Atenção: este texto contém spoilers sobre "A Pequena Sereia". O filme chega às salas de cinema esta quinta-feira, 25 de maio. 

Se, tal como nós, for um fã da Disney, é provável que encare as releituras dos clássicos de animação com alguma relutância. Mas a nostalgia e a curiosidade, que andam de mãos dadas, falam mais alto e levam-nos até ao cinema mais próximo, na esperança de que estes filmes ressuscitem a criança que, em tempos, foi apaixonada por estas histórias.

Nem todos conseguem ser bem sucedidos nessa missão. Do live-action de "Mulan" ao de "A Bela e o Monstro", passando por "Pinóquio", ficámos sempre no limbo, sem conseguir saltar para o outro lado, porque sentimos que estas histórias não reuniam todos os requisitos para lhes estamparmos um selo de aprovação total – uns mais do que outros, diga-se de passagem.

No entanto, a nova adaptação de "A Pequena Sereia", que chega aos cinemas esta quinta-feira, 25 de maio, acabou por superar todas as expectativas. Do elenco, que não podia ter sido escolhido mais a dedo para este projeto, ao facto de jogar pelo seguro, sendo quase uma cópia do original, mas com mudanças que fazem todo o sentido, é caso para dizer que este filme traz o bom nome de volta aos live-actions da Disney. Espreite os quatro motivos que nos levaram a ficar fãs desta produção.

1. A premissa é fiel às suas origens

Não vamos ser hipócritas: se gostamos de uma história pela forma como foi contada, a tendência é que rejeitemos as mudanças que tenham influência no rumo que esta possa seguir. Felizmente, a premissa de "A Pequena Sereia" continua igual à de 1989, aquando do lançamento do original.

Nesta releitura do filme de animação, a vontade que Ariel (Halle Bailey) tem de conhecer mais sobre o mundo dos humanos não mudou. O primeiro contacto que temos com esta princesa dos mares é, à semelhança do original, no momento em que explora as embarcações naufragadas nas profundezas do oceano, longe do palácio onde vive com o pai, Tritão. Sempre na companhia de Flounder, que continua o mesmo peixe dócil (e medroso) – apesar de ter emagrecido uns quilinhos.

A paixão que sente por Eric, interpretado por Jonah Hauer-King, também permanece intacta. Este aspeto era o que mais nos fazia temer o live-action, uma vez que, ao longo dos últimos anos, houve quem se insurgisse contra o facto de a jovem sereia se ter apaixonado pelo príncipe demasiado rápido – e de, consequentemente, ter desistido da sua vida para se entregar aos braços de um homem que não conhecia. Mas, neste filme, têm muito mais em comum.

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créditos: Twitter

Agendas à parte, e a par da sequência narrativa, que permanece imutável e que vai culminar num acordo com a bruxa do mar, Úrsula, seguido de um final feliz, também as músicas (ou, pelo menos, a maior parte destas) contribuem para nos levar a uma viagem ao passado. Isto graças à junção das mestrias de Rob Marshall e Alan Menken, que estiveram aos comandos desta produção. 

"Fora do Mar" continua a ser cantada com emoção, dentro da gruta onde Ariel esconde tudo aquilo que vai recolhendo do mundo ao qual quer pertencer (o nosso). "Aqui no Mar", desta vez cantada por Daveed Diggs, que dá voz a Sebastião, continua a fazer-nos querer tirar o pé do chão, juntamente com todos os outros animais que contribuem para este momento musical, e "Pobres Almas Tão Sós" também nos faz regressar aos tempos em que tínhamos medo de Úrsula, a quem Melissa McCarthy dá vida.

2) Há acrescentos que fazem todo sentido

Já lhe dissemos que, caso tivessem existido, seríamos resistentes a mudanças que comprometessem a premissa original. No entanto, ficámos completamente fãs de todas os novos momentos que contribuíram para limar certas arestas com que o original contava, contribuindo para a trama de forma significativa – e que fazem deste o live-action mais longo da Disney, com mais de duas horas de duração.

A começar pela informação sobre a vida de algumas personagens, que a versão de 1989 deixou de fora. Por exemplo, só com a sequela "O Segredo da Pequena Sereia", de 2008, é que percebemos que a mãe de Ariel morreu às mãos de humanos. Mas, graças ao live-action, já não é preciso um segundo filme termos a certeza de que é por isso que a jovem está impedida de ir à superfície – e não porque Tritão nutre pelos terrestres um ódio sem fundamento.

