Quantas vezes já deu por si a ouvir canções pouco felizes em momentos em que se sentia mais em baixo? É perfeitamente normal, segundo um estudo realizado pela Universidade de Berlim, na Alemanha. Mas não é o único e há várias outras investigações que revelam que esta é uma prática capaz de trazer benefícios à saúde mental de cada um — já que as emoções que são despertadas na mente dos ouvintes durante uma música triste são, regra geral, de natureza positiva. Uma sensação de paz, nostalgia e de encantamento pela vida são só algumas das sensações registadas pela ciência.
Embora possa parecer contraditório, a verdade é que ouvir aquelas canções mais melosas que o façam pensar na última relação especial que não deu certo é só um sinal de que é uma pessoa empática. Foi a pensar nisso que o Spotify, o serviço digital de música em streaming, fez uma listagem com as músicas mais tristes de sempre. Das mais de 35 milhões faixas do catálogo da empresa, foram cinco as canções escolhidas — desde 1958 até hoje.
O processo de seleção foi baseado num algoritmo muito específico que identificava o tipo de melodia com uma pontuação de zero a um. Em declarações exclusivas à "BBC", um representante da plataforma revelou que as canções com uma avaliação acima de zero eram entendidas como músicas mais positivas, alegres ou eufóricas. Já as de pontuação igual a zero transmitiam um estado de espírito assente em "negatividade, tristeza, depressão e, por vezes, raiva", lê-se na declaração oficial.
Só que há um problema ao colocar um algoritmo informático a avaliar canções com base nas sensações que possam despertar nas mentes dos ouvintes: por se tratar de um processo meramente matemático, há uma grande possibilidade de o algoritmo falhar por não ter em consideração as experiências passadas ou o estado emocional do ouvinte face àquela canção em específico.
Além disso, esta ideia não é nova e já tinha sido testada antes quando, em 2017, Charlie Thompson, um especialista em análise de dados informáticos, tentou identificar as canções mais tristes e alegres dos Radiohead — a banda britânica de rock alternativo e eletrónica.
Em entrevista ao jornal espanhol "El País", o analista revelou que ainda é "muito difícil para uma máquina saber a nostalgia que certas canções possam evocar". A explicação é simples, e prende-se com o simples facto de o programa informático não ter as mesmas "habilidades humanas para conhecer o contexto que envolve uma determinada pessoa e as suas memórias recentes", revela.
E isso nota-se nesta listagem efetuada pelo Spotify, onde duas das canções (as dos artistas Roberta Flack e Larry Verne) são tudo menos tristes: enquanto a primeira é uma simples canção de amor, a segunda é uma comédia em forma de canção que aborda a história de um soldado que se recusa a ir para a guerra e lutar.
À BBC, a plataforma digital justificou a listagem destas cinco canções como as mais tristes de sempre através de um algoritmo avançado que terá tido em consideração não só as letras, mas também o tema abordado e o estado de espírito que poderia invocar no ouvinte. E só isso é talvez motivo mais do que suficiente para justificar a presença da canção de Larry Verne.