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O final de 2024 e o início de 2025 foram marcados por profundas mudanças nas principais rádios nacionais. Filipa Galrão e Renato Duarte protagonizaram duas das transferências mais mediáticas, ao trocaram o grupo Renascença pela Bauer Media Audio Portugal.
Desde 13 de fevereiro que são as vozes do horário 10h-13h da rádio Comercial e, em entrevista à MAGG, após a estreia, contam como encaram esta mudança.
Filipa Galrão esteve cinco anos na Renascença e Renato Duarte, 15. Trabalharam juntos durante 19 meses no "T3", programa das tardes da Emissora Católica Nacional, juntamente com Daniel Leitão, que permaneceu na Renascença.
Leia a entrevista
Sei que ainda não desceram à terra, mas como é que acham que correu esta vossa estreia?
Renato Duarte (RD) - Eu acho que correu bem.
Filipa Galrão (FG) - Acho que correu bem. Foi caótico no sentido de ainda estamos a lidar com coisas que são muito novas. Os botões são outros, nós estamos em sítios diferentes, a própria rádio é diferente. Há todo um chip que tem que ser mudado. Mas acho que para fora e para aquilo que é ouvir rádio, resultou bem.
RD - Eu acho que a identidade da Comercial também tem muito que ver com esta espontaneidade. As pessoas sentem-se muito ligadas a nós através do erro, da falha, da vulnerabilidade, de nós mostrarmos que estamos nervosos, que estamos ansiosos, porque é uma coisa nova. Nós recebemos muitas mensagens nesse sentido. "É o primeiro dia, é normal, isso falha tudo". Ou seja, eu acho que a identidade da Comercial está muito assente nesta genuinidade, nesta verdade.
FG - Sim, as pessoas foram muito queridas nisso.
RD - As pessoas, mesmo as que já cá estão, também passam muito a quem nos ouve. Eu lembro-me perfeitamente, nós já sabíamos que vínhamos para cá, mas ainda não estávamos aqui na equipa, eles mudaram o sistema com que nós fazemos o programa. E os próprios locutores, que são muito experientes e que estão aqui há muito tempo, mostraram nesse diálogo um nervosismo, porque não estavam a conseguir lidar com aquilo. Eu achei muito engraçado, porque falaram disso, e integraram isso na forma como fazem o programa e chegam às pessoas. Eu acho que, nesse sentido, o facto de termos chegado hoje e termos vivido com as pessoas que estavam a ouvir a Comercial este nervosismo e esta ansiedade, foi muito bom para nos aproximar e entrarmos bem aqui no espírito da Comercial.
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Pedro Ribeiro, diretor da rádio Comercial, disse à MAGG que o público viu como algo que faz sentido a vossa presença nesta rádio. Como é que vocês receberam a proposta para virem para cá?
FG - Eu acho que foi isso mesmo, faz sentido. Faz sentido e eu vou. Digo sempre isto a toda a gente. Não quero uma casa melhor do que aquela que tenho, não quero mais dinheiro do que aquele que eu tenho. Aquilo que me move é muito isto. Eu quero estar em sítios onde me sinto bem e onde eu acho que faço sentido. E aqui é esse apelo que a rádio Comercial tinha em mim. E é a rádio mais ouvida em Portugal, caramba, quer dizer, qualquer locutor ambiciona estar num sítio destes! E depois chegar cá e perceber que não só é a rádio mais ouvida, como tem umas pessoas incríveis, que trabalham super bem, que não são assim tantas e que fazem magia todos os dias, é sentir que realmente fiz uma escolha acertada. E depois, o fazer match, acho que também está muito relacionado com os ouvintes da Comercial serem muito parecidos connosco. Têm a nossa idade, as mesmas referências, e então isso também faz sentido quando estamos a comunicar para fora.
RD - Eu tenho que ser honesto, completamente transparente. Independentemente de eu ter sido muito feliz nos 15 anos que tive na Renascença, foi uma oportunidade incrível, cresci muito, aprendi tudo o que sei ali. Já há bastante tempo que eu queria que isto acontecesse, porque sempre me identifiquei muito com esta linguagem da Comercial que eu acabei de descrever há bocadinho. Esta coisa muito autêntica, muito espontânea, muito verdadeira. Nós percebemos logo nas primeiras conversas com o Pedro que olhamos de facto para a rádio e para a forma como isto se faz de formas muito, muito parecidas. Portanto, esse match entre mim e a Comercial pareceu-me sempre muito natural. Eu percebo que as pessoas digam isso e fico muito feliz, porque quer dizer que não sou só eu que sinto isso já há tanto tempo. De facto, faz sentido. Também tenho que dizer que fico muito contente e muito feliz por fazer isto com a Filipa, porque também vejo nela esse espírito. Porque nós tivemos ali um casamento que, na minha opinião, foi muito feliz na Renascença.
