O que esperar da segunda temporada de "Pôr do Sol"? "Mais do mesmo, mas melhor", garante Rui Melo. A série da RTP e RTP Play que brinca com as novelas (sem fazer troça delas) de forma hilariante está prestes a regressar à programação habitual da estação pública de televisão e a fasquia está mais elevada do que nunca. Não tivesse nascido à sombra de uma temporada inaugural que valeu à produção o título de série mais vista de sempre da RTP Play e um lugar não só na Netflix como nas tendências da plataforma.
Não sabemos se regressará com "cheiro a IC19" ou com a bênção do "Nosso Senhor da Cereja", mas podemos desde já revelar que há paredes destruídas, ursos de peluche gigantes e fofinhos, revelações de levar o queixo ao chão e — choque — uma Inês Lopes Gonçalves em maus lençóis. Mas, vá, já pode entrar em contagem decrescente, porque o regresso de "Pôr do Sol" está marcado já para o próximo dia 8 de agosto, às 21h, na RTP e RTP Play.
Esta quinta-feira, 30 de junho, os membros da família Bourbon de Linhaça e companhia ribatejana reuniram-se no Jardim 9 de Abril, em Lisboa, para assistir ao primeiro episódio desta segunda temporada. A MAGG marcou presença na plateia, rimos até doer a barriga e, agora, revelamos o que precisa de saber sobre o regresso da série — com várias coisas boas e uma péssima. Pelo menos, para quem é fã da produção.
Cantor que é a cantor abraça qualquer cenário (mesmo que seja feito de cuecas e sutiãs)
Podemos desde já responder à dúvida de muitos internautas: sim, o genérico da segunda temporada de "Pôr do Sol" será o mesmo, com o título da série em loop na voz de Toy durante, pelo menos, 30 segundos.
O cantor português, conhecido por êxitos como "Coração Não Tem Idade", "És tão sensual" ou "Chama o António", vai continuar a surgir sem aviso prévio a meio de cada episódios, nos momentos mais inusitados, com a voz afinada e seriedade de quem é imune ao cenário em que está inserido.
Toy vai mesmo continuar a atuar como um Deus omnipresente e nem as grades da prisão serão capazes de o impedir de cantar. Confuso? É esperar para ver. Mas avisamos desde já que há cenários inéditos, em que sutiãs e cuecas são as estrelas da festa.
Associar Chop Soy 'só' a comida tem os dias contados
Nesta nova temporada, há mais drama, momentos intensos e até Kung Fu no alinhamento. Simão, o vilão interpretado por Rui Melo, está de regresso, mas renasce das cinzas em situações bem diferentes daquelas a que assistimos na primeira temporada.
"Há uma tentativa de o Simão se tornar um homem de bem. Vai para o Mosteiro dos Monges Chop Soy, em Espanha, onde é acompanhado pelo seu guia espiritual, na tentativa de se tornar um homem de bem" avança Rui Melo. "Vai ser monge para tentar procurar o bem dentro de si", mas "desconfio que não vá correr assim tão bem", acrescenta.
Uma coisa é certa: ao nível do Kung Fu? "Está fortíssimo", admite Rui Melo, em tom de brincadeira.
Os Jesus Quisto estão de volta (mas concertos ao vivo não fazem parte dos planos)
Pode preparar os cartazes e o merchandise: a icónica banda da primeira temporada, conhecida por temas como "Holocausto Vegan", "Coito Sopa Coito" ou "Drug is a Pet", vai continuar a encher o universo de "Pôr do Sol" de música com letras hilariantes nesta segunda temporada.
Agora, se Lourenço (Diogo Amaral) vai continuar a assumir os comandos da banda...já é outra conversa. Há uma outra personagem, já conhecida da temporada inaugural, que transita para o seu lugar. E a julgar pela música que ouvimos no primeiro episódio, este novo vocalista honrou (e de que maneira) o novo cargo.
No entanto, escusa de juntar dinheiro para eventuais futuros concertos ao vivo desta banda nacional (fictícia). Já houve convites em cima da mesma, mas foram recusados. Segundo Rui Melo, nunca vão acontecer.
