"Da Mood" chegou à RTP1 a 4 de junho. A série, da autoria de Henrique Dias, conta a história de cinco jovens adultos (interpretados por Miguel Raposo, Diogo Martins, Tiago Teotónio Pereira, José Mata e Leo Bahia), com passados completamente diferentes e que, de repente, decidem formar uma boysband. Entre drogas, violência doméstica e racismo, há muitos temas abordados na nova série portuguesa da estação pública de televisão.

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Tiago Teotónio Pereira, que dá vida a Rúben, conta à MAGG como correu o processo de criação da personagem. O ator de 32 anos realça ainda a aposta da RTP neste tipo de séries, entre as quais se inclui "Pôr do Sol", que terá uma segunda temporada este ano.

Há um novo episódio de “Da Mood” todos os sábados à noite na RTP e na RTP Play. Os temas de sucesso da banda já estão no Spotify.

Qual foi o principal desafio para preparar o Rúben, um aspirante a estrela pop?
A série “Da Mood” é um projeto que está há muito tempo para ser feito, falado há três anos. Eu e o Miguel Raposo já gravámos a maquete da música do “Dói Bué”, há dois anos ou três anos e estávamos muito expectantes e ansiosos para que isto acontecesse. O Rúben é uma personagem em que já penso há muito tempo. Acompanhei mais ao menos todo o processo, desde o Sérgio Graciano [realizador] ter ideia, depois falar com o Henrique Dias [argumentista]. Por isso, já sabia como é que a personagem ia ser. O processo do que eu queria fazer foi fácil.

Depois, há o momento de encontrar a personagem, de encontrar a maneira certa para a interpretar. Aqui contei com a ajuda do Marco Medeiros, diretor de atores desta série e do Sérgio Graciano. Tivemos muito tempo de ensaios. Os ensaios com eles são sempre particulares, há quem goste e quem não goste. Eu gosto, mas não sei lidar muito bem com estes ensaios, porque estava meio desesperado, achei que não ia fazer esta personagem bem, estive para desistir não sei quantas vezes. Dizia “esta personagem não me está a correr bem, não é nada disto”. Achei mesmo que não ia conseguir, mas no fim encontramos o gingar dele, a maneira dele se expressar. Isto porque, eu não queria cair em boneco com esta personagem, ao caricaturar o gajo do stand da Margem Sul. È fácil cair na caricatura e fazer demais, o over. 

São pessoas reais, são jovens, homens reais, que estão na vida deles e por acaso concorrem ao casting e são escolhidos para uma boysband e a vida muda. Mas isso acontece todos os dias, nos talent shows, da televisão, como os “Ídolos” ou o “The Voice”. Todo este tipo de programas têm pessoas que não sabem cantar e acham que sabem cantar, todos têm pessoas que vão lá porque querem ser famosos, pessoas que querem aparecer na televisão. Por isso, preparei-me a ver tudo o que acontece a minha volta, que o que há mais é pessoas assim.

Houve a necessidade de falar com amigos, família sobre o fascínio que é criado à volta do universo das boysbands?
Não, porque falámos muito entre nós e com pessoas do meio, inclusive que pertenceram a boysbands. E assim que leram a história disseram: “isto é muito do que acontece. De repente há um casting, são escolhidas cinco pessoas e passas muito tempo com elas, a ensaiar, em digressões, no palco e são cinco estranhos, depois tens de lidar com as personalidades de cada um”.

E isso é a grande questão de “Da Mood”, porque são pessoas diferentes, com objetivos de vida diferentes. Aí está a dificuldade e por isso é que tem graça, pois as personagens estão ali a viver a vida, todo um drama, mas cá fora é engraçado.

Pintar o cabelo de loiro e rapá-lo fez parte da parte complicada do processo de personagem?
Não, porque me ajuda a mudar para a personagem. As mudanças físicas e de visual são bengalas, mas ajudam-me a encontrar a maneira de estar. Até a maneira de andar da personagem é completamente diferente de mim.

"A boysband é um tema intemporal, pois para as pessoas mais jovens as referências vão ser os D’ZRT ou os D.A.M.A. Para os mais velhos vão ser os Backstreet Boys."

Quais os pontos mais complicados do processo de criar personagens?
O criar as relações. Neste caso, com a Carolina Carvalho, que é a minha namorada, já temos uma relação que está desgastada, cansada. Criar isso tudo, toda a história para trás é um processo. Na série vemos isto a começar na boysband, mas todos têm uma vida para trás, têm relações e isso é que é o difícil e complicado. Nos ensaios demos uma credibilidade às personagens e fizemo-las existirem. Acho que isso foi a parte mais difícil e complicada, por ser necessário criar um background, de onde é que ele vem, porque é que ele está aqui.

Na prática, o que se faz em todas as personagens, mas esta como é uma coisa que queremos há muito tempo deu mais tempo para pensar e mais gozo fazer.

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créditos: © Filipe Feio

Tal como aconteceu com “Pôr do Sol”, a série “Da Mood” pretende conquistar mais jovens para a televisão portuguesa. Considera que a aposta está a resultar?
Eu acho que sim, é o que eu como público gosto de ver. Tive sorte de entrar no "Pôr do Sol" e entrar nesta, que a nós nos dá imenso gozo fazer. São séries contemporâneas e leves. Em Portugal fazemos muitas séries históricas, porque temos muita História. Lá fora faz-se muito conteúdo para malta jovem, coisas mais light, mas acho que não é necessário só conteúdo cómicos.

