O festival Woodstock ‘69 dispensa apresentações. Além de reunir grandes nomes da música como Jimi Hendrix, Carlos Santana, Joe Cocker e The Who, o evento foi o grande marco da contracultura e daqueles que usavam as suas vozes numa tentativa de se manifestarem contra a Guerra do Vietname.
Levado a cabo por Michael Lang, que morreu no passado mês de janeiro, o festival foi um desastre financeiro – as vedações foram derrubadas e ninguém pagou pelos bilhetes. Por causa disso, houve tentativas com o objetivo de o replicar, como em 1994, que nunca chegaram a dar frutos.
Contudo, pouco tempo depois, acabou por acontecer. 30 anos após a realização do evento original, surgiu o Woodstock ’99 – e é esta história que é contada no novo documentário da Netflix “Trainwreck: Woodstock ‘99”, que estreou no passado dia 3 de agosto.
As três décadas que separam os eventos refletem as mudanças pelas quais os Estados Unidos passaram. Uma delas foi o facto de a violência armada se ter voltado a fazer sentir no país, em especial com o ataque terrorista de Columbine a marcar o início dessa era. Por isso, embora Lang quisesse replicar o festival para voltar as atenções para o acidente, o objetivo também era fazer mais lucro do que havia conseguido com o anterior.
O recinto desta edição (uma base aérea desativada no estado de Nova Iorque) foi palco de nomes de peso, como Red Hot Chili Peppers, Alanis Morissette, Metallica, Creed e muitos outros.
No entanto, os episódios mostram que, como o título do documentário antecipa, o festival foi (novamente) um autêntico fiasco, uma vez que compilava todos os ingredientes propícios a um cenário caótico e perigoso. Não havia controlo em relação aos preços da comida vendida dentro do recinto, quem colhia o lixo deixou de aparecer para o fazer e não havia segurança suficiente para controlar as cerca de 400.000 pessoas que lá estavam presentes. Resultado? Além do consumo desenfreado de drogas, houve relatos de vários casos de agressão e até de abuso sexual.
Carson Daly, antigo apresentador da MTV, até recorreu ao Instagram para relatar, de forma breve, aquilo que viveu – e são memórias de muita violência. Na publicação, revela que a sua experiência “começou muito bem, a entrevistar as bandas todas junto ao palco", até que começou "a ser atingido com garrafas, pedras, isqueiros”. O caos, que se instalou depressa, fez com que o apresentador apenas pensasse no pior: “Tudo o que posso dizer é que pensei que ia morrer".
Como a experiência de Carson Daly há muitas e todas elas contribuíram para um final insólito: o festival acabou por ficar em chamas e a cereja no topo do bolo foi o facto de, ao entupirem, as casas de banho começaram a libertar excrementos, com os quais o público lutou entre si.
Afinal, muito mais do que mostrar um evento fracassado em todos os aspetos, “Trainwreck: Woodstock ‘99” traz a público o relato dos produtores, promotores, artistas e até de vítimas que viram tudo menos “paz, amor e música” naquele evento.