"Já houve muitos pedidos. Falou-se do MEO Sudoeste, do MEO Marés Vista, NOS Alive...mas nós explicámos: eles não são músicos, o único que é músico ali é o Cristóvão [Campos]. Os outros, nenhum deles toca ou canta. 'Ah, fazem playback'. Não. Não podemos tirar as personagens do contexto, não podemos. Os Jesus Quisto existem naquele contexto, não existem fora dali", explica. "Os Jesus Quisto não existem na vida real", frisa.
A pressão está mais alta do que nunca, mas a ousadia também
Manuel Pureza e Andreia Esteves, da produtora Coyote Vadio, Henrique Dias e Rui Melo são os cérebros por detrás de "Pôr do Sol". E, em declarações à imprensa, todos concordaram que aquilo a que Rui Melo chamou "síndrome do segundo álbum" se fez sentir. Ao contrário do que aconteceu com a primeira temporada, desta vez, há que lidar com expectativas. Bastante elevadas, por sinal.
"É uma responsabilidade. A última coisa que nós queremos é que as pessoas, em algum momento, digam 'isto já teve mais graça'. (...) Na primeira temporada, foi para apresentar o código: 'este tipo de humor, vocês entendem?'. Entenderam. Correu muito bem. Então agora já podemos pôr outra carga ali", começa por explicar Rui Melo, em declarações à imprensa. "Fomos mais cuidadosos, mas ao mesmo tempo arriscámos mais", avança.
Em que é que arriscaram? De acordo com Rui Melo, tanto na escrita como na realização. "A realização está muito mais próxima do conceito de uma série do que propriamente de uma novela. Os planos ousados, a fotografia, a luz. E depois a própria escrita. Nós já nos permitimos (...) arriscar um bocadinho mais e ser um bocadinho mais ousados".
"Na primeira temporada tínhamos muito um crivo, que era: pensávamos numa cena e dizíamos 'isto passar-se-ia numa novela? Sim ou não?'. 'Pá, numa novela isto não se passava'. Então não fazíamos. Até podíamos exagerar, mas tínhamos de pensar: 'isto é típico de novela?'. Tinha de encaixar. Agora, já não estamos tão preocupados com isso. Já se percebeu que as pessoas gostam, então vamos lá esticar um bocadinho a corda e ver até onde podemos ir. E, até agora, as reações que temos tido são boas. Portanto, esticámos a corda", acrescenta Henrique Dias, responsável pela escrita da série.
Frases com potencial para viralizar na Internet? É só escolher
Frases icónicas como "sei que foste tu que envenenaste os cavalos com tofu", "ser feliz como o Dalai Lama ou o João Baião" ou "Lourenço, ou sais imediatamente ou chamo a Sandra Felgueiras" ficaram para sempre eternizadas nas redes sociais e no dialeto de quem acompanhou a primeira temporada de "Pôr do Sol".
No entanto, podemos garantir que, ao nível das frases com potencial para viralizar na Internet, a oferta da segunda temporada é vasta (e hilariante). "Cerejas que cheiram a marisco", "tratamento [psiquiátrico] com coreografias do Baby Shark" ou "salada de antidepressivos" são apenas alguns dos momentos que arrancaram gargalhadas audíveis esta quinta-feira, 30, no Espaço Garagem Lisboa.
Ainda assim, Henrique Dias deixa claro que a escrita destes chavões que se tornam símbolos da cultura de "Pôr do Sol" não é intencional. "Ou acontece ou não acontece. Quando estás a escrever, quando surge alguma coisa que tem graça, não paras para propriamente para arranjar aqui uma frase... é como naquelas sitcoms que têm bordões e frases repetidas, aquilo acontece no momento e sai. (...) Portanto, tem de ser assim. Até pode acontecer, às vezes, achares 'epá, esta tem muita graça' e ninguém acha graça nenhuma e outra que escreves tipo 'ah, não está mau' e toda a gente acha o máximo'", explica.