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A vida de Eric também ganha novos contornos. Na animação, desconhecíamos as suas origens, os seus pais e que papel é que Grimbsy, além de conselheiro, desempenhava na sua vida. Temos resposta a tudo isto neste filme, já que Eric terá sido adotado aos 6 anos pela rainha Eleanora, aquando de um naufrágio que acabou por levá-lo até a este reino voltado para o mar – e Grimbsy, o primeiro-ministro, ajudou a cuidar dele.

Quanto à bruxa do mar, também temos mais informações sobre o seu passado. Finalmente, entendemos que o facto de querer destronar Tritão é mais do que uma mera sede de poder. É vingança. Isto porque o rei é seu irmão e, na sequência de problemas que Úrsula causava com o mundo dos humanos, exigiu que esta abandonasse o reino. Exilada há 15 anos, é em Ariel que encontra a chave para a mudança de vida – que acaba por não se concretizar, como sabemos.

3) O elenco (e Halle Bailey, especialmente) é genial

Voltemos o filme atrás e paremos em 2019, o ano em que Halle Bailey foi selecionada para interpretar a jovem sereia. Esta decisão rendeu-lhe inúmeras críticas, uma vez que, fisicamente, não se assemelhava à personagem. Apesar da instalação do ceticismo das massas (que, por vezes, resvalou para o racismo), a Disney não voltou atrás no veredito e ainda bem: não conseguimos imaginar Ariel mais perfeita que esta.

Halle Bailey tem a personalidade cativante, curiosa e dócil de Ariel – e, nos momentos mais tristes, sofre tanto ou mais do que a do original. No entanto, a melhor qualidade de todas é, sem dúvida, a voz, que hipnotiza como se de uma verdadeira sereia se tratasse. Não sabemos com quem é que disputou o papel na audição, mas percebemos o que terá levado Rob Marshall a afirmar que a atriz elevou a fasquia como ninguém.

Jonah Hauer-King, que interpreta Eric, também parece ter sido escolhido a dedo, já que reúne as características a que o príncipe nos habituou: um sorriso cheio de luz e e uma personalidade destemida, sem medo de entrar por águas não exploradas.

Já Daveed Diggs conseguiu reavivar o caranguejo Sebastião como ninguém, algo que fica patente com o seu sotaque exótico e as suas intervenções, que são de chorar a rir. O mesmo se pode dizer de Awkuafina, a voz da gaivota palerma que achava que Ariel queria matar o príncipe, aludindo para o conto de Hans Christian Andersen.

No entanto, Melissa McCarthy ficou um bocadinho aquém da interpretação de Pat Carroll, a atriz norte-americana responsável pela voz de Úrsula. Apesar de acharmos que não nasceu para fazer personagens com um cunho vilanesco, conseguiu, em certas partes, amedrontar-nos. Mas aquilo que é mesmo de louvar na sua prestação passa pela sua qualidade vocal, que transpunha a sede de vingança da personagem – e atenção, porque há gritaria com fartura.

4) Há ainda mais música

"A Pequena Sereia" é um musical. Como tal, qualquer acrescento à banda sonora é, literalmente, música para os nossos ouvidos (vá, tivemos de fazer este trocadilho). Especialmente se isso significar que temos a oportunidade de ouvir o canto de sereia de Halle Bailey mais vezes durante o filme.

Além da breve participação em "Aqui no Mar", onde a sua voz se funde com a de Sebastião, algo que não acontecia na animação, Ariel é a protagonista de mais duas canções. Uma delas é "Nunca Antes", que a jovem canta em pensamento, sendo que, por essa altura, já tem pernas, mas não tem voz. No fundo, é uma forma de partilharmos das sensações da sereia neste novo mundo – que experiencia coisas como o fogo e a gravidade pela primeira vez.

"Fora do Mar (Reprise III)" é outra das novas canções da protagonista – mais uma vez, cantada na sua cabeça. É através desta faixa que Ariel manifesta a tristeza que sente pelo facto de, no mundo dos humanos, nada estar a resultar como desejava. E as sereias podem não ter lágrimas, como dizia Hans Christian Andersen, mas conseguem levar os humanos a jorrá-las (fica o aviso).

A par destas adições à banda sonora, também o par romântico e os compinchas da sereia têm os seus momentos musicais. "Águas Não Exploradas" é o solo do príncipe Eric, que canta na tentativa de encontrar a jovem misteriosa que o salvou (e que, por essa altura, nem desconfia de que é Ariel). Já "Tagarelar" é interpretada por Scuttle e Sebastião, aquando do anúncio de noivado do príncipe com Vanessa, a bruxa mascarada. E prepare-se, porque é o último momento de galhofa, antes do começo da tempestade.