Esqueça os búzios, as borras de café, o tarot ou a leitura das linhas das mãos. A folha que nos apresentam está cheia de gráficos, cores, números e tabelas. Há também muitos caracteres chineses, mas já lá vamos. Falam-nos em astrologia mas ainda ninguém mencionou signos, ascendentes ou expressões como "casa sete em Júpiter", seja lá o que isso for. Por outro lado, pedem-nos o ano, o mês e a hora precisa de nascimento. Isto está a ficar um pouco confuso, não está? Para nós também.
“A astrologia pode ter muitas formas”, avisa Bárbara Ruano Guimarães, “e eu uso uma delas, o Ba Zi”. Pronto, já temos por onde começar esta viagem ao desconhecido.
Esta terça-feira, 29 de maio, a MAGG encontrou-se com Bárbara Ruano Guimarães para uma sessão de Ba Zi — uma derivação da astrologia tradicional criada há mais de cinco mil anos na China. Se formos ao significado literal, Ba Zi significa “oito caracteres”, porque, segundo esta abordagem, são os oito caracteres que resultam da análise que permitem perceber a identidade de cada indivíduo. Ainda está confuso, não está?
“Eu percebo, não é fácil”, garante Bárbara, de caneta em punho, a fazer o cruzamento de dados já sem ter que recorrer a cábulas de interpretação de energias em forma de caracteres chineses. Estamos num café do Bairro Alto, bem perto da redação. A terapeuta não tem escritório, e muitas vezes os encontros acontecem em cafés perto de casa ou do trabalho, onde seja mais conveniente. Acaba por ser positivo: muitas vezes as pessoas preferem um campo neutro, para não sentirem que estão a ir a uma consulta.
Bárbara vivia numa eterna busca por saber mais e mais sobre o homem e os seus comportamentos. “Eu sempre quis perceber o porquê das coisas, acho que tudo na vida acontece por uma razão e, para mim, era difícil perceber a razão para umas pessoas serem felizes, outras mal sucedidas e por que é que umas coisas funcionavam com uns e não com outros”, explica. Esta constante busca resultou num livro — “O Poder de Saber” —, que complementa o trabalho que tem feito enquanto especialista em Ba Zi.
“Um astrólogo pode fazer com o ADN de cada pessoa o que quiser. Pode ler vidas passadas, estudar relacionamentos e até prever o futuro”, explica Bárbara, que preferiu usar a arte que aprendeu em formações um pouco por todo o mundo para orientar comportamentos. O ADN aqui é energético, “é tudo aquilo que realmente somos”, completa Bárbara. Este ADN pode ser potencializado ao longo da vida ou, por outro lado, ser apagado por tudo o que funciona à volta do indivíduo, principalmente para aqueles com uma personalidade menos vincada. “Eu pego naquilo que a pessoa é e uso isso para orientá-la no melhor caminho. Se eu vir que a pessoa não tem a mínima aptidão para o marketing, por exemplo, talvez seja boa ideia deixar de forçar aquele curso que está por acabar há anos, certo?”, usa Bárbara como exemplo.
Querer saber mais
Bárbara trabalhava até há pouco tempo como arquiteta, uma profissão demasiado racional para quem procura respostas mais além. Acabou por aprofundar conhecimentos sobre o Feng Shui, até que percebeu que também não era por aí que ia encontrar todas as respostas.
Em termos metafísicos, explica, existe a energia do homem, da terra e do céu: a do homem é aquilo que fazemos, as nossas tradições, a nossa envolvente; a da terra é o Feng Shui, é estarmos de acordo com o meio em que estamos envolvidos. A do céu é a astrologia. “Quando temos sucesso é porque as três coisas estão a funcionar a nossa favor”, conclui a terapeuta.
A este rol de formações mais metafísicas, Bárbara especializou-se em coaching, “no levar uma pessoa do ponto A ao ponto B”, explica. “É mais fácil fazer esse trabalho quando conhecemos esse tal ADN energético, que nos ajuda, por exemplo, a escolher a melhor profissão para o meu perfil ou, em termos mais pessoais, saber se devo procurar uma pessoa com um perfil de liderança ou de cuidador, por exemplo”.
Como Ba Zi em Portugal (ainda) é chinês — desculpem, não resistimos a esta piada — Bárbara decidiu criar uma aplicação, na qual qualquer pessoa pode inserir os seus dados e fazer a sua carta. Para um trabalho mais minucioso, nada como uma consulta personalizada ou, se der uma de autodidacta, usar o livro que Bárbara escreveu como apoio aos resultados gerados pela app.
Então e como é que eu me oriento?
Como tabelas, números e gráficos é algo demasiado ‘métodos quantitativos do décimo ano’ para mim, precisei da ajuda da Bárbara para ler os resultados da minha carta.
Rabisca, faz cruzamentos, desenha setas, circula o mais importante. Para o processo e começa a debitar. Aparentemente, desde o ano passado que está aberta a janela para filhos e nunca faltará uma presença masculina na minha vida (ai se o Ba Zi me tivesse dito isto naqueles momentos do 'pronto-vou-ficar-sozinha-para-sempre'...). Não gosto de rotinas, não preciso de muitos amigos e não sou de investir dinheiro. Tenho espírito de líder, mesmo que não me vejam assim. Sou intuitiva e basta o primeiro contacto para perceber se me vou ou não dar com alguém. (Parênteses para afirmar que estou apenas a debitar informação, não me estão a ver a acenar afirmativamente com a cabeça a tudo).
Então e aquela linha azul que se destaca de todas as outras? "Não é de propósito, juro, mas uma das profissões mais indicadas para quem tem o elemento água muito forte é o jornalismo", garante Bárbara. Menos mal.