Só trabalharam juntos no "T3".
RD - Já nos conhecíamos. Sim. Uma das coisas mais incríveis que eu fiz na Renascença foi este casamento aqui com a Filipa, esta química que resultou muito bem. E fiquei muito feliz por haver alguém completamente exterior, que ainda por cima domina, percebe muito disto, muito mais do que nós, que olhou para esta dupla e achou que fazia sentido. Fiquei muito feliz com isso.
FG - Sim, perceber que o diretor da rádio mais ouvida estava atento ao que se fazia.
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Em rádio, não se consegue disfarçar tão bem quando não há cumplicidade. O que é que vos uniu para que este casamento radiofónico resulte tão bem?
FG - Nós temos a mesma idade, embora o Renato acho que tem menos 10 anos do que eu.
RD - (gargalhada) Eu sou mais novo do que a Filipa uns meses.
FG - Há muita coisa em que não somos de todo parecidos. Mas eu acho que é isso. Há aqui uma complementariedade grande. E, sobretudo, no que à rádio diz respeito, falamos muito a mesma linguagem. Sabemos exatamente o que é preciso fazer, como é que é preciso passar a mensagem. E eu acho que é aí que nós acabamos por resultar.
RD - É, temos uma ideia muito parecida do que é que torna um programa de rádio interessante.
FG - E discutimos muito isso. Acho que é o segredo para qualquer casamento durar (risos). Comunicamos muito um com o outro. Não deixamos nada por dizer. Se estamos desconfortáveis, dizemos. Se queremos uma coisa de determinada forma, verbalizamos. E isso é importante.
RD - Uma coisa muito fixe é que nós temos uma relação muito verdadeira. Muito honesta, de muita cumplicidade, mas também de muita honestidade. Muita verdade. Lá está. Não deixamos nada por dizer. E também é uma relação de muito respeito. Acima de qualquer outra coisa, eu acho que a Filipa Galrão é, de facto, muito, muito boa naquilo que faz. E isso é meio caminho andado para eu entrar ali dentro. E, para já, confiar, estar disponível também para aprender com ela naquilo que ela me puder ensinar. E ter muita vontade de fazer isto com ela e não com outra pessoa.
FG - Ainda há pouco lhe dizia. Estar a fazer isto com ele e não estar a fazer isto sozinha é 30 vezes melhor. E ele é muito mais descontraído do que eu. Ele é muito mais "não, deixa aí, deixa fluir". E às vezes eu também preciso que alguém me diga isso. Para não estar ali bloqueada.
RD - Nós somos muito diferentes em muita coisa. Mas acho que nas coisas que são essenciais honestamente, mesmo na vida, na forma como andamos para o mundo e para o trabalho, somos muito parecidos. E portanto eu fiquei muito feliz quando viemos para aqui e percebemos que íamos conseguir fazer aquilo que já fazíamos na Renascença, mas levar isso para outro nível. Para já, pelo motivo óbvio de termos muito mais ouvintes, muito mais gente a ouvir, mas também por estarmos num formato de rádio que vai mais ao encontro ainda daquilo que nós somos do que a Renascença ia. E portanto acho que resulta por isso. Porque somos parecidos na forma como acreditamos que um programa de rádio deve ser.
O que é que o Pedro Ribeiro vos pediu para estas três horas?
FG - Brinquem às rádios.
RD - Uma coisa muito interessante. Na primeira reunião, disse-nos "vamos brincar às rádios". Que é uma coisa que às vezes nos esquecemos porque somos profissionais. Ainda hoje, tanto o Vasco [Palmeirim] como o [Nuno] Markl como o Pedro [Ribeiro] falaram dos tempos em que ouviam rádio em casa e gravavam as músicas e eu imediatamente fui para os momentos em que fazia isso. Eu, em casa, a gravar as músicas e no meio a pôr a minha voz a fingir que estava a fazer um programa de rádio, e a brincar às rádios e às televisões e foi assim que eu descobri que queria fazer isto para o resto da vida. É muito importante não nos desligarmos dessa energia. É óbvio que somos profissionais e estamos a fazer isto como deve ser, de forma séria, porque sabemos que estamos a ser ouvidos. Mas não perder esse espírito da brincadeira, de brincar às rádios. E foi uma das coisas que o Pedro nos disse. Mas ele não nos deu muitas indicações.
