Corria agosto de 1998 e Lauryn Hill, membro dos Fugees, lançava o primeiro e único álbum a solo da sua carreira: "The Miseducation of Lauryn Hill", de onde nasce o clássico do R&B "Doop-Woop (That Thing).

Não é que tenha corrido mal: saltou rapidamente para o primeiro lugar para o Billboard 200, nos Estados Unidos e, só na primeira semana, vendeu cerca de 400 mil cópias — valor que a fez bater o recorde da artista feminina a vender mais na primeira semana. Mais: na 41.ª edição dos Grammy Awards, o álbum foi indicado em dez categorias, tendo vencido em cinco — incluindo Melhor Álbum do Ano e Melhor Álbum de R&B. 

Daí ser tão estranho: é que depois deste álbum, nunca mais o trabalho da artista ganhou forma num disco a solo. Nunca mais lançou nada. Mas há um motivo.

Mais de 20 anos depois, Lauryn Hill, fala sobre esta fase da sua vida no podcast "Rolling Stone's 500 Greatest Albums", da revista "Rolling Stone", que elegeu o seu primeiro e último trabalho fora dos Fugees como o 10.º melhor de todos os tempos.

E revela o motivo pela qual, depois deste gigantesco sucesso, nunca mais lançou nada a solo. É simples: não lhe deram a oportunidade. "O mais louco é que ninguém da editora me ligou e perguntou: 'Como é que te podemos ajudar a criar um novo álbum?'", revelou. "Nunca, nunca."

Agora com 45 anos, o ex-membro dos Fugees admite ainda que se sentiu usada como artista e negligenciada como pessoa. "Com ‘Miseducation’, não havia nenhum precedente. Eu estava, na maior parte, livre para explorar, experimentar e expressar. Depois de ‘Miseducation’, havia uma série de obstrucionistas com tentáculos, políticas, agendas de repressão, expectativas surreais e sabotagens por todo o lado", conta.

E continua: "As pessoas tinham-me incluído nas suas próprias narrativas dos seus sucessos no que dizia respeito ao meu álbum, e se isso contradizia a minha experiência, eu era considerada uma inimiga."

A artista fala ainda sobre o peso e significado de "Miseducation" que, considera, desafiou a norma e introduziu um novo padrão: "A minha intenção era simplesmente fazer algo que fizesse as minhas ancestrais e os meus ancestrais na música e no conflito social e político saberem que alguém recebeu o que eles sacrificaram para nos dar. E também para fazer ver aos meus colegas que podemos andar nessa verdade, com orgulho e confiança", disse.

"Naquela época, eu sentia que era um dever e uma responsabilidade fazer isso. Eu desafiei a norma e introduzi um novo padrão. Eu acredito que ‘Miseducation’ fez isso e eu acredito que eu ainda faço isso — desafiar a convenção quando a convenção é questionável."