"Acho que uma das grandes coisas que aconteceu no 'Pôr do Sol', e não é um mérito particular meu, é que, em Portugal, estranhamente, a ficção não tem referências de pop culture. Não tem. Duas amigas e um amigo estão num café a conversar e ninguém fala sobre uma música, um cantor, a marca do carro que comprou. É tudo umas conversas super intensas. É tudo muito higiénico. E o falares 'gosto muito do João Baião' ou 'hoje apanhei trânsito na IC19' é a vida das pessoas. É normalizar. E depois quando pegas nisso e aproveitas para um contexto cómico, o que é que acontece? Há a identificação das pessoas".
"Por exemplo, eu lembro-me de receber uma mensagem sobre uma cena na Blaze [revista fictícia da série], em que dizem que estão a preparar uma capa com roupa interior para funcionários judiciais. E eu recebi uma mensagem de um miúdo a dizer: 'o meu pai é funcionário judicial e adorou a piada e finalmente falam dos funcionários judiciais'. Eu até me ri. É pegar nessas coisas comuns e depois há esses fenómeno de identificação", completa.
"O humor em Portugal, e não estou a falar de ninguém, é um pouco exagerado às vezes. Há aquela coisa do humor muito histriónico. E este texto e este projeto para resultarem tinham de ser exatamente o contrário. Quem diz aquela alarvidade tem de estar super consciente do que está a dizer e a acreditar no que está a dizer. Quando ele diz que o Testículo custa 6.900 milhões, não pode dizer aquilo como uma graça. Se não houver essa convicção, não tem graça. Isto é a escola do humor inglês, em que dizem as maiores alarvidades com a seriedade britânica", frisa.
Henrique Dias descarta ainda a ideia de que os alegados limites do humor, frequentemente na ordem do dia, não interferem com o seu processo de escrita. No entanto, explica que há que ter noção do âmbito e público alvo de cada projeto. "Se eu estou a fazer um programa na Internet para mim, se estou a fazer uma coisa para o Youtube ou Instagram, estou-me a borrifar para os limites. Acho que não há limites absolutamente nenhuns. Se estou a trabalhar para um canal público, que é pago por todos nós, em que qualquer miúdo ou qualquer pessoa carrega no botão e vê, obviamente que tenho mais cuidado", explica.
Não há duas sem três? Neste caso, infelizmente, não
Não querendo ser mensageiros de más notícias, precisamos de falar sobre o futuro de "Pôr do Sol". As expectativas são altas e a vontade dos fãs passa por "mais e mais", mas Henrique Dias e Rui Melo esclarecem que estas duas temporadas serão as únicas. "Pôr do Sol" vai mesmo ficar por aqui.
"A ideia era ser só uma [temporada], só que por insistência do José Fragoso...E de facto as coisas até nos surpreenderam um bocadinho, porque correram mesmo muito bem. Achávamos que ia correr bem, agora não o fenómeno que foi e que continua a ser. Até há uma semana estávamos nos tops da Netflix. Uma coisa que já passou e que está disponível na RTP Play. É incrível. E vê-se na rua. A ideia era ser só uma temporada, mas depois, com este sucesso todo, o José Fragoso, da RTP, mérito dele, conseguiu explicar-nos que fazia todo o sentido fazer uma segunda temporada, mas é nossa decisão terminar por aqui", começou por explicar Rui Melo.
"Nós queremos acabar. Não queremos fazer mais. (...)", acrescenta Henrique Dias. "Acabámos isto com o sentimento de 'epá, isto de estar a corresponder a expectativas é sempre muito complicado'. A fasquia começa a tornar-se uma coisa um bocado angustiante e difícil. Já fizemos duas tão bem feitas, vamos sair assim. A pior coisa que pode acontecer é aquelas séries em que tu dizes: 'esta temporada já não tem tanta graça. Epá, não quero isso. Não é preciso. (...) Saímos contentes com o que fizemos" frisa.
Por isso, há que aproveitar ao máximo os novos 20 episódios (de 30 minutos cada) que integram esta segunda temporada. O primeiro episódio estreia-se já a 8 de agosto, às 21h.