FG - E nem nos ouviu (risos).
RD - Acima de tudo, eu estou a sentir - e isso é incrível - que ele está a confiar muito a nós. Que nos foi buscar porque nos conhecia, conhecia o nosso trabalho, e está a confiar que nós vamos aqui fazer o mesmo que fazíamos lá, mas ainda melhor.
FG - E isso vai na linha de nós termos um trabalho que é um privilégio porque fazemos exatamente aquilo que queremos fazer. O nosso emprego é aquilo com o que sempre sonhámos. Acho que nem toda a gente consegue ter essa sorte. E sentimo-nos gratos de estar constantemente a sentir isso também faz com que tenhamos necessidade de entregar um trabalho ainda melhor.
RD - O Pedro, como alguém que faz isso há muito tempo, e que conhece muito bem a marca que criou, sabe que talvez o mais importante para nós fazermos um bom trabalho...
FG - Estarmos felizes!
RD - ...uma vez que somos profissionais e sabemos fazer isto, o mais importante é estarmos à vontade. É estarmos confortáveis. É estarmos a não sentirmos que está um chefe ali a vigiar e a fiscalizar. E portanto ele deu-nos esse respiro, esse espaço. E isso foi muito importante para nós chegarmos ali e estarmos bem. Não estarmos demasiado tensos.
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Vão querer ter rubricas? Ter coisas dentro do programa ou vai ser uma emissão mais corrida, também devido ao horário?
FG - Estamos a pensar. Não há realmente muito espaço para isso porque o mais importante é a música, é o que as pessoas mais querem e nós também, honestamente, é o que nós mais queremos porque gostamos muito também da música da Comercial, mas acho que podemos brincar aqui muito com aquilo que são as outras plataformas, também à semelhança daquilo que já fazíamos um bocadinho, e ter rubricas que até sejam uma continuidade daquilo que fazemos no ar e que possam respirar melhor e perdurem mais no tempo.
RD - Sabemos que na rádio os horários que têm mais espaço por esse tipo de rubricas e momentos são os programas da manhã e de final de tarde. Aqui, temos noção que estamos numa rádio musical, portanto os conteúdos que possamos fazer também têm muito que ver com isso. Portanto, a minha leitura é que a rádio Comercial vive muito por um lado da música e por outro lado das personalidades. E existem várias formas de nós recortarmos as personalidades até para pessoas que eventualmente não nos conheçam e que estão a ouvir a Comercial.
FG - E as redes sociais funcionam nesse sentido.
RD - As redes sociais ajudam-nos muito, o digital, mas depois aquilo que fazemos no ar, às vezes em poucos segundos conseguimos passar ali muita informação sobre nós, sobre aquilo que nós somos na forma como fazemos as coisas. Portanto, mais importante do que rubricas e momentos muito pré-produzidos, é estarmos confortáveis e irmos passando a música que as pessoas querem ouvir connosco.
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O portfólio de podcast da rádio Comercial está a crescer. Há perspectivas de vocês terem um podcast os dois ou em separado?
FG - Ideias não faltam. E há essa abertura também. É muito bom.
RD - Uma coisa também interessante da rádio Comercial: a equipa não é assim tão grande, mas são pessoas muito criativas, muito boas e com muita energia e com muita vontade de trabalhar, que gostam muito de aqui estar. E o que eu já senti foi que nós viemos para fazer este programa agora mas para fazer parte da equipa, para pensar também aquilo que a rádio pode fazer nas outras plataforma, foi-nos dito isso desde o início. Queremos ideias, queremos o vosso input, queremos a vossa energia. Eu tenho algumas ideias mas não posso dizer ainda porque não estão bem trabalhadas. Mas sim, provavelmente vai acontecer, até porque trabalho há 15 anos em rádio, a rádio mudou muito por força do digital e do facto de os podcasts serem de facto uma grande aposta e a rádio Comercial está a ir por aí. É a melhor na música e nos podcasts sempre, e portanto nós queremos também estar aí.