qual vai muito bem preparado.
Porque eu não gosto de desiludir. Estou ali com o João Pereira Coutinho [cientista político], não quero que ele ache que estou só à toa e não estou a perceber o que ele está a dizer. Tive dúvidas quando surgiu esse convite porque eu, de facto, quero ser humorista e quero que a maior parte do meu trabalho seja entretenimento de humor. Ali, posso fazer algumas piadas nas perguntas, mas é mais sério. Como eu não fiz a faculdade, tenho de ir aprendendo e aquilo funciona.
"Sinto que, aos 40, vou dizer 'low key' e 'bro' porque desperdicei a minha juventude a dizer pináculo e idiossincrasia."
Que balanço faz da sua passagem por Londres e Nova Iorque, em 2019 e 2022?
Foi uma espécie de auto infligir sofrimento, um estudo sobre o sofrimento que é escrever e tentar que a comédia funcione. Atuei lá em barracas, esplanadas, para duas ou três pessoas, também elas aspirantes a humoristas. Mas, ao mesmo tempo, sabia bem apanhar o metro, ir para um subúrbio qualquer, fazer cinco minutos.
É sobretudo para solidificar a ideia de que a única coisa que podemos ter como garantido como humoristas é a hipótese de tentar escrever uma piada boa. É indiferente o sucesso que tens, é indiferente se começaste a fazer open mics ou se fazes cinco MEO Arena, no final temos isso em comum. Começamos todos do zero e é bom ter isso na cabeça. Eu também queria ver como é que aquilo funcionava lá. E aquilo, de facto, é capaz de ser mais duro do que cá. Cá, uma pessoa começa num open mic numa sala com 80 pessoas. Lá, tens de trabalhar quatro ou cinco anos para chegar a salas em que estão 80 pessoas. E foi também giro para estimular o músculo de 0utra língua.
Foi uma espécie de Erasmus.
Exato. Eu tenho de fazer os módulos da minha formação sozinho.