Sarita é a nova Anita, a figura incontornável dos livros infantis que, na sua versão original tinha chamava-se, na verdade, Martine. Nomes à parte, Sarita vai ser protagonista de uma nova coleção de livros na qual assume muitas das características que tornaram Anita numa figura tão marcante — como a vontade de aprender e de experimentar coisas novas. A diferença é que esta nova versão está atenta ao contexto social, às problemáticas e às preocupações comuns do século XXI.
Na nova coleção, Sarita apresenta-se como uma criança rebelde — Rebelde aqui é mesmo o seu apelido — onde nada mais importa do que o seu sonho. Num comunicado enviado às redações, a protagonista da história é apresentada como "uma menina muito curiosa e decidida" que se vê a braços com o dilema de não saber o que quer ser quando for grande.
"Na escola, chegou o dia das profissões e Sarita, que já quis ser pastora e vendedora de gelados, quer agora ser médica, arqueóloga e até astronauta. Mas nem todos concordam que seja possível", lê-se no comunicado de apresentação do livro com autoria de Lúcia Vicente — cuja ideia para a personagem surgiu em meados de 2018 enquanto lia uma história à filha.
"Tinha estado a ler um livro da Anita à minha filha e afligiu-me o modelo conservador e irreal que era oferecido às crianças", conta à MAGG, referindo que terá sido nesse momento que teve a ideia de criar uma coleção semelhante à da "Anita". A diferença? Oferecer uma história em que as personagens fossem "mais realistas, e ajudassem realmente as crianças nos desafios que têm de encarar todos os dias".
É que para Lúcia Vicente, há muitos números da coleção original que "mostram um modelo obsoleto do que se espera de uma rapariga e de um rapaz" e, por isso, "já não fazem sentido". E continua: "Acima de tudo, perpetuam um modelo de género com o qual as mães da minha geração já não se identificam e consequentemente não querem perpetuar e passar aos seus filhos."
Mas a autora não esconde a sua veia ativista e feminista que pretende, aliás, trazer para as histórias que quer contar através da rebelde Sarita.
"Como ativista feminista pretendo normalizar situações que na nossa sociedade ainda são vistas com algum preconceito, como o facto de se achar que as meninas não saberem jogar futebol e os rapazes não sabem dançar, por exemplo", explica.
No entanto, garante que isso só é possível se a palavra de ordem for inclusão. E também por isso criou uma personagem masculina que terá algum protagonismo. Só assim, defende, será possível criar uma "coleção mais abrangente, mais inclusiva, que pretenda desconstruir preconceitos vigentes que são passados de pais para filhos e com os quais algumas crianças sofrem diariamente."
Daí que o nome de família de Sarita (Rebelde), não tenha sido escolhido ao acaso. Por considerar que uma pessoa rebelde é, acima de tudo, uma pessoa insurgente, revolucionária e que não tem medo de lutar pelos seus ideais, Sarita parece incorporar todos os elementos necessários à procura de um futuro igualitário.
"Na história, é fácil ver a forma como os pais de Sarita apoiam os filhos, aceitando-os da forma como são e educando-os para um futuro mais igualitário e que o sexo biológico não deve ser impedimento para lutar pelo que se sonha. E este é o modelo de família que gostaria que existisse e que fosse vigente: uma família que aceita todos os aspetos da personalidade dos seus membros e que os apoia incondicionalmente", refere.
É por isso que, embora Sarita adore as suas sapatilhas cor de rosa e goste de dançar ou brincar com bonecas, "também gosta de jogar à bola, de subir a árvores e de correr desenfreada pelo campo fora." Nesse sentido, Sarita é "uma rebelde com causas", numa história onde o objetivo não é inverter papéis. "Apenas completá-los", conclui Lúcia Vicente.
A coleção "Sarita Rebelde" é composta por dois livros ("Sarita Rebelde Quer Ser Astronauta" e "Sarita Rebelde no Recreio") ambos com história de Lúcia Vicente e ilustrações de Cátia Vidinhas. Ambos são editados por Nuvem de Letras e custam 9,90€ cada.