E acho que a boysband é um tema intemporal, pois para as pessoas mais jovens as referências vão ser os D’ZRT ou os D.A.M.A. Para os mais velhos vão ser os Backstreet Boys. Acho que é uma série para todos os tipos de público, não só para malta jovem.

"O mais importante, seja em séries, novela ou teatro, é ter uma boa equipa"

Do pouco que já foi desvendado no trailer, Rúben está envolvido no consumo de droga. Como é que foi a construção desse tema?
A droga infelizmente está muito presente nos jovens, como em saídas à noite. Acho que toda a gente já viu ou tem amigos e há muitos filmes sobre isso. O Rúben tem um problema de drogas, como muitos jovens têm problemas de adições. Com o estilo de vida que a personagem leva, entra numa espiral negativa durante a série toda, com a loucura toda eles começam a dar concertos, a ir em digressão, aquilo é todo um êxtase e euforia, o que leva Rúben a ir para um buraco.

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créditos: © Filipe Feio

“Da Mood” aborda temas como racismo e a violência doméstica. Quais os desafios em abordar estes assuntos numa série?
Estar informado, não falar só de maneira leviana. É uma responsabilidade falar sobre temas sensíveis. Acho que, já que estamos a falar deles e a retratá-los, é fazer da maneira mais real possível. Não é necessário exagerar, pode ser só um apontamento, é o que acontece no dia a dia, estamos a representar personagens reais e isso existe no mundo de hoje.

O nível de produção e o tempo de gravação desta série da RTP é muito diferente das novelas?
A maneira de gravar, como em Portugal não há muito dinheiro, temos de fazer tudo rápido, muitas cenas por dia. São um bocadinho menos cenas do que em novela, mas acaba por ser um grande volume de trabalho em pouco tempo, isso não muda muito. O que muda é o tempo de gravação, que são dois ou três meses de gravação e numa novela são nove ou doze meses a gravar.

Outra diferença, é que na série os episódios estão fechados. Em “Da Mood” são oito, há toda a história e a criação da personagem é feita do início ao fim. Enquanto a novela vai sendo escrita e há um dia que pode mudar tudo e o caminho que estava a ser criado para a personagem tem de ser mudado e adaptado. Neste sentido, acaba por ser um bocadinho mais ingrato.

Entre séries e novelas o que lhe dá mais gozo fazer?
Gosto de fazer as duas coisas. Dá-me gozo trabalhar desde que o projeto seja bom. Já fiz novelas que adorei, fiz novelas que gostei menos, o mesmo com séries. O mais importante, seja em séries, novela ou teatro, é ter uma boa equipa. É muito tempo de gravações e com uma boa equipa nem se tem noção do tempo a passar e há um ambiente incrível.

Na gravação deste tipo de séries, há uma maior vontade de gargalhada em comparação com as novelas? Ou como estão a representar o tipo de cenas não é relevante?
Na novela também há momentos para rir. Muitas das vezes, fazer comédia é algo sério. Por isso, não se acha graça ao que se está a fazer, mas quando a cena é bem escrita o todo é que tem graça e resulta. Mas claro que há vezes em que te partes a rir, há cenas com piada e no “Pôr do Sol” acontece muito isso, porque o texto tem muita graça. No caso de “Da Mood” são mais as situações.

da mood

Em “Pôr do Sol” e “Da Mood”, o ambiente nas gravações e a construção de personagem têm pontos em comum?
Encontro semelhanças no ambiente de gravações porque há muita gente da equipa que é a mesma. O Sérgio Graciano e o Manuel Pureza são muito amigos, já tinha trabalhado com eles nas “Linhas de Sangue”, no filme que os dois realizaram, conheço os dois.

A minha primeira novela foi coordenada pelo Sérgio Graciano e realizada pelo Manuel Pureza, que são muito bons a liderar equipas e têm muito sentido de humor. São duas pessoas com quem é bom trabalhar. O ambiente é ótimo, o Manuel é um bocadinho mais excitado que o Sérgio. Portanto, no “Pôr do Sol” há muitas atividades, como o colega da semana, o dia para ir de pijama, há muitas mais dinâmicas do que em “Da Mood”.

Com o “Pôr do Sol” houve maior popularidade junto do público, em comparação com outros tipos de trabalhos?
Foi igual. Falaram-me do “Pôr do Sol” quando me abordavam. Já tive muita gente a falar-me dos “Da Mood”. Acho que o “Pôr do Sol” foi uma porta, por ser do mesmo autor, Henrique Dias, as pessoas já tinham curiosidade de ver. Muita gente pensou “deixa cá ver é outra série da RTP com boa pinta”.

A imagem tá incrível, a também fotografia. Eu adoro a série, mas acho que isto trouxe uma nova lufada de ar fresco à RTP e as pessoas estão expectantes em relação a esta série.

A segunda temporada de “Pôr do Sol” já foi confirmada. Vai participar?
Vou participar, mas não muito. As gravações acabaram há pouco tempo.