Se me perguntarem qual a primeira memória musical que tenho, a resposta está na ponta da língua: “Songs from the Wood”, dos Jethro Tull. Tenho a certeza absoluta que antes de ouvir esta música no carro com o meu pai, ouvi muitas mais coisas, desde canções de embalar à cantilena do Vitinho — mas esta ficou colada na mente até à data.
Gosto de música, embora não tenha qualquer aptidão para cantar, e de cada vez que penso em como ela entrou na minha vida, recordo-me sempre do meu pai. No carro estavam sempre cd’s dos Pink Flyod, dos Genesis, do Rui Veloso, do Bryan Ferry e até dos Vangelis (sim, Vangelis, não vamos falar sobre isso), lembro-me de acordar aos fins-de-semana com o som da aparelhagem da sala e do primeiro cd que o meu pai me comprou, um álbum dos Onda Choc, cujo single era a canção “Estou Apaixonada”.
E, afinal, posso não ser a única a ligar as minhas (boas) memórias de infância musicais aos meus pais. De acordo com um estudo norte-americano, os pais que partilham experiências musicais com os seus filhos podem vir a construir uma melhor relação com estes mais tarde na vida.
A música aproxima as pessoas — e também pais e filhos
O estudo da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos da América, teve como amostra um grupo de jovens adultos, com uma idade média de 21 anos. Os investigadores questionaram o grupo acerca das suas experiências musicais com os pais durante a infância e adolescência, incluindo ouvir música, assistir a concertos e tocarem instrumentos juntos.
“Se os pais tiverem filhos pequenos e ouvirem música juntos, este é um hábito que ajuda a aproximá-los e, no futuro, vai fazer com que tenham uma relação mais próxima”, declarou Jake Harwood, um dos co-autores do estudo e diretor do departamento de comunicação da Universidade de Arizona, no contexto da investigação.
O estudo descobriu que a música teve um impacto positivo nas relações entre pais e filhos devido a dois fatores-chave: coordenação e empatia.
Segundo os investigadores, partilhar interesses musicais pode fazer com que pais e filhos sintam que têm gostos semelhantes, bem como outros gestos. Jake Hardwood explicou que “se os pais ouvirem ou tocarem música com os filhos, isto pode levar a atividades sincronizadas como dançarem e cantarem em conjunto, sendo que os dados demonstraram que estes hábitos podem fazer com que ambos sintam mais carinho e amor uns pelos outro”.
Partilhar experiências musicais tem mais impacto na adolescência
A música também é responsável por causar outras emoções, como a empatia, por exemplo, e é essa a razão que leva a que as melodias possam ajudar pais e filhos a construirem uma melhor relação.
Sandi Wallace, investigadora principal do estudo e membro da Universidade do Arizona afirmou que “muitas pesquisas recentes focaram-se no porquê das emoções poderem exprimir-se e revelarem-se através da música, e como esta pode perpetuar a empatia e as respostas em relação à pessoa com que costumamos ouvir música”.
Os autores da investigação também notaram, no decorrer do seu estudo, que as experiências musicais entre pais e filhos tinham mais impacto quando ocorriam durante a adolescência. De acordo com os investigadores, isto acontece porque os jovens adultos consideram experiências nessa altura da vida mais relevantes ou porque eram mais recentes.
“Se tem filhos adolescentes e consegue ouvir ou partilhar experiências musicais com eles, isto vai ter um forte impacto na vossa relação futura e na perceção do jovem da vossa relação enquanto entra na vida adulta”, afirmou o diretor do departamento de comunicação da universidade.
Assim sendo, partilhar momentos musicais com os seus filhos pode ser uma boa estratégia para construir uma melhor e mais próxima relação no futuro. Aproveite todos os momentos para o fazer e pode sempre recorrer à estratégia do meu pai e colocar as crianças a desenvolverem o gosto pela música enquanto estão no carro. Mas faça-se um favor e deixe os Vangelis de lado.