O Prémio Leya, que tem como objetivo "promover a ficção lusófona e a emergência de novos autores", não vai ser entregue a nenhum escritor na edição de 2019. A decisão foi tornada pública esta terça-feira, 29 de outubro, pelo júri responsável pela triagem e seleção de vencedores.

Em comunicado, o júri presidido por Manuel Alegre explicou os motivos para o resultado da deliberação: "O Júri do Prémio Leya de 2019 reuniu hoje, 29 de outubro, na sede da Leya, em Alfragide. Confirme previsto no artigo 9, alínea f) do regulamento, o júri deliberou, por unanimidade, não atribuir este ano o Prémio Leya, por entender que as obras concorrentes não correspondem aos parâmetros de qualidade literária exigidos pelo prémio."

Com o valor de 100 mil euros, este é considerado o prémio mais alto na distinção de um romance escrito em português. Mas embora o número de participantes tenha aumentado de ano para ano, esta não é a primeira vez que o júri não consegue encontrar um vencedor.

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Em 2010 e 2016, nenhuma das obras que foram a concurso foram capazes de surpreender os jurados e o prémio ficou sem dono. A MAGG contactou o poeta Manuel Alegre, atual presidente do Júri do Prémio Leya, que diz que há parâmetros essenciais para que um romance possa sequer vir a ser elegível para a corrida ao galardão.

"Os parâmetros, ou critérios, são a história, a estrutura da narrativa, a densidade das personagens e a qualidade da escrita", revela. 

Mas a verdade é que chegaram três autores à fase de finalistas e são eles Carlos Cavalieri, Marco Gregoria e Diana Pena. Quanto questionado sobre como não foi possível chegar ao vencedor final após a seleção de três finalistas, Manuel Alegre recorda que o regulamento do concurso permite, em caso de não cumprimento de todos os critérios, proteger o prestígio do prémio.

"Ao júri são apenas submetidos os finalistas, resultantes de um exaustivo trabalho de leitura e seleção. Este ano, de um máximo de dez finalistas previstos no regulamento, chegaram-nos três, nenhum dos quais o júri considerou serem merecedores do prémio. No nosso entender, a possibilidade, prevista no regulamento, da não atribuição de um prémio desta importância, permite proteger o seu prestígio e a qualidade literária das obras que, no futuro, venham a concorrer e a ganhar", explica.

Sobre o que poderá ter falhado nas obras submetidas pelos três concorrentes, o poeta português remete para a declaração do vencedor do prémio da edição passada — atribuído a Itama Vieira Júnior pelo romance "Torto Arado".

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"O Prémio LeYa 2018 é atribuído ao romance 'Torto Arado', de Itamar Vieira Junior, pela solidez da construção, o equilíbrio da narrativa e a forma como aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas, na sua liberdade e na violência exercida sobre o corpo num contexto dominado pela sociedade patriarcal", conta.

E continua: "Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão, quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor. Todos estes motivos justificam a atribuição por unanimidade deste prémio."